sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

BEIRA DE ESTRADA (177)


O AGIOTA E O CARNAVAL

Nesta semana, faltando sete dias para o Carnaval acontecer e o de Bauru, o que um dia já foi considerado o melhor do interior paulista, hoje claudica e ainda incerteza em saber se escolas de samba e blocos receberão o valor a eles destinados pelo poder público. Tudo culmina numa desorganização planejada, pensada e a ocorrer exatamente para, mais e mais, desastabilizar a festa popular não religiosa. Uma pouca vergonha de caráter institucional. Quem deveria ter aberto editais lá atrás, com planejamento e organização não o fez e assim, ano após anos, tudo é feito na bacia das almas. Numa semana decidem que não haverá mais arquibancadas, noutra, após estas serem conseguidas junto ao Governo do Estado, numa benesse sem precedentes, elas pelo visto serão levantadas para abrigar sentadas aproximadamente 8 mil pessoas. São feitos não possíveis de comemoração, pois a sucessão de pisadas na bola suplanta tudo.

Então, como escrevi acima, faltando sete dias para o desfile ocorrer, não entrou na conta de nenhuma agremiação o valor correspondente e prometido pelo poder público municipal. Tudo incerto e agora, na última hora, mais uma nova regra, a da apresentação de planilhas de anos anteriores. Ou seja, tudo conspira contra a festa. De um carnavalesco de escola, este nos preparos para sair nas ruas, acreditando piamente na possibilidade de receber, ouço história aterradora. "Grande parte das escolas e blocos não possuem dinheiro para a festa e cientes do que irão receber, fazem dívidas dentro deste valor. Se utilizam de cartões de crédito de todos os próximos, carregando-os dentro de seus limites. Quando isso não é mais possível, alguns já estão com estes valores comprometidos com agiotas. Estes não perdoam. Emprestam a juros exorbitantes, tudo feito dentro do dinheiro ainda a ser recebido. Agiota, como se sabe, são implacáveis em tudo e se o valor a ser recebido já era baixo e insuficiente para produzir um carnaval de bom nível, parte considerável deste valor sendo deixado nas mãos destes, imagine como algumas escolas e blocos sairão para as ruas?", é o questionamento feito por ele a mim.

Ouço incrédulo. Não que o ouvido fosse alguma novidade, mas se eu já a conhecia, imagina quem vivencia este negócio chamado carnaval. Pior que tudo é o pessoal da SMC - Secretaria Municipal de Cultura e a própria Prefeitura de Bauru, ciente disso estar ocorrendo, não ter feito nada, não ter agilizado e buscado uma solução para evitar essa catástrofe. E como tudo o que está ruim, pode piorar, ouço que, provavelmente os valores destinados para escolas e blocos podem até não acontecer. Bote tudo isso dentro de um liquidificador e tente extrair algo de positivo e emancipativo para o evento Carnaval bauruense. Se conseguir, explicite aqui, pois vejo uma tragédia se anunciando logo ali na curva da esquina.


APROXIMAÇÕES
Muito me encanta isso do que faço ir possibilitando conhecer novas pessoas e com estas ir travando novos diálogos. São as maravilhas deste mundo, cada vez mais apartando pessoas. Ontem, saiu matéria sobre o bloco do Tomate no JC Cultura e logo que leu, dona IONE, liga e conversamos como fossemos velhos conhecidos e amigos. Adoradora do evento Carnaval, diz não poder ficar de fora e que queria a camiseta não só para usar na festa, mas para usar no dia a dia. É de Borborema e circula muito numa casa de sua família numa das praias paulistas. O papo se estendeu e ficamos quase uma hora parlando ao telefone. Não deu outra, me predisponho a ir entregar pessoalmente e na chegada em sua casa, na quadra dois da rua Domingos Pletti, ali perto da rua Sorocabana, beirada dos trilhos urbanos, chego e me encanto com sua campainha. Na casa não existe campainha e sim um sino, pendurado bem na frente da casa. Essa a forma mais adequada para chamar seus moradores para ver o que acontece na rua. Ela veio, falamos do sino, de sua cidade natal, Borborema e de suas idas e vindas numa casa de praia da família, onde pretende desfilar com a camiseta do Tomate. Eu me encantei com tudo, enfim, as pequenas coisas são arrebatadoras e aquele sino me demonstrou muitas coisas, algo da singeleza com essa senhora toca sua vida. Seu sorriso me arrebatou e disse, fará o possível e o impossível para voltar da praia na sexta próxima, a tempo de desfilar pela primeira vez no Tomate, na manhã de sábado, dia 10/2. Ela me rendeu essa historinha, ela e seu sino pendurado lá na frente de sua casa, algo que para muitos pode parecer sem sentido, mas para mim, fonte rendendo boas conversas e histórias. Dona Ione é a mais nova tomateira do pedaço e vê-la estampando na face esse rosto alegre, diz muito da necessidade de conversarmos mais e mais, nos entendermos nos pequenos detalhes, deixando de lado as arestas e também festar, esgrimar juntos e unidos contra as injustiças desta vida

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