terça-feira, 19 de março de 2024

AMIGOS DO PEITO (223)


DISSE ADEUS AO MAFUÁ DO HPA
Este mais um ciclo encerrado em minha vida. Foi muito doloroso no final. Primeiro, a residência dos meus pais desde os anos 70 - lembro-me de ali assistir a Copa de 70 -, depois a vida toda deles ali, minha infância e tudo o mais que veio pela frente. Fui e voltei, até o momento quando partiram os pais e a casa ficou, dentro da partilha do inventário, para mim. Cuidei dela muito bem no início, levando para lá todo meu acervo, coleção de anos e anos, mas as enchentes não deram trégua e muita coisa foi perdida. Levantei um espaço grandioso, onde pude desfrutar de momentos inesquecíveis por ali. O bloco do Tomate fazia ali suas festas, o Núcleo de Base do PT onde militou trouxe debates grandiosos para o espaço. Ou seja, no todos, entre reuniões, festas e a ampliação do acervo, o Mafuá fervia e acontecia. Teve seu tempo e eu envelheci e fui me cansando. Quando veio a pandemia já me encontrava num estágio onde abandonei de cuidá-lo a contento e ele foi se deteriorando. Sempre foi a residência oficial do meu fiel cão Charles - nome dado por meu pai -, primeiro parceiro de meu pai, depois meu e de todos os que ali passavam. Abrigou de tudo um pouco e terei para todo o sempre carinho mais do que enorme pelo lugar e por tudo o ali vivenciado.

Consegui um outro espaço e removi o que pude. Coloquei a casa à venda e por mais de dois anos uma placa permaneceu fixada no seu portão. Demorou, muitos me fizeram propostas, mas nenhuma me arrebatou. Não que a atual tenha conseguido, mas preferi fazer o negócio e na última sexta, 16/03, fechei o negócio, tirei tudo o que pude e bati asas. Demorei para escrever e creio eu, ainda não assimilei a perda. Estando em Bauru, lá estava, ao menos duas vezes no dia, primeiro para estar com o Charles e depois para curtir tudo o que nela sempre me acompanhou. Hoje, tudo já é saudade. O Mafuá se foi e agora estou ainda montando e dando minha cara um novo Mafuá, muito menor, mas meu canto, pelo menos onde ainda de uma forma privilegiada irei revirando minhas coisas todas pelo avesso, tocando a vida e fazendo o que gosto. Aquilo tudo daria um livro, que talvez até escreva, pois foi mais do que uma vida ali contida. Hoje, já estou em outra, mas muito dos meus pensamentos continuam gravitando sobre minha existência naquela quadra 1 da rua Gustavo Maciel. Muita saudade, mas muita esperança de continuar e tocar com muita vitalidade meus projetos e sonhos. Foi-se o que era doce...

DOIS AMIGOS...
Eu adoro escrever de gente, quanto mais de amigos. Tudo nesta vida é muito mais agradável quando vivenciado ao lado de pessoas queridas, dessas sem decepção. Tenho o privilégio e prazer de ter algumas podendo assim denominar. Isso é um encanto. E com cada uma delas muitas histórias. Alguns há pouco tempo, outros mais e em cada reencontro um algo novo, um relato a ser destacado. Eu construo histórias com todos meu amigos, algo como li um dia na abertura do livro/romance "Viva o Povo Brasileiro", do baiano João Ubaldo Ribeiro: "O segredo da verdade é o seguinte: não existe fatos, só existe histórias". Eu gosto muito de histórias, mas também não renego e nem desprezo estórias. Essas todos me consomem. Vivencio tudo o que tenho pela frente como um esbarrão de vida pra ser consumido intensamente. Isso me move e me leva adiante. Eu sou tocado pela história dos outros, principalmente a dos mais fracos, a dos oprimidos e outro dia um cara foi lá no Mafuá, quando estava desmontando tudo e disse isso a ele, desse meu envolvimento e comoção com a história do outro. Falamos sobre os em situação de rua e ele me disse algo muito triste, pelo qual não quero nem assimilar, pois não gostei. "Cuidado, pois se ficar se preocupando muito com estes, vai terminar como eles. Dê atenção, mas não desmedida", me disse. Eu não penso assim e nem quero ser excludente, ou mínimo, deixar de olhar os numa condição iferior ou pior que a minha, sem querer mudar este mundo pra melhor.

Mas posto foto de dois diletos amigos, tiradas dias atrás. Um do último domingo, quando pai Lulinha, o sindicalista Aguinaldo Anastácio Da Silva Silva me arrebatou novamente para a beirada de um riacho, nos fundos do Vale do Igapó, tudo para tomar um passe na Umbanda. Fui e, mesmo sendo descrente da religiosidade, vi que, ele munido das melhores das intenção, me proporciona algo mais do que bom. Só por ter se deslocado junto de mim para, juntos numa tarde de domingo, travarmos algo pensando no meu bem pessoal, isso me encanta e me deixo levar. Aguinaldo já vivenciou de tudo nesta vida e a cada reencontro, suas histórias me arrebatam. Ele um dia foi esteve um Cuba, tempo de sua militância num movimento mais fenétrico, morou em lugares indescritíveis em Sampa e arredores. Sair com ele é também ouvir suas histórias, seus relatos e isso tudo me encanta. Fiz um dia uma entrevista com ele para meu Lado B e percebo que, deixei muita coisa sem sem abordado. Ele tem muita coisa pra nos contar e ensinar e o melhor de tudo de estar com amigos é isso, aprender sempre algo novo.

Roberto Pallu é um amigo recente. Era conhecido, mas contato mesmo tivemos ano passado, quando juntos tocamos um projeto coletivo dentro do edital contempaldo na Lei Paulo Gustavo. Foi uma inolvidável convivência, onde em primeiro lugar, aprendi muito, pois quando vi numa cidade a possibilidade de realização de um belo trabalho histórico, teria queconvidar como parceiro alguém conhecedor de todos os meandros do tal audiovisual. Este danado é expert no assunto e quando convidado, não pensou duas vezes, tocamos o barco juntos e nos aproximamos. Eu aprendi mais com ele, do que ele comigo, mas creio não ter se decepcionado. Quase construimos outros projetos juntos e agora, outros no prelo e nos planos. Ele é crica, mas sabe o que faz e o vejo como pessoa sincera, já tendo vivenciado infinidades de campanhas políticas, como publicitário e entendido em fazer/construir dessas coisas. Gosto de quem, mesmo tendo vivenciado de tudo, não fica falando mal de quem já tenha trabalhado junto. Pallu age assim e isso o engrandece como pessoa humana. Eu estou no momento extraindo um nectar dele, algo que não sei. Outro dia um amigo me disse que tenho que fazer essas coisas, aprender e depois fazer eu mesmo. Não tenho essa pretensão. Não tenho mais idade para isso. Quero fazer o que sei fazer, do meu jeito, mas ouvindo os outros, aprendendo, mas não querendo tomar o lugar de ninguém. Isso pode retardar eu chegar aos píncaros da glória, mas foda-se, sou assim e dou um passo de cada vez. Tem horas que dou muitos para trás, mas tenham certeza, não piso em ninguém. Isso conta muito no meu currículo de vida.

Tive vontade de escrevinhar algumas linhas destes dois, após as duas fotos tiradas deles, de Lulinha na beira do riacho onde tomei meu passe e do Pallu, quando le entrego uma touca com a iniciais NY, trazida para ele de minha última viagem. Tem outros tantos aqui para escrever algumas breves linhas e vou tentando preencher essas lacunas diárias com algo aqui guardado dentro de mim. Baita abracito do tamanho do mundo pra esses dois e todos os demais, meus diletos amigos e amigas.

MEU RETORNO PRA IACANGA, ALGO PRO FUTURO, REVENDO UMA PADARIA E NELA, LEMBRANÇAS DO MUCHACHO
Estive algumas vezes em Iacanga. Uma bela cidade. Fui mais nos tempos quando vendia minhas chancelas. Na tal prainha fui pouco, nem tenho lembranças de lá - de Arealva tenho mais. Voltei lá pelos idos de 2019, junto de Ana Bia e de Patricia Caju, quando essa estava apresentando um projeto divinal de levar Monteiro Lobato pras escolas. Quem nos levou até o pessoal da Cultura Municipal, Sueli Amorim, foi o então vereador Muchacho, um cidadão destes que a gente um dia conhece e nunca mais se esquece. O conheci através do Gilberto Bessa, numa festa em sua casa e ficamos amigos na hora, ali no ato. Quando fui pra Iacanga recorri a ele para conhecer as pessoas da cidade. E depois de tudo, ele leva o grupo para, antes da despedida, conhecer uma padaria na cidade - adoro padarias. Sentados numa das mesas, papeamos tão gostoso e saboreamos o delicioso pão do lugar e também os salgados. Não me esqueço destes lugares, talvez mais pelas pessoas que ali nos leva. Assim se deu com a padaria a nós apresentada pelo, meses depois falecido Muchacho, num trágico acidente automobilístico.

O tempo passou e cá estamos em março de 2024. Hoje volto pra Iacanga. Conheci muita gente mais que legal e revejo a querida Sueli Amorim, hoje não mais na Cultura e sim, na Educação. Fui pra um prosa já imaginando projetos futuros com algo pelo qual adoro estar envolvido, trabalhar com Memória Oral. Foi uma proveitosa conversa e na hora de ir embora pergunto para ela: "Quando estive por aqui nos idos de 2019, Muchacho me levou numa padaria, no meio de um quarteirão, salgados deliciosos, coisa e tal". Ela sacou de cara e me explicou onde ficava.

Bastou passar em frente e reconheci o lugar. Entro, sento, creio eu, no mesmo lugar onde estive alguns anos 
atrás, peço alguns salgados - a esfirra feita na hora e com carne de verdade é um espetáculo. Um filme passa na minha memória e é como se estivesse ali com a Caju, carioca que não vejo desde então e o Muchacho, macanudo que nos deixou muito antes do combinado. A cabeça gira e como era próximo horário almoço, comi por mim e por eles todos. Volto pela estrada ainda relembrando daquele primeiro dia e de como, mesmo passado algum tempo, quando retornamos pra um lugar marcante, tudo parece voltar à mente como se tudo tivesse acabado de acontecer. Tomara, das conversas ocorridas hoje, nasça algo a me fazer voltar muitas outras vezes para Iacanga, a padaria e a partir daí surgirem muitas e muitas boas histórias. Eu torço muito para tudo dar certo.

OBS.: Na primeira foto, a padaria hoje e na outra, o grupo nela em 2019. Só depois de rever a foto tirada lá em 2019, vejo que, por pura coincidência, hoje retornei lá com a mesma camisa. Que coisa estranha isso tudo...

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