sábado, 6 de abril de 2024

UM LUGAR POR AÍ (179)


SÁBADO CEDO...
Vontade eu tenho de escrever. Muita vontade. Mas, ela vem e passa. Vai e vem. Algumas vezes, vem e não sei o que escrever. Como agora, com a tela do computador aberta aqui na minha frente, cheio de vontade, mas sem nenhuma inspiração. Deixo tudo de lado, vou urinar, tomar o café da manhã e ler um livro. Quem sabe depois. Talvez a inspiração volte. Tomara.

LOGO DEPOIS DO ALMOÇO...
Inesperada viagem, quase 350 km pela aí. Algo para ser relatado em detalhes. O faço algum tempo depois do retorno. Eu, Ana Bia e o pessoal de Tibiriçá fomos de van, saída depois das 14h30, até Hortolândia, perto de Campinas, para o encontro anul de aniversário com o deputado federal Vicentinho PT. Ele, o deputado, havia se aproximado de Tibiriçá e ao descobrir o grupo, proveniente de um extinto quilombo negro, se juntam. No aguardo de um incentivo para as atividades no distrito rural, a família se mobiliza, contrata o veículo e leva junto dona Irene, quase 90 anos, a matriarca dos Cosmo/Baté. O bloco carnavalesco almeja cuidar da Estação Férrea do distrito, hoje recuperada, porém continuando abandonada. E conta com a aceitação da Prefeitura neste sentido e de Vicentinho para conseguir um incentivo inicial. A mão de obra para realizar e manter tudo bem vivo virá deles mesmos, sempre tão ativos e lutadores pela bem do distrito.

Quando convidado, querendo acompanhar de perto algo mais destas tratativas e também saudar novamente o deputado, pelo seu mandato popular, sigo junto e num salão de festas daquela cidade, o congraçamento com gente próxima do deputado, estes espalhados por todo estado de SP. Direcionados por dois de seus mais ativos assessores, Banhara e ____, a reunião anual, para algo mais além da festa de seu aniversário, comemorada dia 8 de abril. Vicentinho circula mesa por mesa, conversa com todos os presentes e a maioria conhece por nome. Para um tempo maior junto dos de Tibiriçá e, principalmente, junto de dona Irene. Dentre os bauruenses presentes, dois outros grupos, cada qual vindo de carro, ambos do Correios, Diretoria de Bauru, compostos por Ana Rosa e sua família e no outro Bruno Elói e sindicalistas. Depois do passeio pelo salão, a fala do deputado, gravada por mim, não em sua totalidade, mas a parte principal - quando me dei conta ele já havia começado a falar.

A conversação teve continuidade após a fala e num certo momento, ele sentou junto das duas mesas com o pessoal de Tibiriçá e além de ouvir propostas, falou e tirou fotos com todos. Vicentinho é possuidor de um discurso bem atrativo para junto das camadas populares, inquestionável isso. Fala o que querem ouvir e possui uma relação das mais interessantes, ainda mais quando ressaltou ser um dos quatro operários atuando neste momento dentro da Câmara dos Deputados. O mundo das emendas parlamentares hoje em curso dentro da instituição Congresso Nacional tem várias faces. Numa delas, vejo como positiva o envio de algo para favorecer um agrupamento popular em busca da consolidação de seu trabalho, mais do que justtificável e sem nenhum outro tipo de retorno pessoal. Posso discordar, assim como o próprio deputado, deve sê-lo, mas já que existe, todos fazendo usos dela, não vejo como depreciativa a mesma ser direcionada para sérias propostas.

Os Baté em Tibiriçá representam algo de incessante luta, pela afirmação destes enquanto agrupamento social e político. Buscam se firmar com a renovação de suas lideranças e ao se dirigirem até Vicentinho, algo deste caminhar. Salutar terem ido em busca de alguém com passado de luta e reconhecida trajetória. Tivessem ido em busca de outros caminhos, outras pessoas, não estaria com eles ou mesmo, iria aconselhar para tomarem cuidado. Aproveito para estada para estreitar conversações com Banhara, que é de Lins, porém morando em São Bernardo, reduto de Lula e de Vicentinho. Há mais de 20 anos fora de Lins, não conhece Tibiriçá e promete numa próxima passagem pela rodovia Rondon, conhecer de perto o distrito rural, algo que Vicentinho já o fez, se encantou e agora, junto de Dulce Leizico, já faz algo dentro do programado para ocorrer em 2024.

O dia foi longo e a festa durou até perto da meia noite. Uma ida animada e uma volta em pleno silêncio, com todos dormindo. Aproveito para tentar um rescaldo das observações colhidas ao longo do dia. Vicentinho continua como sempre, a defender causas das mais justas e necessárias. Lembrança dele dos tempos quando o então Assentamento Aymorés estava ainda em processo de legalização. Ele sempre esteve ali ao lado de seus moradores. Hoje, com a situação ali regularizada, escolhe Tibiriçá como novo ponto de apoio na cidade de Bauru. Comento com Banhara algo de antigas lideranças de Aymorés e de onde estão no presente momento. Observo como se deu o desenrolar de tudo ao longodos anos e me vejo, aqui do outro lado a instigar, provocar e ajudar, dar minha modesta contribuição no despertar de algo realmente novo em Tibiriçá. Quiçá tudo ocorra sem desvios e surja algo revitalizador por lá. Se o deputado puder ajudar neste caminhar, ótimo e depois, que estes caminhem com as próprias pernas, buscando um caminho libertador e esclarecedor de luta. Eu, sigo junto de ideias transformadoras. Volto para casa na madrugada de sábado com muita esperança, até pelos diálogos travados com todos na van, dos propósitos e ideias para a construção coletiva da qual estão envolvidos. Ajudo no que posso.

Eis o vídeo gravado por mim com a fala do deputado federal Vicentinho em sua festa aniversário: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/885974083330270


e na viagem de ida a triste notícia
ZIRALDO FALECE AOS 91 ANOS - PERDA DE INCOMENSURÁVEL MONTA PARA MIM
"Criadores de mundos e histórias nunca morrem, vão pra um lugar onde seus personagens moram. Nós ficamos aqui neste planetinha perdido no infinito, Ziraldo acaba de ganhar todo o universo para si", um de seus milhares de amigos, o também chargista e cartunista JAL. 

Eu fico com o dia praticamente estragado diante de uma notícia já anunciada, prevista, pois Ziraldo já não vinha bem. Fazia tempo que estava recolhido e sendo cuidado pelos seus. Não aparecida mais em público. Eu, que o conheci com o Pasquim, idos de 1973, quando tinha 13 anos, o acompanhei desde então com todo carinho e atenção. Além do inconfundível traço, Ziraldo sempre foi possuidor de uma verve de igual teor, destes inquebrantáveis. Possuidor de uma linha de conduta, dela não se afastou sequer um segundo. Foi tentado por muitos, porém se mostrou fiel aos seus ideais e isso sempre foi brilhantemente demonstrado em seu trabalho. Toda sua arte revolucionária expressava isso, a sua forma de ver o mundo. Ziraldo sempre foi emotivo e não se segurava nas calças, mesmo diante de quem quer que fosse. Expressava sua contundente opinião. Tudo onde esteve envolvido, sempre dos pés à cabeça, foi feito com o coração, vísceras de fora. Começou bem antes do Pasquim e depois numa outra aventura, tão digna quanto a primeira, o Pasquim 21 - este tenho todos os exemplares - e depois na revista Bundas - que tinha todos, mas as enchentes no mafuá levaram a maioria. Seus livros, quase todos em minhas estantes, lugares de destaque, pois o considerava um ser maior, além da iluminação dos pobres mortais. 

Sou de uma geração onde aprendi a conhecer todos os cartunistas e chargistas pelo traço, Bato os olhos num e já sei quem o fez. O traço diz tudo e o de Ziraldo é mais do que inconfundível. Límpido, direto e reto, sempre atuando como um soco no estômago, um jab destes a derrubar grandões. Seu trabalho exerceu sobre uma geração este admirável predicado. Ziraldo sempre me incentivou a continuar. Li todos seus livros infantis e seus gibis, desde o Menino Maluquinho ao Saci, depois sua turma na roça. Não foram estes todos quem mais me incentivaram. Foram seus trabalhos de cunho político. Olho para eles todos e mais que um encantamento. Quando vejo num profissional a reunião do belo traço, aliado a um posicionamento político contundente, isso é mais do que arrebatador. Muitos desenham muito bem, mas não possuem a coragem de se manter ativos, cutucando os poderosos com essas armas disponíveis. Zirando não fugiu um só momento da cancha de luta e isso representa muito. Eu o tenho numa espécie de altar. Se cultuo divindades, ele uma delas. o sentimento desta perda é irreparável. 

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