segunda-feira, 13 de maio de 2024

COMENDO PELAS BEIRADAS (145)


A SESSÃO DA CÂMARA MAIS VERGONHOSA DA HISTÓRIA BAURUENSE E SEU DESFECHO, QUE DEVERÁ TERMINAR NUM PLANTÃO POLICIAL OU NO MINISTÉRIO PÚBLICO

COMO ME SINTO APÓS O PRESENCIADO NA SESSÃO DA CÂMARA BAURUENSE NO DIA DE HOJE
Tudo o ocorrido na tumultuada sessão da Câmara de Vereadores de Bauru nesta semana passa já para o folclore da cidade. Folclore, negativo, claro. Mais um. Ali não ocorreram somente infrações, meras irregularidades, mas aberrações jurídicas. O grupo comandando pela Mesa Diretora, três vereadores da base governista, atuando cegamente na defesa dos interesses da alcaide, a incomPrefeita Suéllen Rosim, compondo no total 9 vereadores, de um total de 17. O que se percebe destes é a incapacidade de, em algum momento, acontecer de um deles ousar votarem desacordo com o decidido pelo grupo. São muito fechados em si e cegamente levantam de suas mesas e, simplesmente, votam. Abrem a boca, dirigem-se ao microfone da casa e sacramentam algo decido em grupo, não se sabe em que condições. Com estes, impossível algum tipo de argumentação, que os demova a ideia de que a privatização nos moldes sugeridos, repassando R$ 3,5 bilhões, numa espécie de “carta branca”, possa ser um péssimo negócio para cidade. Todos estes votam de forma cega, em algo a ser estudado e entendido. Enfim, o que ocorre nos bastidores para ocorrer uma votação tão sincronizada, sem a mínima possibilidade de algum destes “mijar fora do penico”? Isso merecerá, com certeza, amplo estudo futuro, talvez até teses acadêmicas, dentre tudo o que já ocorreu dentro da Casa de Leis bauruense ao longo de sua história.

Eu, nos meus 63 anos, tive o prazer e o desprazer de ter presenciado muitas sessões de teor igual, parecido, com menor ou maior intensidade, mas todas, refletindo muito bem algo da época onde aconteceram. Quando estava lá, primeiro do lado de fora da Câmara e depois, do lado de dentro, impossível não me lembrar do dia, com pneus queimados na esquina da avenida Rodrigues Alves com Azarias Leite e o então prefeito, cassado momentos antes, escapulindo no carro do Ayub pelo portão de entrada dos veículos. Olho para trás, me vejo novamente no mesmo cenário e com conjunturas com muita similaridade. E eu, junto dos que não só protestavam, mas tenho a mais absoluta certeza, estivemos ao lado de algo propondo o bem para essa cidade. Disto tenho orgulho. Meu envolvimento sempre se deu contrariando a corrente de poderosos que, tomando de assalto o poder local, fizeram e desfizeram, usufruindo de benesses e massacrando os interesses populares. Sempre com muito dinheiro em jogo. Não me lembro do montante na época do Izzo, mas hoje a bagatela é uma milionária cifra batendo recorde, alcançando os R$ 3,5 bilhões.

A bizarrice do que vi acontecer desta feita dentro do salão principal da Câmara é pra ser retratada como fosse peça de ficção, impossível de acontecer num espaço seguindo os ditames de algo a seguir preceitos democráticos. Tudo ali, desde o começo passa ao largo de alguma conotação democrática. Irregularidades seguidas e assim ocorrendo, pois a reação até agora tem sido pífia. Deixaram algo ocorrer sem a devida consistência jurídica, deixaram duas e quando viram, tudo se tornou rotina, dito e visto como natural. Tudo de permissividade é lá tolerado e sob vistas grossas. Mas tudo tem um limite. Mas como conter algo, se a porteira já tinha sido aberta e agora, o lado de lá se fortaleceu, criou musculatura e, infelizmente, está até mais forte do que a resistência? Não é fácil, não será fácil, nunca foi fácil. Descrever o ali ocorrido, passo a passo, outros já fizeram e não quero repetir algo já lido por aí.

Estou a tentar interpretar, ao meu modo e jeito, da insanidade ali em curso e do que pode ainSim, aqui e da ser feito para reverter a situação. De uma coisa, pra começo de conversa, se faz necessário deixar bem claro: nossa Câmara está doente, talvez em estado até terminal, mas nada muito diferente do que vemos hoje ocorrendo na maioria dos parlamentos nacionais. O que foi visto aqui se difere muito do que se vê sendo feito pelo sr Lira, presidente da Câmara dos Deputados e pelo sr Pacheco no Senado? Daí já se entende como será difícil reverter o ocorrido, mesmo existindo muitos motivos e razão para tanto. Nem sempre vence o dito Bem. Tudo é fruto de intensa luta.

Muito jogo de cena, não só do lado da situação, o a defender cegamente os interesses da alcaide, mas também os do lado de cá. Suspeita-se que, alguns dos que gritam em alto e bom som, o fazem de comum acordo com a parte contrária. Seria possível? Tudo é possível neste jogo onde a ideologia deixou de ser a mola mestra das relações políticas. Tem muita gente hoje com discurso progressista, mas na hora do vamos ver vota de acordo com o que prega o inimigo. Isso acaba de acontecer na Argentina, na votação da Lei Ônibus. Opositores a Miles esbravejaram durante todo o tempo, mas na hora do voto, se perfilaram ao seu lado. Isso pode ocorrer na Câmara bauruense? Sim, aqui e por todos os lugares. Dos vereadores que estiveram a defender essa privatização criminosa, pela forma como foi construída e, por fim, como foi alcançada a aprovação, nada mais a dizer. Só mesmo entrando na Justiça contra, não só a Mesa Diretora, mas todos, pois agiram de comum acordo, selado e levado à execução como visto numa espécie de “pacto de sangue”. Todos merecem o pior, a perda de seus mandatos. Já dos que se mostram hoje como oposição, neste momento unidos, mas um “balaio de gatos”. Não dá para ouvir calado e sem se sentir incomodado com um “Meira, nunca critiquei”. Existe hoje convergência, mas vou adiante, seria possível algo em conjunto visando a eleição municipal, onde estes todos estariam juntos, como o ocorrido na eleição de Lula, tudo para vencer o capiroto Bolsonaro? Impossível, difícil ou razoável? Isso é outra história, por ainda vale a união de interesses, para algo em curso, neste momento sendo resumida na judicialização do ocorrido, enfim, só mesmo a Justiça para reestabelecer algo de normalidade dentro da Casa de Leis bauruense.

Era isso, por enquanto. A cabeça continua fervilhando e sendo colocada pra funcionar, mesmo que aos trancos e barrancos, diante de tudo, não existe quem não esteja um tanto confuso. Confuso, porém ciente de que, algo precisa ser feito e com urgência. Já estou envolvido em algo, que contarei em detalhes por aqui nos próximos dias. No momento, deixa primeiro se consolidar. O fato é que, se não fiquei quieto e contido no meu canto em tantas outras oportunidades, não será agora, com tão pouco tempo de vida pela frente, que irei recuar, vestir um calção de banho e ficar à beira da piscina. Continuarei na lida e luta, sem pedir licença, usando as poucas armas que disponho, como a escrita e alguma organização a resistir deste avanço das iniquidades, deste modo perverso da ultradireita de fazer política. Nos vemos pela aí.

BRASIL: CRÔNICA DE UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA, por ERIC NEPOMUCEMO*
* Texto publicado no domingo, 12/05/2024, no melhor jornal latino-americano, o argentino Página 12:

O Rio Grande do Sul, como o nome sugere, é o estado mais meridional do Brasil. Possui extensa fronteira com o Uruguai e, em menor distância, com Argentina e Paraguai.
Sua população varia, segundo os institutos, entre a quinta e a sexta maior do Brasil. E tem a quarta maior economia.
Produz 70% do arroz brasileiro, 40% da soja, além de produzir parte substancial de carne bovina, suína e de frango.
Nas últimas duas semanas, sua capital, Porto Alegre, radicalmente ao contrário do seu nome, transformou-se em um panorama muito triste, dramático, com cenas de destruição ambiental nunca antes vistas no país.
Seus habitantes contemplam, maravilhados, imagens da cidade coberta de água e lama.
Alguns centros culturais com longa tradição e intensa atividade estão agora encobertos e lisonjeados. Não existem mais praças, parques ou jardins.
A desolação é total.
A água potável tornou-se um tesouro, inicialmente contestado ferozmente, e depois praticamente desapareceu.
Caminhões carregados de água chegam de cidades próximas e seu conteúdo é dividido em quantidades mínimas. Cargas de água e outros utensílios chegam de todo o Brasil, mas até o último sábado sua distribuição não havia começado.
Nas cidades vizinhas, igualmente afetadas pelas aglomerações, foram resgatados quase dez mil animais, principalmente cães e cavalos. Ainda não se sabe quantos foram perdidos para sempre.
Os dados mais recentes apontam para 136 mortos, 125 desaparecidos e pelo menos mil afetados diretamente, levados para hospitais e centros de saúde. Pelo menos 350 mil residências foram destruídas e o número exato de edifícios que abrigam escritórios e lojas afetados ainda é desconhecido.
Cálculos iniciais indicam que serão necessários dois bilhões de dólares para recuperar o que foi destruído. E o presidente Lula da Silva já destinou 800 milhões de dólares para, se necessário, importar arroz: estima-se, embora sem confirmação, que mais de metade da colheita do estado sulista, principal fornecedor do país, foi perdida.
Cinco cidades vizinhas, muito próximas de Porto Alegre, foram gravemente afetadas. Em Eldorado do Sul, seus 42 mil habitantes tiveram que deixar primeiro suas casas e depois a cidade. Não há água nem eletricidade e os saques continuam a aumentar.
Em São Leopoldo o prefeito viu como sua casa ficou coberta de água, deixando apenas o telhado visível.
O prefeito de Porto Alegre, o direitista Sebastião Melo, pouco falou. Agradeceu a ajuda recebida, as doações enviadas pelas pessoas físicas e pronto.
Já o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, fervoroso seguidor da desequilibrada extrema-direita Jair Bolsonaro, que devastou o país durante a sua presidência – de 2019 a 2022 – optou por dizer que não é hora de encontrar culpados.
E nisso ele está completamente certo.
Das 23 bombas de sucção de água justamente para evitar o acúmulo de água, apenas seis funcionam.
No ano passado, a prefeitura de Porto Alegre não deu pouca importância à proteção ambiental.
O governo do Estado já aplicou exatos dez mil dólares no setor de Defesa Civil.
Não é hora de encontrar culpados porque não é necessário encontrá-los. Eles estão à vista.
E o principal deles é justamente Eduardo Leite, que até agora se esforçava para ser indicado por Bolsonaro para concorrer com Lula da Silva nas eleições presidenciais de 2026.
Suas reivindicações foram lavadas. Eles naufragaram.

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