sábado, 11 de maio de 2024

O QUER FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (172)


ÚLTIMO DIA DE FUNCIONAMENTO DO ARMAZÉM DO CAMPO DO MST EM BAURU
Dia triste e um almoço de despedida. Por lá, os amigos que sempre prestigiaram a casa durante todo o seu tempo de funcionamento. Esta unidade do Armazem do Campo só foi possível abrir suas portas por causa de Milton Dota, o proprietário do imvóvel, falecido recentemente. Ele comprou a ideia do Armazem do MST funcionar em Bauru desde que foi apresentado a ela e para tanto, disponibilizou um de seus imóveis, a preços módicos. E assim, desta forma e jeito, subsidiado pela ação de um militante social como poucos, tivemos por alguns anos, aberto ali na rua Araújo Leite, entre os trilhos férreos e a rua Inconfidência, cem metros da unidade local do Poupatempo.

Tudo foi muito bom enquanto durou. Por detrás de tudo duas pessoas de considerável magnitude, a gerente (sic) Joyce e Pedro, um faz tudo, desde caixa a atendente de balcão. Junto destes uma equipe de gente com ligação umbilical com o MST, em sua maioria procedentes do assentamento de Promissão, pouco mais de cem quilometros de Bauru. Olho para trás e me vejo como um dos culpados pelo Armazém ter tido vida tão curta em Bauru. Sim, poderia ter ido mais, comparecido mais, participado mais e quando não o fiz e ciente da necessidade de fazer de tudo e mais um pouco para essa boa iniciativa não só brilhar, como vingar.

Agora é tarde. Lamentações são até pertinentes, mas se algo poderia ter sido feito, este tempo já se foi. Ouço hoje por lá, algo de bom diante do momento triste. Existe uma possibilidade sendo estudada do Armazém renascer em outro espaço e isso é visto por mim como alentador. O Armazém é uma experiência revitalizante neste momento brasileiro. Eu, por exemplo, emérito tomador de leite, só compro leite advindo de assentamentos e hoje, o Terra Viva, só encontro no supermercado São Judas, ali na rua Primeiro de Agosto. Um ótimo leite. Vou lá todo mês e trago minha caixinha com 12 litros e os consumo durante trinta dias. Este, infelizmente, vi quando da abertura sendo vendido no Armazém, mas depois não mais. Eles também começaram com um ímpeto, inclusive com verduras e legumes, mas depois não resistiram. Não havia como competir em preço, mesmo sendo sem agrotóxicos. Abriram mão de muitos produtos e pouco a pouco a loja foi perdendo muito dos seus atrativos.

Perderam muitos produtos em suas prateleiras, mas mantiveram até o fim, a vitalidade de um valoroso espaço, sendo utilizado como de resistência. Arthur Monteiro Jr vai até seu último dia ali apresentando filmes épicos e históricos, como "Cabra Marcado para Morrer", documentário de 1984, do Aduardo Coutinho, sempre apresentados com lindos debates. Depois, os muitos lançamentos, as festas todas, as palestras e o espaço sendo cedido para eventos variados, desde que dentro da linha libertária do MST. Toda vez que a luz por ali estivesse acesa, tinhamos a certeza de algo de muito bom acontecendo ali no local.

Vai deixar saudade. Hoje mesmo, no almoço de despedida, muito bom reencontrar gente que fazia tempo não via por ali. Melhor ainda quando, como acontecido comigo, alguém se aproxima, me chama para sua mesa, pede para sentar e tenta me reavivar a memória. "Você se lembra de mim? Sabe que trabalhamos juntos décadas atrás?", me disse. A cabeça varia e vareia, mas quando assim forçada a lembrar, sento paro e após instantes de rememoração, tudo volta. Ao final de tudo, fui agradecer uma senhora da cozinha, com um lindo avental da Mafalda com o símbolo do MST nas vestes e a agradeço. "Tomara, tudo dê certo e as reencontre novamente em breve, daí, vamos nos unir mais e fortalecer, criar motivos para estarmos mais juntos, pois é disso que precisamos", disse. Com uma moqueca de banana, muito saborosa e não sei nem onde poderei encontrar algo assim, com produtos realmente naturais e sem agrotóxicos na cidade. 

Enfim, estive lá e na ida, muitos reencontros. Já marquei algo junto do advogado Arthur Monteiro Jr para a próxima semana, com a artista Maria Inez Martinez de Rezende, que não via há tanto tempo e agora, me disse, queria estar se infiltrando por tudo o que ocorre de acontecimentos relacionados aos esquerdistas na cidade. Querendo se reencontrar com a cidade, procurou o Armazém, justamente no seu último dia de funcionamento. Tomara a gente consiga ir se reencontrando pela aí, mais e mais, nem que seja também nas ruas, como na movimentação da greve dos servidores municipais. O Armazém nos unia...

REVOLUCIONÁRIAS PESSOAS
Essa é a JOYCE, quem esteve à frente da loja do Armazém do Campo, iniciativa do MST país afora e aqui em Bauru, funcionando na rua Araújo Leite, até o final do dia de hoje. Ela, oriunda do assentamento de Promissão, afilhada do padre Severino Leite Diniz Diniz, mentor espiritual de uma legião de desbravadores e lutadores sociais, ficou na frente do Armazém até quando puderam resistir. 

Não é mesmo fácil vender produtos sem agrotóxicos, com preços pouco acima dos oferecidos pelo cruel "mercado" quando diante de uma enxurrada de preços mais convidativos, porém nos levando mais rapidamente para o cadafalso. 

Joyce não perdeu o belo sorriso, nem na despedida, pois nutre forte esperança de ainda vingar algo novo, uma continuidade num outro espaço e com a proposta renovada, daí mais e mais incentiva por essa legião de gente necessitando de um espaço fixo para ser, fazer, acontecer, conspirar e propor uma revolucionária forma de tocar a vida.

A LUTA CONTINUA - UM BASTA IMEDIATO E PEDIDO DE PROCESSANTE PARA TENTAR COLOCAR A CASA BAURUENSE EM ORDEM

Nenhum comentário:

Postar um comentário