segunda-feira, 10 de junho de 2024

PRECONCEITO AO SAPO BARBUDO (203)


SALVADORES DA PÁTRIA SÃO UMA NHACA
Isso de aparecer assim do nada alguém se mostrando e também se dizendo como salvador da pátria é uma nhaca, pois nos deixa nas mãos de desconhecidos, gente que nem imaginamos de onde vieram, qual sua trajetória e agora, no momento presente, despontam na linha do horizonte, como os que descobriram a pólvora e vão salvar tudo e todos, pois dizem em mãos - estarão limpas suas mãos? - a fórmula salvadora, aquele que vai solucionar tudo.

A experiência de anos de militância me diz para ficar sempre, não com um, mas com os dois pés atrás. Veja bem. É normal você tentar transformar o mundo, empreender uma luta de mais de trinta, quarenta anos, batalha contínua, muitas lutas onde seu nome está lá inscrito e desta forma, pela sequência do ocorrido, pela folha corrida, alguém poder querer te dizer quem você seja. Agora, alguém que até ontem estava no anonimato, não se sabe onde militava, com quem atuava e quais seus posicionamentos diante do tempo, aparece de uma hora para outra, se instala num grupo político, tenta se impor ali, sai e desemboca em outro, onde age da mesma forma e jeito, ultrapassando limites, tentando se impor com um discurso cerca lourenço. Pra mim é demais da conta.

Não tenho nada contra quem surge de uma hora para outra, mas o mais conveniente é esses, ao menos entender de fato o que ocorre, valorizar quem esteve na luta o tempo todo, olhar para trás e sem firulas e jogadas de marketing, querer já de cara ir se colocando como os únicos possíveis de executar o que ainda não foi feito. Olho para tudo isso com o devido desdém. O tempo me ensinou a não mais acreditar em história de carochinha. Ninguém mais é assim tão santo, ainda mais quando em alguns momentos, essas pessoas, em conversas particulares se mostram autoritários, prepotentes e arrogantes.

Primo muito, coloco em primeiro lugar, o trato com o ser humano. Observo demais da conta como se dá a relação entre os que estão galgando algum tipo de poder e como trata os demais à sua volta. Se estes, tiveram alguma experiência onde puderam colocar em prática esse relacionamento e deixaram máculas, pelo trato indiferente, grosseiro e até prepotente, primeiro com os de baixo, pronto, pra mim merecem um estudo de caso mais aprofundado. Abomino os que chegam num lugar de convivência e se dizem os maiorais, os que sabem tudo, mais preparados, lideranças natas e estão ali para isso mesmo, mandar e a ralé obedecer. Isso não precisa ser declarado, mas quando implícito e nas ações do dia a dia bem demonstrado, creio aí reside o perigo.

Eu não tolero ditadorzinhos de plantão, estejam eles onde estiverem. Não me venha dizer que líderes que admiro, como Che Guevara, Fidel Castro e mesmo Hugo Chávez agiram assim. Longe, muito longe disso. Fidel fez e aconteceu, assim como Che, com folha corrida comprovando sua ação e concepção de vida. Abdicaram de tudo para construir um algo novo e assim agiram uma vida toda e quase sem máculas. Ninguém pode querer afirmar do autoritarismo desses, sem ao menos entender o contexto onde atuaram e se de suas ações, hoje melhor analisadas com o passar do tempo, não tinha sempre o bem comum, algo mais que solidário, como forma de governar e atuar. De Hugo Chávez a mesma coisa. Respeito sua trajetória, de onde veio, algo conhecido por todos. Ele não aparece do nada e com ideias mirabolantes, querendo passar por cima de nada. Esses sim, revolucionários de verdade, na acepção da palavra.

Nós, aqui neste momento vivenciado pela crise capitalista, onde de um neoliberalismo cruel e insano, estamos prestes a adentrar um segmento aindas mais perverso, dominado pela ultra-direita, temos dentro da resistência que conviver com todo tipo de pessoas, Isso para mim está mais do que um balaio de gatos. Dentro dessa confusão, tem de tudo, desde aproveitadores, discurseiros, falastrões, canastrões, sacanas, penetras, espiões e poucos, cada vez mais poucos realmente bem intencionados e ideologicamente preparados para tocar o barco. Vivemos tempos de frentes amplas e elas, por mais que necessárias, são uma nhaca, pois nos obrigam a estar ao lado de alguém que não confiamos, mas como do outro lado, o pior que tudo, o destruidor de todo nosso mundo como o conhecemos, daí até nos juntamos. Sei que isso é só retardar o fim, pois dessas uniões, só mais um tempo. Daí, quando me deparo com salvadores das pátria se infiltrando, se apresentando, engomadinhos como detentores da chave do paraíso, me reservo no direito de não acreditar e questionar, querer saber mais dessas pessoas, conhecê-los mais a fundo antes de dar meu aval. Já cansei de entrar em barca furada e tudo o que aparece dessa forma, levanta em muito suspeitas. Estou no meu direito de assim pensar e também de questionar.

Se entenderam, muito que bem, esse meu recado, minha linha de pensamento e ação. Posso não ter acertado em muitas das intervenções onde estive metido até a presente data, mas cá estou, uma vida inteira de luta e sempre do mesmo lado. Sou transparente politicamente e assim pretendo continuar até o fim dos meus dias. Onde errei, fiz mea culpa e creio, melhorei, me adequei, aprendi com os erros. Não acredito em bruxas, mas sei que elas existem, não é assim que está dito um ditado popular. Tem muita bruxa circulando pela aí, mas não aquelas queimadas injustamente e criminosamente no passado inquisitorial. As bruxas que falo são outras e delas quero distância. Da luta não saio, mas não embarco em qualquer viagem e nem mais acredito em discursinhos construidos para nos convencer. Tô velho demais para cair em tentação...

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