terça-feira, 22 de outubro de 2024

UM LUGAR POR AÍ (187)


AH, UM DIA TIVEMOS UMA PRAÇA
Ah, isso já vai muito tempo. Essa história da degradação da praça Rui Barbosa não é de hoje, ela vem de muito tempo e se for contada nos seus mínimos detalhes é pra chorar, ou no mínimo, corar de vergonha nossos adminsitradores. Comparo este último acontecimento, o da derrubada do chafariz, hoje ocupado por moradores em situação de rua, como o ápice de algo monstruoso e em curso na cidade de Bauru. Este somente mais um dos lances do horror sendo praticado como o horror, patrocinado e proporcionado por quem detém o poder de mando na cidade, no caso atual, o da alcaide, a incomPrefeita Suéllen Rosim. 

Numa comparação simplista e muito oportuna, essa destruição, sem que houvesse nenhum tipo de projeto para algo no lugar, uma mera ideia, uma suposição, que pode e deve não se realizar é algo muito parecido com os assassinatos realizados pelo BAEP, com jovens da periferia de Bauru. Uma destruição sem sentido, feita para demarcar uma posição, uma forma de atuar, porém quando analisada friamente, algo frio, insano e doentio. Nãs  faz sentido, como não fez sentido a mesma alcaide ter derrubado tudo o que lhe foi possível na praça Machado de Mello, criando em seu lugar um estacionamento para uma igreja neopentecostal. Quem não se lembra dela, a alcaide nessa outra praça, a da Estação, lacrando o Hotel Estoril, retirando de lá a administradora do citado hotel, lajotando entradas e saídas, a removendo com uma suposição de um projeto para o lugar. Até hoje, passados mais de anos, nada, tudo como dantes, ou seja, deteriorado e sem nenhuma outra ação de revitalização. 

Na praça Rui Barbosa, deteriorada ao longo dos anos, uma péssima impressão deste que foi um dos mais belos cartões de visita da cidade. Se não fez na Machado de Mello, provavelmente nada fará na Rui Barbosa. Tem mais, pois afirmou em sua campanha, algo que não dá para esquecer, que irá mudar a sede da Prefeitura, da praça das Cerejeiras, para a Estação da NOB. Isso seria realmente alvissareiro, pois seria um belo pontapé inicial para recuperação da área central, polo do progresso desta cidade, quando do advento das ferrovias em funcionamento. A realidade se apresenta bem diferente do que se vê na prática, pois é inconcebível alguém, sem efetivar nenhum tipo de consulta para a população, vai lá e simplesmente põe abaixo o chafariz, com a desculpa de que irá abrir uma futura licitação, que nem no papel está, para colocar no lugar uma obra futurista, moderna ou onde, com certeza, não será possível mais moradores de rua se beneficiarem da água proveniente de suas torneiras.

Enfim, se algo sair, será um obra para quem? Pelo visto, quando passou o trator por cima do chafariz, não pensou nem um pouco no destino dos moradores em situação de rua, ou melhor, até pensou, numa forma de sacá-los do lugar, numa ação, recordo, muito parecida com a que teve quando botou abaixo algumas edificações e lacrou o Hotel Imperial, na Machado de Mello. Percebam, tudo faz sentido e tem um elo de umbilical de ligação quando se trata deste desGoverno municipal. Em primeiro lugar, a derrubada, a colocação do lacre, o impedimento do uso, para depois, jogar a ideia de que, algo irá ocorrer em seu lugar, mas isso é algo sempre no subjetivo, para o futuro, este incerto e não sabido, algo também que, se deixar logo cairá no esquecimento de todos e daí, segue o jogo, até a próxima destruição.
AGORA, SÓ ESTÁ SOBRANDO O CORETO PARA CONTAR A HISTÓRIA...

De tudo o que se viu nessa última destruição, em primeiro lugar, a certeza, não existe nenhum projeto à vista. A praça Rui Barbosa é palco de algo desta natureza e não é de hoje. Eu, aos 64 anos, tenho lembranças de jacarés num lago no meio da praça. Isso já é lenda, com muitos afirmando ter sido sonho. Quando reformularam a praça, o arquiteto Jurandir Bueno Filho - por quem tenho apreço e consideração -, lajotou a praça e isso foi lamentável. Muito do seu verde se foi e nele, privilegio de espaços abertos, sem vegetação, algo horroroso para uma cidade sempre necessitando de mais verde em suas ruas. Pelo que sei, a cidade nunca digeriu direito o que ali foi feto e com o passar de mais algumas décadas, mais uma degradação, sendo ela ponto de encontro, passagem e vivência de moradores de rua, circulando muito em torno do restaurante Bom Prato, cem metros dali. Nada me tira da cabeça que, a destruição foi feita para impedir o acesso destes a mais este local. Na sequência do que virá, pois nada mais espanta, poderá vir a derrubada das árvores e assim, sem espaço para nenhuma forma de abrigo, a remoação definitiva do problema (sic). 

Na praça, ainda resta o coreto, agora último reduto destes mesmos moradores, que na ausência de qualquer outro lugar, escolheram o mesmo como seu tótem, uma espécie de monumento, cercando-o de aproximações pouco entendidas. O coreto é um bastião, o último dos Moicanos da Praça. Diriam ainda existir o busto do Rui Barbosa e o relógio defronte a catedral, mas estes, pelo visto, deverão ser os últimos a se mudarem, isso já quando não mais existir nenhum outro resquício de algo que, um dia enfeitiçou e representou um marco para a cidade. Tínhamos na praça da estação, a chegada dos trens, com ela o progresso e algumas quadras acima, seguindo pela Batista de Carvalho, hoje representada pelo Calçadão, essa outra, o oposto do envolvimento da outra. A cidade não ferroviária endeusou essa por muito tempo e agora, jogada as traças, esquecida, ultrajada, violentada e açoitada, tem mais do que seus dentes perdidos nessa última semana. Se já estava desdentada, hoje fenece a céu aberto, numa demonstração evidente do que, administrações desajustadas e descabidas são possíveis. Aguarda-se mais pela frente, enfim, ela, a alcaide, possui o respaldo popular adquirido no último pleito. Como adquiriu muita consideração pelo asfalto colocado cidade afora, creio que, para coroar tudo, seria muito nobre asfaltar a praça inteira, como o ápice dessa transformação em curso. 

outra coisa
SEGUNDO LIVRO LIDO NO MÊS, UMA TESE SOBRE QUEM ESCREVE DO POVO DAS RUAS, JOÃO ANTONIO

"O nervo exposto - João Antônio, experiência e literatura", Ieda Magri, Lumme Editor SP, 2013, 112 páginas.

Prefiro ler o que o motivo da tese escreve do que escrevem sobre ele. Tenho que, selecionar o que leio, enfim, são tantos aqui e o tempo urge. Neste caso, maravilhamento ao ter confirmado deste João, escrevinhador do que via, sentia e pulsava as ruas por onde circulou. Tem pra mim um sabor especial quem se atém a, não só escrever, mas pulsar pelo vislumbrado de quem sua a camisa nas ruas. João foi catedrático no que fez. A jovem Ieda, doutora carioca, percepção aguçada, me confirma o que já imaginava, mas com belas palavras, diria mesmo, rebuscadas. Abro exceções em ler teses acadêmicas, quando sei nelas encontrarei algo salutar dentro da minha linha de pensamento e ação. Nas frases colhidas e algumas aqui selecionadas, os motivos de ter escolhido João Antonio como um dos preferidos a retratar as ruas. Ganhei este livro do livreiro Francisco dos Santos, da editora Lumme, onde seleciona obras e só publica algo com sentimento, onde enxerga o pulsar por algo ainda grandioso. Aqui, percebo o quanto é seletivo e o faz com algo edificante.

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