quarta-feira, 9 de outubro de 2024

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (233)


O CHINÊS DO BAR DA ESQUINA
Bares com chineses existem muitos hoje por aí, cidade afora e adentro. Muitos nem são chineses, mas este, motivo de minha escrita é de verdade. Chegou aqui com sua,família, quinze anos atrás. Já havia circulado por outros países, até descobrir o Brasil, depois Bauru. Um batalhador no que faz. Batalhador e bom observador. Fincado com seu comércio familiar no centro de Bauru, já viu de tudo e mais um pouco, ali detrás do balcão.

Histórias não lhe faltam. Tem diversas, mas como todo bom chinês, reservado, contido, porém, quando passa a conhecer pouco mais a pessoa, se abre, conta algumas particularidades. Consegui escutar algumas. Viver de um bar no centro nervoso bauruense é algo inebriante, não tanto pelo ganho dali obtido, mas muito pela persistência, insistência, daí, ao final de cada dia, inevitável, sendo bom observador, uma boa coletânea de acontecimentos pouco usuais. Ele e sua família convivem neste ambiente já década e meia.

Vejo sua filha, 17 anos, ali no comando do bar, quando ele e esposa estão ocupados com outros afazeres e pergunto: "Você gosta de Bauru?". Ele, meio que medindo as palavras, responde: "Não é questão nem de gostar ou não. A filha chegou aqui, tinha dois anos. Estudou desde a infância aqui, construiu amizades. Como posso querer levá-la pra outro lugar? Não tenho mais esse direito. Estou estabelecido". Seu bar tem muito movimento, o preço é dentro da média popular, sua rotina é algo pelo qual tem amplo domínio e o resto, como todo bom imigrante, tira de letra, segue seu rumo e toca,sua vida, sem importunar ninguém. Quer passar desapercebido, pois sabe, chamando a atenção, pode também despertar problemas.

Dizem que, muitos dos "comércios" de "chineses", generalizando tudo, existe uma máfia comandando tudobpor detrás dos panos. No caso dele, dos de seu país, isso não existe. Existe sim o sonho de reunir forças, ganhar o mundo, descobrir locais mundo afora onde consiga explorar seu comércio, na maioria das vezes, desta forma, com bares, pequenas mercearias e mercadinhos. Invadiram o planeta e Bauru não poderia ficar de fora. Vendem comida, salgados e afins, sempre com preços muito competitivos.
SEU WILSON PAVAN SE FOI 

Escrevo dele, pois queria ver sua opinião sobre o trabalho por aqui e da relação, dele chinês com a contratação de mão de obra brasileira. Conta ser o trabalhador brasileiro bem diferente do chinês. Lá, segundo ele, se a pessoa é contratada para trabalhar oito ou mais horas por dia, se trabalha de fato, com muito poucos intervalos. "Aqui não. Tudo é motivo para uma nova paradinha, um café, uma olhada no movimento da rua, o celular ou mesmo uma quase necessidade de conversar. Tudo é motivo para uma fugidinha do trabalho. Na China não tem disso não. No início bati de frente, depois vi que não tinha jeito. Melhor fazer vista grossa e ir tocando o barco. O brasileiro é bom de conversa. Se bobear te leva na conversa, te enrola, só que não conhece o chinês. Mas dá pra se entender. Melhor se entender, né!", me diz.

Muito interessante suas histórias. Numa diz do cara que comeu e saiu na cara dura sem pagar, batendo boca. Pra seu espanto, ele voltou e na maior cara de pau, queria comer mais umas vezes e da mesma forma: "Aqui, se a gente bobeia, eles se aproveitam e deixando, quando percebemos estão junto de nós detrás do balcão. Na China não é assim não. Tem folgado, mas aqui tem muito mais. Aprendi a conviver com tudo isso. Crio meus filhos aqui. Minha filha gosta demais de Bauru, daí gosto também. Viver longe de casa nem sempre é bom, mas de algo não posso reclamar, o brasileiro é muito acolhedor. Gosta de uma conversa e como também gosto, ouço mais do que falo, mas tenho falado muito mais que antes. Estou me soltando aos poucos".

QUANDO FICAR MAIS VELHO QUERO FUGIR DE CASA, SÓ PARA PERAMBULAR NA RUA, COMO FAZIA SEU WILSON PAVAN 
https://mafuadohpa.blogspot.com/search?q=pavan
Escrevi muito dele - acima o link para leitura destes textos - e de seu esforço para continuar batendo perna.
Ele se foi neste momento. Ele e Diva, comandaram o Carimbos Pavan, na Rodrigues Alves, por décadas.
O perseguia pelas ruas, quando o encontrava foragido da família e circulando pela Primeiro de Agosto, até o Bar La Taska, na Ezequiel, seu porto seguro. Ele nunca foi de muita conversa. Diva era mais conversadeira. Ele, mais contido, depois que ela se foi, marcante suas andanças pelo centro da cidade. Morava lá pelos lados do Camélias, o que lhe difucultava muito as saídas, acrescidas da passagem dos anos. Sua mobilidade foi sendo prejudicada e, assim mesmo, insistia, caminhando lentamente pelas ruas. O cumprimentava sempre o via e o acompanhava. Éramos todos, ou melhor, somos todos, os velhos conhecidos, uns olhando pelos outros e assim tocamos nossas vidas até quando podemos. 

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