segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

MÚSICA (242) *Texto referente ao dia de hoje, segunda, 16/12/2024



QUANDO VEJO BRAGA NETO SER PRESO POR TRAMAR ASSASSINAR OPOSITORES, A HISTÓRIA DE RUBENS PAIVA VOLTA À TONA - CANA DURA PRA ESTES TODOS, INCLUSIVE, BOLSONARO
"Uma amiga viu o filme “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, e me perguntou: “Rubens Paiva foi torturado?”. Waltinho, inteligentemente, optou por não mostrar de forma escancarada a tortura. Preferiu deixá-la mais subentendida que explícita. Mesmo assim me parece óbvio para o espectador perceber que ele morreu após uma longa agonia nas mãos dos militares.
Mas, se minha amiga teve dúvidas, resolvi esclarecer a ela que sim, Rubens Paiva foi torturado. E citei o médico e psicanalista Amílcar Lobo, que serviu de 1970 a 1974 como segundo-tenente médico no quartel da Polícia do Exército na rua Barão de Mesquita, na Tijuca, onde funcionava também o Doi-Codi. Segundo ex-presos políticos, a função de Lobo era examinar as vítimas para avaliar se as sevícias poderiam continuar. O médico admitiu que examinava os detidos após as sessões, que incluíam eletrochoques, pau de arara, afogamentos, abusos sexuais e toda forma de sadismo. Mas alegou que era para amenizar o sofrimento.

Em entrevista à repórter Martha Baptista publicada na revista Veja de 3 de setembro de 1986, Lobo contou que foi chamado ao quartel de madrugada para atender um preso. “Ele era uma equimose só. Estava roxo da ponta dos cabelos à ponta dos pés”, revelou. Segundo Lobo, o homem estava com o abdômen endurecido, e ele suspeitou de ruptura do fígado ou do baço, que provocam brutal hemorragia interna. O prisioneiro conseguiu balbuciar apenas duas palavras: “Rubens Paiva”. Lobo recomendou que ele fosse levado imediatamente ao hospital. Mais tarde, soube que Paiva havia morrido ali mesmo, sem ser atendido.

Numa entrevista que deu dias depois a meu pai, publicada no Caderno B Especial do dia 14 de setembro de 1986, Lobo foi perguntado sobre qual das cenas de horror mais o havia chocado durante os quatro anos em que atendeu diariamente presos torturados. Ele disse: “A do Rubens Paiva realmente me impressionou muito, porque eu nunca havia assistido a uma pessoa tão machucada, tão combalida.”

Segundo o sargento Marival Chaves de Souza, após a morte o corpo de Paiva foi esquartejado e os pedaços enterrados em diferentes locais. Mas, de acordo com o coronel reformado Paulo Manhães, o corpo foi enterrado nas areias do Recreio dos Bandeirantes. E, dois anos depois, foi retirado de lá, embarcado numa lancha e lançado ao mar. “Estudamos o movimento das correntes marinhas e sabíamos o momento certo em que ela ia para o oceano”, contou.

O mistério continua, já que o corpo do deputado federal nunca foi encontrado.
MAURO VENTURA

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