sábado, 16 de fevereiro de 2008

UMA ALFINETADA (19)

Esse texto saiu publicado lá no Alfinete de ontem e hoje já sai por aqui. Tudo para que deixemos de continuar confundindo alhos com bugalhos. Pelo menos é assim que penso...

AFINAL, O QUE SERIA ISSO MESMO?
Recebi recentemente uma carta, na qual o missivista rotulava de“comunista” todos os prováveis beneficiados com altas pensões derivadas de ações dos nossos Anos de Chumbo, ou seja, provenientes dos que penaram com a ditadura militar. O que me chamou a atenção na carta foi autilização do termo comunista e de que todos os que lutaram contra a ditadura tinham idéias de implantar no Brasil um regime tipo castrista-cubano. Achei uma má utilização da expressão. É sobre isso que quero discorrer aqui. Vejo muita confusão na utilização do termo “comunista”.

Hoje em dia, muitos que lutam pelo social, por reforma agrária, melhorias salariais, contra o neoliberalismo e as opressões do capitalismo são taxados dessa forma. Todos colocados num mesmo balaio, com a mesma pecha. Não que isso venha a ser pejorativo. Longe disso, pois o termo “comunista” encontrado no dicionário é belo demais. No Dicionário Sacconi encontrei: “sistema econômico e político baseado na teoria de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), segundo o qual os bens da terra, o produto do trabalho e os meios deprodução pertencem à comunidade ou ao Estado”. Entende-se que ninguém é dono de nada, tudo pertencendo ao Estado que, por outro lado, lhe proverá de tudo, saúde, educação, cultura, alimentação, emprego, etc. E isso é tão ruim assim? O que sei é que até hoje esse sistema não conseguiu ser implantado na sua essência. E se o fosse, não veria motivos para reclamações, pois seria um verdadeiro paraíso.


Virando tudo do avesso, sabemos que todo religioso tem como pretensão ir para o Paraíso após sua morte. E o que seria esse tal Paraíso? Para mim,algo bem parecido com o que prega o Comunismo, pois com a morte deixamos para trás propriedades, contas bancárias, posses e bens materiais. No Paraíso a vida é harmônica, de paz generalizada, inclusive sem preocupações financeiras. O verdadeiro comunismo prega algo muito parecido, onde todos serão iguais e gozarão dos mesmos direitos e obrigações, sem ricos e pobres, opressores e oprimidos. Não vejo nada melhor do que isso ocorrer aqui nessa vida terrena. Quem se oporia à sua implantação e execução? O paraíso aqui.


Antes que me rotulem de louco e também de “comunista”, deixo claro que ouso indevido do termo é danoso. Na grande maioria das vezes, o fazem com o intuito de agredir, menosprezar, desqualificar o oponente, com a intenção de que fique numa situação constrangedora. Quando criança ouvia que comunista comia criancinha. Queriam incutir o mêdo em quem nem sabia direito o que era aquilo. Misturavam e continuam misturando alhos com bugalhos. A tática é desmerecer e nada explicar, mas até quando? Parece que o que perdura é o mêdo de uma classe contra outra. Hoje, quando o mundo caminha perigosamente para um pensamento único, impondo que o neoliberalismo seja essa possibilidade para o Paraíso taxa-se de comunista todo aquele que luta para mudar o estado atual de injustiças. Longe de ser um ato comunista ou não, nossos 500 anos de História comprovam que, aqui no Brasil uma elite cruel só acumulou e não pensa em distribuir nada. Isso, além de ser contra os preceitos religiosos, infelicita o país, pois mantém uma casta arrogante, cruel, predatória e gananciosa mamando nas tetas do poder (aquelas que nunca secam). E, propor que essa elite pague impostos, remunere melhor seus súditos, cumpra as leis decentemente não é nada tão aviltante assim.


Não entendam isso como apologia de nada. Nasci e cresci dentro do capitalismo, sou cria dele, usufruo dele, mas não consigo entender essa nossa eterna má distribuição de renda e injustiças sociais. Luto para mudar esse estado de coisas e nem por isso sou comunista. Ou sou? Não estou preocupado com isso. E deveria?


Henrique Perazzi de Aquino, há 47 anos, sendo taxado, carimbado, rotulado,pré-julgado como tal, porém, no entanto, sei lá: não tendo certezas demais nada.
PS: a ilustração é um Gilete Press de um excelente desenho do Airon.

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