segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

DIÁRIO DE CUBA (20)

DE ÔNIBUS PARA SANTA CLARA, A TERRA ONDE VENERAM CHE
13/03/2008, 15h, embarcamos na Via Zul com destino para Santa Clara. Dentre os passageiros, mais cubanos que estrangeiros. Os olhos circulam por todos os lados. Conhecemos mais da periferia de Havana. É nossa primeira espiada na zona rural. Ao redor da estrada, fábricas variadas e principalmente, muitos conjuntos habitacionais, em construções estilo anos 70. Vislumbramos muita gente pedindo carona. Como o cubano é solidário, carros param a todo instante e levam gente adoidado. Enquanto perdura no Brasil um acordo tácito de que é perigoso dar carona, lá isso é regra.

O trecho é bem sinalizado e o que mais se vê são coqueiros, por todos os lados. A rodovia é muito bem cuidada, sem buracos. Com, um canteiro no centro, tudo bem aparado e a uma distância de uns 20 metros um do outro. Em alguns pontos, algumas pessoas vendem produtos, principalmente frutas e guloseimas em bandejas. Num outro trecho, plantações de laranjas por muitos quilômetros. Tudo muito limpo e as árvores com a mesma altura. Em nenhum momento vi alguma coisa parecida com favelas.

Uma leve chuva na estrada. Depois de seis dias por aqui, por volta das 16h30, um pouco de chuva. Em toda a extensão, muito gado e uma baixa muralha, feita de pedras. O tempo limpa novamente. Na TV do ônibus um show com a mexicana Selena, DVD do disco “Amor Proibido”, algo chato e repetitivo. Os cubanos ao nosso lado cantam animadamente. Falam tanto da cana cubana, mas só no km 146 a observo, pouca coisa. Da pista uma observação, não existe qualquer sinalização de pintura no chão, só o asfalto. Num cruzamento, placas indicando Cienfuegos e o caminho que seguimos, Santa Clara. E o melhor de tudo, em Cuba não existe pedágio. Tudo liberado.

Uma alegria na chegada, o motorista desce do ônibus e posa para fotografia com um charutão. Reservamos retorno para Cienfuegos e na saída, um pequeno assédio, tanto para oferecer estadias em casas particulares, cocho com tração animal e alguns táxis. Quando me falavam da dureza do regime, desconhecem, com certeza, a flexibilidade do que presenciei por lá. Optamos pelo táxi e vamos direto para o hotel. O motorista, seu Humberto, acabou sendo um guia, pois travamos longos papos com ele e seu filho sobre a cidade. Vamos por ruelas apertadas, cidade escurecendo e pouca visão geral.

Hotel Santa Clara Libre, estilo grandão, o maior prédio na praça principal da cidade, arquitetura sem rebuscamentos, tudo simples. Fomos os últimos a chegar. Sentamos no hall e aguardamos uma pequena fila. Reencontramos um alemão, que havíamos conhecido na viagem. Marcos conversa com ele em inglês sobre o melhor meio de ir para Santiago de Cuba. Ele nos disse ter vindo da Bolívia, onde fez todo o trajeto final de Che e, assim como nós, estava cheio de expectativas para conhecer o mausoléu ao herói revolucionário. Ficamos fregueses de uma lanchonete, bem ao lado e nos esbaldamos de refrigerantes, que eles chamam de “refresco”. Virou rotina todo dia, levar para o apartamento, um refresco de limão e uma água grande. O preço eram sempre os mesmos, 3,50 pesos.

Marcos não quis sair do hotel nesse primeiro dia. Só o faria na manhã seguinte. Eu não agüentei. Na primeira incursão, voltei maravilhado: Café Literário, Livraria, Biblioteca Pública e uma Sala de Arte, tudo em volta da praça. Tive o prazer de assistir de cara a uma apresentação do “Coro Provincial”, numa edificação antiga, com um auditório no fundo. Cantaram de tudo, inclusive um “Osana” com grande afinação. Eram membros da igreja presbiteriana e foram muito solícitos na minha dificuldade de entendimento lingüístico. Conversei ao meu modo e tirei algumas fotos do local. Todos, indistintamente são bastante receptivos para com turistas. Ao mencionar ser brasileiro, abrem um largo sorriso. Como gostam do Brasil. E eu cada vez mais deles Vou para o hotel por volta das 21h, cheio de ansiedade por tudo o que nos espera no novo dia.

5 comentários:

  1. Henrique
    Li todos os Diários. Gosto da linguagem empregada, por dois motivos. Em primeiro lugar, a viagem que vcs fizeram foi para constatar se tudo aquilo em que acreditavam era aquilo mesmo. Acho que não se decepcionaram, né? E, ocorrendo isso, não vejo motivo em não enaltecer o lado bom de Cuba, em detrimento do lado ruim. Nos textos percebo muito isso, vc faz um relato sincero, cheio de emoção e quando tem que dar umas estocadinhas, citar alguma coisa, que mesmo considerando não correta, vc não omite, não falseia, não a esconde. Publica assim mesmo e fica sujeito a algumas críticas. Faz o jogo democrático e mesmo quando ocorrem críticas, deixa todos os Comentários postados. Sou contra os blogs que não permitem a livre circulação de idéias, que vc tem que passar pelo crivo de alguém para ter algo publicado. Aqui não, tudo é liberado e mesmo os contrários estão todos aí. Parabéns, isso é democracia. O segundo ponto que gosto muito dos seus relatos é porque vc deixa bem claro que a viagem que fizeram teve um cunho político, mas não deixou de ter também um cunho turístico. Gosto muito das observações políticas, do que encontraram de bom lá, mas também gosto de ver o lado da viagem, como algo feito pelo lado turístico mesmo. Já vi gente aqui te reprimindo sobre isso, mas não os leve em consideração. Continue produzindo os textos das duas formas, que me terá como leitora até o fim. E quando terminar, pretende encerrar, viajar de novo para lé ou continuar discutindo o tema Cuba no blog?
    Marisa

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  2. Oi Henrique!
    Depois você precisa dividir conosco uma planilha de gastos da viagem a Cuba e as dicas de hotel e restaurantes para os iniciantes!
    Quem sabe assim a gente não tome coragem de ir pra lá, né? rsrs
    Abração!
    W. Leite

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  3. Sr. Henrique

    Só uma perguntinha.
    O sr acredita em Deus?
    Prefiro não me identificar.
    Responda se puder.

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  4. Que comentário mais nada ver esse aí acima, clico para postar um animado comentário e vejo uma bobagem dessas, algo que diz respeito a um assunto pessoal e a mais ninguém.
    Mas o q eu quero escrever é sobre algo engraçado q chama a atenção nos posts de Cuba, como há quimica entre o Marcão e Cuba, dá pra ver pelas fotos tamanha alegria em estar na terra comunista, aqui quem conhece o "velho" Marcão sabe que é dificil encontrá-lo sempre animado pq é turrão e sempre mau humorado(risos), mas também pudera, com tantas mazelas na sociedade capitalista tem mais é q ficar pê da vida mesmo, mas q as fotos mostram um marcos feliz isso mostra, sinal q Cuba é vitoriosa mesmo.
    Bruno Matheus

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  5. Voltei de ferias com a familia e vejo que o blog continua a todo vapor.
    Mais um belo diario de Cuba, estarei acompanhando todos os passos desta lição de vida.

    Nicolas

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