domingo, 11 de janeiro de 2009

MEMÓRIA ORAL (57)

SÁBADO, O CALÇADÃO E A CAUSA DA PALESTINA OCUPADA
O Calçadão de Bauru é movimentado por natureza, devido a grande concentração de lojas, mas aos sábados tudo fica mais agitado. Dia seguinte a de pagamento, a circulação cresce a olhos vistos. Pois foi num dia assim, gente aos borbotões pela rua, que acontece, numa das esquinas de maior concentração de pessoas, a das ruas Batista de Carvalho e Treze de Maio, o “Ato em Defesa do Povo Palestino”, repudiando a cruel guerra empreendida por Israel na Faixa de Gaza, já atingindo quase de 800 mortos.

Quem toma a dianteira e organiza tudo é o Núcleo 100% PT, Esquerda Marxista, Sindicato dos Ferroviários de Bauru, MS e MT, Movimento Negro Socialista e Juventude Revolução Mandato vereador Roque Ferreira. Essa conjunção toda se resume numa coisa, por trás de tudo está o combativo e sempre presente Roque Ferreira, que acaba de assumir uma vaga na Câmara de Vereadores local.

Pouco antes do horário marcado, 10h, quem monta uma barraca no local são os dois assessores parlamentares do vereador, Sílvio Durante e Fabrício. Recheada de livros, CDs e um material impresso para distribuição, o trabalho deles é incessante. “O local já é um pouco nosso. De início encontramos muita resistência do pessoal do Calçadão, que consideram isso aqui como uma espécie de condomínio fechado. Amenizamos tudo pela freqüência. Já somos conhecidos e respeitados”, diz Fabrício, que contribuiu para demarcar a esquina como ponto de encontro das lutas pelas causas sociais na cidade.

Quem chega logo a seguir é o próprio Roque e a esposa Tatiana Calmon, trazendo consigo uma faixa, bandeiras e peças de identificação com a causa palestina. Decidem estender a faixa acima da passagem das pessoas, num local de ampla visão. Os dois jornais locais e a TV Tem gravam no local. O ferroviário aposentado José Nélson veio sem que lhe pedissem, só para ajudar e ficou encarregado de ajudar na distribuição dos folhetos. Missão cumprida com galhardia até o fim. “Sai de casa nessa manhã só para vir até aqui. Estamos todos nessa luta e aqui sei que reencontro gente que pensa e age igual a mim. Essas questões não podem passar despercebidas, mesmo distante de nós”, diz o poeta Lázaro Carneiro, junto da esposa.

No meio de uma roda de aposentados está Joaquim Cândido, que não veio ali para participar do movimento, mas foi cooptado pelo mesmo. “Gosto do movimento das ruas e nessa esquina sempre tem os políticos. A cada semana é um assunto diferente, me interessando, fico por aqui, como hoje”, conclui Joaquim. O artesão Chico Cardoso, também com a esposa, veio fazer compras, mas não resistiu e ouviu atentamente as informações ali prestadas, assim como o jornalista Ademir Elias, presidente do Conselho da Comunidade Negra, com a filha de 15 anos. “Essa meninada precisa estar sintonizada com esses temas. Insiro minha filha na medida do possível e eu participo de tudo”, diz. Outros tantos param por ali, como Valdir Caso, assessor do vereador Marcelo Borges.

Quem chega trazendo consigo material da região de conflito é o assessor de gabinete da Prefeitura, Alex Gasparini Jr, que anos atrás esteve pessoalmente em Gaza. “Trago para compor o cenário, peças que me foram dadas pelo Arafat. Esse movimento precisa crescer, tomar um corpo maior”, fala aos que o rodeiam. Não demora nada e é chamado por Roque, para junto a outros ampliarem a atuação do movimento. Nasce ali mesmo, num canto, o mais novo Grupo de Apoio à causa da Palestina Ocupada, tendo até reunião marcada para a próxima quarta, 19h30, na sede do Sindicato dos Ferroviários. Desse grupo, além dos dois, fizeram parte dos professores Voltaire e Geraldo Bérgamo (hoje no PCB), além de vários representantes do PSOL.

Outro a circular rapidamente é Nélson Fio, ex-secretário de Assuntos Comunitários. Não passaram nem cinco minutos e um lhe bate às costas: “Esse é o homem dos bloquetes”. Quem possui um bom entendimento sobre a questão é o professor Rubens Colacino, que numa animada roda diz: “Os israelenses estão reproduzindo hoje o que eles sofreram no passado. O sofrimento do Holocausto não lhes valeu para nada”. Logo a seguir, chega um famoso trio político da cidade, formado por Isaías Daiben, Darcy Rodrigues e Milton Dota. “O parasita não suga o sangue do seu próprio povo. Ele suga o dos outros. No mundo todo, não compram imóveis e sim, pedras, essas coisas, pois com um pé na bunda, seguem com suas riquezas para outro lugar”, afirma um inconformado Dota, com irmã residindo em Ramalá, ao lado da região em conflito.

Por volta das 12h o grupo vai se dispersando naturalmente. Fome e sede se abatem sobre todos. Um fez questão de lembrar: “E nem isso os palestinos estão podendo fazer hoje, pois passam fome e sede. Crueldade e insanidade de um governo israelense déspota e insano”. Quem confirma resistir “até o arroz secar” são os dois assessores, que continuarão no local, em revezamento na parte da tarde. Antes da despedida, uma foto ao lado do ferroviário e sindicalista Roberval, provando que também estive participando ativamente da manifestação, como sempre fiz em minha vida. E dessa forma, Bauru também repudia e pede o fim imediato aos ataques contra Gaza, conclamando apoio incondicional a luta do povo palestino.

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