FUGINDO DO CARNAVAL PARA O MATO
Tem quem goste do Carnaval e por nada nesse mundo arreda pé do que ele proporciona. Tem quem fuja dele e prefira descansar em casa. Outros, com mais recursos, viajam para bem longe. Os que necessitam ficar aqui por perto, ou estando com os recursos mais do que escassos e não agüentando o calor, o clima modorrento de Bauru por esses dias, procuram alternativas variadas para passar esses dias. Uma das saídas ainda são os rios espalhados pela região. Todos são muito procurados, principalmente nos finais de semana. Fui conhecer um desses locais, talvez um dos menos conhecidos e conto aqui o que presenciei.
Manhã de domingo de carnaval, acordo pouco depois das 10h, após uma noite bailando. Sol a pino lá fora, o telefone toca e uma amiga me convoca: “Venha conhecer a cachoeira do Babalim. Não vai se arrepender. É um recanto parasidiaco. Vou nesse momento”. Não me deu tempo para pensar. Fui. O caminho me é conhecido. Passo por ele todas as vezes que vou ao rancho de um ex-cunhado (ex-cunhado, para mim, continuará sendo sempre cunhado). Sigo pela estrada de Arealva até a entrada de Santa Izabel, um pequeno bairro rural dessa cidade. Ali, entro à direita. O asfalto termina na vila e são mais uns quinze quilômetros de terra. Chão batido, sem problemas. Passo por uma primeira cachoeira, lotada de barracas e fumaça subindo aos céus. Toco em frente.
Mais alguns quilômetros, uma placa com os dizeres, “Cachoeira Babalim”, indica que chegamos ao local. Difícil foi encontrar lugar para o carro na sombra. Veículo estacionado, uma outra placa indica uma das únicas regras a serem seguidas por ali, “Proibido trazer garrafas e copos de vidros para o rio”. Eles não cobram nem para estacionar, muito menos para freqüentar o local. Tudo de graça, mas o consumo de bebidas terá que ser feito no local. A comida eles até fazem vista grossa, pois só servem almoço se for feita reserva antecipada. O lucro dos proprietários está nesse consumo.
“Nosso negócio vai sempre bem quando o tempo está bom. Com tempo bom, todo o resto estará bom. Inauguramos o local como área de lazer e comércio há pouco mais de onze anos e vamos melhorar a cada dia”, diz Roberta Babalim, uma jovem de pouco mais de 20 anos, que administra o local com o marido, Ronaldo Babalim. Tempo bom para eles é um sol quente e forte como o instalado no céu naquele dia. A mãe dela, Lady Di, como gosta de ser chamada, supervisiona tudo, mas passou o bastão para o jovem casal. “O Vandir, meu marido, morreu e herdei dele o apelido Di, o nome Lady é meu mesmo e não tem nada a ver com o da rainha inglesa”, acaba me explicando o significado do seu nome.
Fomos ver o rio e uma corredeira das mais agradáveis. O rio é estreito, não passando de uns cinco metros de largura e raso, com água batendo pela canela. Alguns poucos baciões aumentam sua profundidade. O diferencial do local são as pedras, propiciando uma corredeira, onde se pode desfrutar de posições inusitadas para o banho de rio. “Ali no meio das pedras é como se fosse uma cadeira de descanso, você senta no meio delas e a água escorre, pelos lados, ficando só com parte do ombro e a cabeça para fora”, me conta um freqüentador do local. Experimentei e não mais queria sair dali. Andar pelo leito do rio não oferece risco, mas alguns cuidados. Andando devagar, não ocorrerão surpresas. No todo o local é muito bom e nas margens do rio, um gramado fofo, como uma espécie de acolchoado, propicia o estender das tolhas e o desfrute do sol. Com moderação, como afirmam os médicos em relação aos raios solares. Observamos um banhista com as costas todas vermelhas e imaginamos o sofrimento que terá nos próximos dias.
Os freqüentadores, na sua grande maioria, são constituídos de pessoas simples, das camadas periféricas de várias cidades da região. Muitas famílias e algo que chama muito a atenção. Os homens, quase todos, usam bermudões e as mulheres, poucas se arriscam a usar biquínis. É estranho vê-las usando um short por cima da peça de baixo e até uma camiseta por cima do sutiã. Durante as quase três horas que por ali permanecemos, nenhuma briga, só diversão. “Aqui não acontece quase desentendimento, muito menos problemas. Na maioria são famílias e grupos pequenos de pessoas. Tanto que não recebo a cada venda feita. Abro uma espécie de conta, vou marcando e me pagam na hora de ir embora. São poucos os casos em que preciso ir correndo atrás de alguém na saída”, conta Ronaldo Babalim.
Num dia como aquele, acredito que estavam ali umas cem pessoas. Quase todos desfrutando das benesses das águas do Ribeirão Bonito, o nome do rio. Quero saber sobre a poluição das águas e quem me explica são os dois proprietários, de forma alternada: “Aqui não existe poluição. O rio nasce logo ali perto de Santa Izabel. Não passa por cidade nenhuma e nenhum esgoto é jogado nele”. Minha companheira na viagem, Gisele Pertinhes, freqüentadora habitual do local, me faz comer os pastéis, especialidade da cozinha caseira. “Aqui quando alguém quer almoçar, tem que avisar cedo. Fazemos uma galinhada, criada aqui mesmo, tudo caipira, com polenta”, conta Ronaldo.
Roberta cuida de detalhes mínimos do local. Defronte o balcão do “Bar Balim”, montou uma banca de flores do local, expostas em pequenos vasinhos e ao fundo, ocupando um outro barracão, algo que chama muito a atenção, um museu. Escrito com letras desiguais, um pequeno reservado está repleto de peças rurais, desde antigas rodas de carroções, a esporas, bules, chaleiras, cumbucas, panelas de ferro e até purungas. “Juntei tudo, mas ainda preciso melhorar o local. Falta uma identificação das peças, preparar melhor a apresentação”, relata Roberta. Ambos acreditam muito no futuro do local, tanto que participam regularmente de reuniões do SEBRAE sobre Turismo Rural. Trazem livros, apostilas e até uma cartilha impressa com atrações da região, onde o local merece destaque.
Antes de sairmos passamos no meio de um bando de marrecos e patos, todos muito juntos. Num viveiro algumas aves permitidas de permanecerem em cativeiro e um campo de bocha do outro lado do bar. Os atrativos são muitos e o maior deles, o rio, suas águas tranqüilas e diferenciadas. Visual bonito, recanto de muita paz e tranqüilidade, ótimo para recarregar energias. E assim, recarregados, nos despedimos dos novos amigos feitos por lá e voltamos para desfrutar dos resquícios carnavalescos. Voltar é algo que, com certeza, acontecerá mais cedo do que se espera.
Tem quem goste do Carnaval e por nada nesse mundo arreda pé do que ele proporciona. Tem quem fuja dele e prefira descansar em casa. Outros, com mais recursos, viajam para bem longe. Os que necessitam ficar aqui por perto, ou estando com os recursos mais do que escassos e não agüentando o calor, o clima modorrento de Bauru por esses dias, procuram alternativas variadas para passar esses dias. Uma das saídas ainda são os rios espalhados pela região. Todos são muito procurados, principalmente nos finais de semana. Fui conhecer um desses locais, talvez um dos menos conhecidos e conto aqui o que presenciei.
Manhã de domingo de carnaval, acordo pouco depois das 10h, após uma noite bailando. Sol a pino lá fora, o telefone toca e uma amiga me convoca: “Venha conhecer a cachoeira do Babalim. Não vai se arrepender. É um recanto parasidiaco. Vou nesse momento”. Não me deu tempo para pensar. Fui. O caminho me é conhecido. Passo por ele todas as vezes que vou ao rancho de um ex-cunhado (ex-cunhado, para mim, continuará sendo sempre cunhado). Sigo pela estrada de Arealva até a entrada de Santa Izabel, um pequeno bairro rural dessa cidade. Ali, entro à direita. O asfalto termina na vila e são mais uns quinze quilômetros de terra. Chão batido, sem problemas. Passo por uma primeira cachoeira, lotada de barracas e fumaça subindo aos céus. Toco em frente.
Mais alguns quilômetros, uma placa com os dizeres, “Cachoeira Babalim”, indica que chegamos ao local. Difícil foi encontrar lugar para o carro na sombra. Veículo estacionado, uma outra placa indica uma das únicas regras a serem seguidas por ali, “Proibido trazer garrafas e copos de vidros para o rio”. Eles não cobram nem para estacionar, muito menos para freqüentar o local. Tudo de graça, mas o consumo de bebidas terá que ser feito no local. A comida eles até fazem vista grossa, pois só servem almoço se for feita reserva antecipada. O lucro dos proprietários está nesse consumo.
“Nosso negócio vai sempre bem quando o tempo está bom. Com tempo bom, todo o resto estará bom. Inauguramos o local como área de lazer e comércio há pouco mais de onze anos e vamos melhorar a cada dia”, diz Roberta Babalim, uma jovem de pouco mais de 20 anos, que administra o local com o marido, Ronaldo Babalim. Tempo bom para eles é um sol quente e forte como o instalado no céu naquele dia. A mãe dela, Lady Di, como gosta de ser chamada, supervisiona tudo, mas passou o bastão para o jovem casal. “O Vandir, meu marido, morreu e herdei dele o apelido Di, o nome Lady é meu mesmo e não tem nada a ver com o da rainha inglesa”, acaba me explicando o significado do seu nome.
Fomos ver o rio e uma corredeira das mais agradáveis. O rio é estreito, não passando de uns cinco metros de largura e raso, com água batendo pela canela. Alguns poucos baciões aumentam sua profundidade. O diferencial do local são as pedras, propiciando uma corredeira, onde se pode desfrutar de posições inusitadas para o banho de rio. “Ali no meio das pedras é como se fosse uma cadeira de descanso, você senta no meio delas e a água escorre, pelos lados, ficando só com parte do ombro e a cabeça para fora”, me conta um freqüentador do local. Experimentei e não mais queria sair dali. Andar pelo leito do rio não oferece risco, mas alguns cuidados. Andando devagar, não ocorrerão surpresas. No todo o local é muito bom e nas margens do rio, um gramado fofo, como uma espécie de acolchoado, propicia o estender das tolhas e o desfrute do sol. Com moderação, como afirmam os médicos em relação aos raios solares. Observamos um banhista com as costas todas vermelhas e imaginamos o sofrimento que terá nos próximos dias.
Os freqüentadores, na sua grande maioria, são constituídos de pessoas simples, das camadas periféricas de várias cidades da região. Muitas famílias e algo que chama muito a atenção. Os homens, quase todos, usam bermudões e as mulheres, poucas se arriscam a usar biquínis. É estranho vê-las usando um short por cima da peça de baixo e até uma camiseta por cima do sutiã. Durante as quase três horas que por ali permanecemos, nenhuma briga, só diversão. “Aqui não acontece quase desentendimento, muito menos problemas. Na maioria são famílias e grupos pequenos de pessoas. Tanto que não recebo a cada venda feita. Abro uma espécie de conta, vou marcando e me pagam na hora de ir embora. São poucos os casos em que preciso ir correndo atrás de alguém na saída”, conta Ronaldo Babalim.
Num dia como aquele, acredito que estavam ali umas cem pessoas. Quase todos desfrutando das benesses das águas do Ribeirão Bonito, o nome do rio. Quero saber sobre a poluição das águas e quem me explica são os dois proprietários, de forma alternada: “Aqui não existe poluição. O rio nasce logo ali perto de Santa Izabel. Não passa por cidade nenhuma e nenhum esgoto é jogado nele”. Minha companheira na viagem, Gisele Pertinhes, freqüentadora habitual do local, me faz comer os pastéis, especialidade da cozinha caseira. “Aqui quando alguém quer almoçar, tem que avisar cedo. Fazemos uma galinhada, criada aqui mesmo, tudo caipira, com polenta”, conta Ronaldo.
Roberta cuida de detalhes mínimos do local. Defronte o balcão do “Bar Balim”, montou uma banca de flores do local, expostas em pequenos vasinhos e ao fundo, ocupando um outro barracão, algo que chama muito a atenção, um museu. Escrito com letras desiguais, um pequeno reservado está repleto de peças rurais, desde antigas rodas de carroções, a esporas, bules, chaleiras, cumbucas, panelas de ferro e até purungas. “Juntei tudo, mas ainda preciso melhorar o local. Falta uma identificação das peças, preparar melhor a apresentação”, relata Roberta. Ambos acreditam muito no futuro do local, tanto que participam regularmente de reuniões do SEBRAE sobre Turismo Rural. Trazem livros, apostilas e até uma cartilha impressa com atrações da região, onde o local merece destaque.
Antes de sairmos passamos no meio de um bando de marrecos e patos, todos muito juntos. Num viveiro algumas aves permitidas de permanecerem em cativeiro e um campo de bocha do outro lado do bar. Os atrativos são muitos e o maior deles, o rio, suas águas tranqüilas e diferenciadas. Visual bonito, recanto de muita paz e tranqüilidade, ótimo para recarregar energias. E assim, recarregados, nos despedimos dos novos amigos feitos por lá e voltamos para desfrutar dos resquícios carnavalescos. Voltar é algo que, com certeza, acontecerá mais cedo do que se espera.
Me leva...
ResponderExcluirL.T.
HENRIQUE,
ResponderExcluirnão conhecia, gostei e salvei.
Da próxima vez dá para colocar um mapa, calcado no rodoviário ?
Parabéns.
MURICY
vou geralmente finald semana com familia e amigos d bauru passar horas agradaveis com a lady e roberta e pessoal d la sao muito acolhedores
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