DIÁRIO DE CUBA (28)
ADEUS CIENFUEGOS, CAMINHADAS INFINDÁVEIS E AS DORES NAS CANELAS
Acordo na manhã de 16/03/2008, um domingo e termino a leitura do livro que o Marcos havia comprado no Museu da Revolução, “Che y Fidel – Una amistad entrañade” (Editorial San Luis L Habana, Cuba, 2004, 84 pgs). Nos regalamos com um excelente café da manhã no hotel La Unión. Pouco depois das 9h estamos a decidir se seguimos em frente ou voltamos para Santa Clara. Chegamos a verificar vagas de hotéis em Trinidad e Camaguey pela internet. Uma surpresa ao sair do hotel, nossos relógios não batiam as horas. É que havia começado a zero hora o horário de verão cubano (até eles possuem o deles). Tínhamos um a hora a menos no hotel.
Desistimos de ir para essas cidades. A diária mais barata em Camaguey sairia por 58 pesos e a distância a ser percorrida de 350 km, passando por muitos vilarejos, chegando lá por volta da meia noite. Confabulamos à exaustão e a decisão foi a de voltarmos para Santa Clara no ônibus das 17h, novamente hospedados no Santa Clara Libre, por dois ou três dias. Lá iremos filmar as crianças nas escolas (os Pioneiros) com a famosa saudação ao Che pela manhã e depois entrevistar as professoras, nossas conhecidas, sobre a Educação e suas experiências dentro da Revolução.
Dessa forma, teríamos uma pequena parte da manhã livre, depois o fechamento da conta no hotel e outra parte livre até às 17h. Marcos prefere não sair mais pela manhã, eu saio só e vou fazer o que mais gosto, caminhar, tirar fotos, ver as pessoas e se possível, conversar. Fiz isso também à tarde, pois Marcos preferiu permanecer sentado na rodoviária. Eu gasto sola de sapato, melhor do único tênis que trouxe. Já na quadra de cima do terminal de ônibus está a Estação de Trens (Ferrocarril). Entro lá com toda a curiosidade do mundo. O saguão está vazio, apenas com uma TV ligada e a entrada para a plataforma aberta. Adentro e sigo em frente na direção de uma composição parada a uns 50 metros. Noto que me chamam da estação. O funcionário me diz das proibições, mas aceita caminhar comigo e me explica algo sobre o sistema ferroviário deles. Depois dei a volta e fui caminhar pelas ruas no entorno dos trilhos. Encontro até uma pequena oficina de reparos de trens. Dei uma volta completa na estação, uns 300 metros adiante e voltei pelo outro lado. Muitas edificações antigas. Minha máquina não parou de clicar um só instante.
Terminando a volta me deparo com um teatro entre a rodoviária e a estação, é a “Sala Teatro Guanaroca”. Um pequeno cartaz informava que ocorrem espetáculos infantis aos sábados e domingos, 11h. Havia perdido mais essa oportunidade, mas acabei conhecendo Yusiel, o rapaz que cuida da zeladoria do espaço. Ele me põe a mostrar todas as instalações. Tiro fotos no palco e as dele fico de enviar pelo email. De lá volto a caminhar e virando a direita, junto a uma igreja católica (funcionando normalmente), um prédio imenso de uns três pavimentos, todo oco, só a carcaça. Devia ter sido um convento ou escola religiosa. Deve ter sido fechada pela proibição de ensino pago, pois lá o ensino é público e totalmente gratuito. Volto para a rodoviária, tomo uma cerveja Bucanero e levo um refresco de limão para meu companheiro de viagem.
Marcos não quer caminhar, eu pelo contrário, não consigo permanecer ali sentado. Ele me faz uma observação: “Os cubanos viajam muito e para todos os lados”. Isso desmente o que dizem no Brasil, que eles mal podem sair de suas cidades. Podem sim, e só o deixam de fazer pelos mesmos motivos nossos, quando falta grana para a passagem. Volto a caminhar e começo a ter os primeiros problemas com dores nas canelas, que incham devido a essas andanças sem fim e a falta de costume. Vou andando assim mesmo, desço a rua da rodoviária até uma praça com motivos revolucionários, à esquerda um grande hospital e ao lado uma Escola de Artes. Fotografo tudo, inclusive uma ave morta, com uma fita vermelha atada ao pescoço. Deve ser coisa da Santeria. Num muro uma inscrição interessante sobre os irmãos Fidel e Raul. Pouco antes de embarcar conhecemos outra pessoa marcante, o representante da empresa Astro/Via Zul, Pedro Avellanes Espinosa, que nos leva para sua sala. Lá ficamos a conversar até o ônibus chegar, mas tenho que contar o que nos disse só no próximo relato.
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