O INQUISIDOR E SUA FOGUEIRA EM AÇÃO
Último dia de abril. Fiz planos de viajar, ampliar os negócios, melhorar as vendas. Era para ficar o dia inteiro fora. Ontem quando voltei do excelente show do trombonista Raul de Souza no SESC (o terceiro dele em Bauru, o terceiro no SESC e o terceiro que fui, dessa vez com as cubanas Hilda e sua neta Viviana, mais o amigo Marcos Paulo) fui procurar um livro aqui no mafuá, numa estante meio que escondida, cheia de caixas com coleção de revistas. Ao achar o livro me deparo com um trilho de cupins, os piores possíveis, aqueles que vêm da terra e fazem em caminho na parede. Não quis mexer naquele momento, estava com sono, mas não nego que sonhei com os bichinhos invadindo meus livros e passei uma noite meio que em claro. Casa velha, piso ainda de taco, mais o descuido habitual, eles proliferam que é uma beleza. Acordo e antes de viajar vou averiguar a extensão do problema. Quase cai de costas. Os ditos cupins tinham tomado conta de uma estante, subindo por detrás das laterais do suporte de metal. Só fui notar a presença deles agora (e depois dizem que não são inteligentes. Sobem na parte oculta da parede e não às claras). Era tarde. Foi uma das piores manhãs que passei nos últimos anos. Fiz uma fogueira defronte minha casa e bem no estilo da inquisição, queimei os irrecuperáveis. Livros e mais livros, colecionados ao longo de uma vida jogados ao fogo. Muitos eu salvei, mesmo com marcas dos bichos em suas páginas. Limpei, higienizei e volto a guardar, dessa vez num local mais seguro. Me sentia um verdadeiro inquisidor na beira das chamas queimando alguns do primeiros números da Caros Amigos, os dois volumes do Memória do Cárcere, do Graciliano, a coleção completa da revista Reportagem e muitos de quadrinhos, a Circo, Chiclete com Banana e os Piratas do Tietê. Vê-los ardendo no fogo doeu demais. Não fiz outra coisa a manhã toda. Esqueci o trabalho e iniciei um retiro, mergulhando fundo na recuperação de tudo que ainda tenho aqui, desde muitos outros livros, LPs, CDs, coleções completas do Pasquim, Pasquim 21, Bundas e tantas outras. Nesse momento cheiro a querosene e só arredo pé daqui quando tudo tiver uma outra cara. Tinha planos de vender alguma coisa hoje, levar o filho no cinema, talvez ver o Dusek à noite, mas nada é mais importante para mim do que dar uma cara nova para esse maltratado mafuá. Os cupins venceram uma batalha, mas não a guerra. E eu me demoro demais na arrumação, pois cada peça que pego, abro, leio um pouco e só depois dou uma destinação para ela. Por sorte amanhã é feriado. Dia de muito trabalho por aqui.
Último dia de abril. Fiz planos de viajar, ampliar os negócios, melhorar as vendas. Era para ficar o dia inteiro fora. Ontem quando voltei do excelente show do trombonista Raul de Souza no SESC (o terceiro dele em Bauru, o terceiro no SESC e o terceiro que fui, dessa vez com as cubanas Hilda e sua neta Viviana, mais o amigo Marcos Paulo) fui procurar um livro aqui no mafuá, numa estante meio que escondida, cheia de caixas com coleção de revistas. Ao achar o livro me deparo com um trilho de cupins, os piores possíveis, aqueles que vêm da terra e fazem em caminho na parede. Não quis mexer naquele momento, estava com sono, mas não nego que sonhei com os bichinhos invadindo meus livros e passei uma noite meio que em claro. Casa velha, piso ainda de taco, mais o descuido habitual, eles proliferam que é uma beleza. Acordo e antes de viajar vou averiguar a extensão do problema. Quase cai de costas. Os ditos cupins tinham tomado conta de uma estante, subindo por detrás das laterais do suporte de metal. Só fui notar a presença deles agora (e depois dizem que não são inteligentes. Sobem na parte oculta da parede e não às claras). Era tarde. Foi uma das piores manhãs que passei nos últimos anos. Fiz uma fogueira defronte minha casa e bem no estilo da inquisição, queimei os irrecuperáveis. Livros e mais livros, colecionados ao longo de uma vida jogados ao fogo. Muitos eu salvei, mesmo com marcas dos bichos em suas páginas. Limpei, higienizei e volto a guardar, dessa vez num local mais seguro. Me sentia um verdadeiro inquisidor na beira das chamas queimando alguns do primeiros números da Caros Amigos, os dois volumes do Memória do Cárcere, do Graciliano, a coleção completa da revista Reportagem e muitos de quadrinhos, a Circo, Chiclete com Banana e os Piratas do Tietê. Vê-los ardendo no fogo doeu demais. Não fiz outra coisa a manhã toda. Esqueci o trabalho e iniciei um retiro, mergulhando fundo na recuperação de tudo que ainda tenho aqui, desde muitos outros livros, LPs, CDs, coleções completas do Pasquim, Pasquim 21, Bundas e tantas outras. Nesse momento cheiro a querosene e só arredo pé daqui quando tudo tiver uma outra cara. Tinha planos de vender alguma coisa hoje, levar o filho no cinema, talvez ver o Dusek à noite, mas nada é mais importante para mim do que dar uma cara nova para esse maltratado mafuá. Os cupins venceram uma batalha, mas não a guerra. E eu me demoro demais na arrumação, pois cada peça que pego, abro, leio um pouco e só depois dou uma destinação para ela. Por sorte amanhã é feriado. Dia de muito trabalho por aqui.
Força Henrique...vc vence mais essa batalha...
ResponderExcluirUm abraço...
E na sua habitual cara-de-pau? Os cupins não chegaram?
ResponderExcluirAinda bem, não conseguiríamos viver sem ela!!!