UMA DICA (41)
INTRIGAS DE ESTADO, O FILME SOBRE BASTIDORES DE UMA REDAÇÃO DE JORNAL
Fui assistir ontem com meu filho “Intrigas de Estado” (State of Play, 2009), um filme que presta homenagem ao “velho” jornalismo. Pouco sabia do filme, a não ser o fato de ser baseado numa série já exibida pela BBC. Nem sei comentar filmes, simplesmente gosto ou não. Do tema, idem. Esse me atraiu de cara, talvez por ser lançado no auge da crise dos grandes jornais mundiais, quase todos prestes a fecharem suas portas, numa onda crescente de perda de leitores para os meios de leitura viam internet. Adoro papel e a tradição dos impressos. Por outro lado, a trama mergulha nos meandros da indústria bélica e nos jogos indecentes da segurança mundial patrocinados pelas corporações norte-americanas. Não poderia perder. Russell Crowe e Bem Affleck nos papéis principais. A empatia com o jornalista Call McAffrey (Russell) foi à primeira vista, talvez pelo fato de seu local de trabalho, sua mesa ser tão caótica quanto a existente no meu mafuá particular. Cara de um focinho do outro. Uma zona.
O fato que me fez escrever sobre o filme não foi para contar sua sinopse. Isso está mastigadinho na internet. Quero fazer uma breve comparação com qualquer redação existente hoje em dia. Existem ainda jornalistas com o grau de independência do personagem central do filme? Seria possível, dentro dos parâmetros atuais, algum com coragem suficiente para bater de frente com o mandarim do jornal? Investigações desse tipo ainda são possíveis (e permitidas)?Vejo poucas possibilidades, quase nulas. Os interesses de qualquer grupo jornalístico indicam as pautas e os limites de cada jornalista estão mais do que explícitos. Muito poucos ousam ultrapassar uma linha limítrofe entre investigação jornalística e interesses do grupo empresarial em que trabalha. Lhufas para a liberdade de imprensa. Para ficar num só exemplo, mijo nas calças de tanto rir, só de imaginar o pessoal da atual linha editorial da semanal Veja tentando produzir uma matéria investigativa que contrarie os interesses dos Civita e da elite mandatária da imprensa tupiniquim. Lemos o que esse povo quer e da forma como entendem que devemos tomar conhecimento dos fatos.
Viajei com as possibilidades do filme e acho que todo jornalista deve assisti-lo, pelo menos servindo como reflexão para uma comparação com o seu ambiente de trabalho. Conto também o que mais gostei do filme. Foi após a cena final, quando começam as legendas e são mostradas cenas do jornal sendo impresso em todas suas etapas, até a revelação da manchete que encerra a história. Para quem é apaixonado por jornais impressos, como eu, foi emocionante.
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