ELUCUBRAÇÕES EM TORNO DO TEMA ‘RELIGIÃO’
Esse tema me domina. Volto a ele constantemente. Hoje o faço novamente. Ontem quase no intervalo do jogo Brasil x Argentina, saio para buscar o filho do show de um guitarrista. Pensava em ir escutando o jogo no rádio do carro. Nas rádios AMs de Bauru, predominava a pregação evangélica, 23h, tudo dominado. Fiquei a escutar a ladainha e sinceramente, não sei como alguém em sã consciência consegue se deixar levar por algo tão escandaloso, algo mercantilista ao extremo. É um verdadeiro crime o que certas igrejas fazem com o povo menos esclarecido (não só eles, viu!). Isso para mim é caso de polícia, estelionato puro. Coloco no mesmo enquadramento quem aceita propaganda desse tipo em seu veículo de comunicação. O aceitar o dinheiro fácil, vindo de qualquer fonte é tão vil e condenável quanto o de quem o expele.
Dias atrás estava em Presidente Prudente e passando pela praça central, paro para ouvir um daqueles pastores com caixas de som em alto volume (impossível acreditar como isso é permitido). O engravatado falava para as moscas, mas o fazia em alto e bom som: “Os cientistas são uns grandes mentirosos. Querem nos enganar. Apregoam que existe vida na Terra há milhões e milhões de anos e isso é para desmerecer Cristo. Está na Bíblia, Cristo diz que isso ocorreu há 4000 mil anos atrás. Querem saber a verdade, leiam a Bíblia, lá está tudo o que precisam saber e não acreditem nesses mentirosos”. Dá para discutir com gente assim, que renega a ciência. O que afirmo é que o emburrecimento é maior do que se imagina. Diante de um povo cada vez mais crente, menos culto, mais fácil é a dominação. O próprio pastor a ladravar não possui discernimento para fazê-lo, mas se acha um enviado dos céus e em nome disso fala absurdos. Isso que vos escrevo não tem nada a ver com intolerância religiosa e sim, tudo a ver com intolerância a apologia a uma besteira que foram incutindo na mente das pessoas e que as tornam mais tristes, abnegadas, chatas e perigosas. Quer coisa mais chata do que ouvir um discurso desses, totalmente fora de propósito. O perigo é quando essa “talebanização” se tornar maioria. Eu, com certeza, estarei “fu”.
Minha amiga Marisa Fernandes envia um e-mail da seguinte forma: “minha indignação (essas minhas indignações me deixaram doente, sabia?) é que creio ser um absurdo o ensino religioso nas escolas, discordo plenamente, a questão da religião é uma questão de família, e as famílias atéias, e os agnósticos, os budistas, hinduistas, etc... Como ficam os filhos dessas famílias no meio disso tudo? Isso tinha que mudar, nem todos são cristãos ou professam alguma religião. Ensine-se então filosofia e ensine-os a pensar! Não tenho visto nada nas atividades do meu filho na escola, mas vou ter que ficar de olho e me posicionar, se é que vai adiantar, pois provavelmente serei a minoria. Gostaria de te ouvir...”. Isso me instiga a continuar cutucando a onça com a vara curta. É que junto ela envia um longo texto, “Brasília, 27 agosto (EFE)- Congressistas católicos e evangélicos aprovaram no plenário da Câmara dos Deputados o acordo assinado com o Vaticano e um projeto de lei. (...) O acordo prevê direitos já existentes no país como o ensino religioso nas escolas públicas, isenções fiscais, imunidade das entidades religiosas perante as leis trabalhistas, sigilo de ofício dos sacerdotes e o valor civil do casamento católico. (...) Destaca a importância do ensino religioso nas escolas públicas, mas aclara que pode ser católico ou de outra religião, uma decisão que é facultativa das escolas. (...) Apesar do acordo entre os partidos majoritários, os dois acordos foram aprovados com o veto de legisladores de pequenos partidos, como o PSOL, que qualificou a manobra como um fruto do "mercado da fé". Segundo dados oficiais, enquanto a percentagem de católicos na população brasileira caiu de 83% no Censo de 1991 a 74% no de 2000, o de evangélicos subiu de 9,1% a 15,4% no mesmo período, e o dos que se declara sem religião passou de 4,8% a 7,4%”. Não tenho mais o que dizer sobre isso, a não ser referendar sua ótima sugestão, a de que se ensine no lugar disso tudo, FILOSOFIA. Que se ensine esse povo a pensar. Uma geração mais lúcida surgirá. Dessa atual pouco ou quase nada espero.
Do também amigo Antonio Carlos Pavanatto recebo um provável texto do frei Leonardo Boff, escrito após um diálogo com o Dalai Lama. Serve para as reflexões finais:"No intervalo de uma mesa redonda sobre religião entre os povos, na qual ambos (eu e o Dalai Lama) participávamos, eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico, lhe perguntei em meu inglês capenga: - "Santidade, qual é a melhor religião?" (Your holiness, what`s the best religion?)Esperava que ele dissesse: "É o budismo tibetano" ou "São as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo." O Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, me olhou bem nos olhos - o que me desconcertou um pouco, por que eu sabia da malícia contida na pergunta - e afirmou: "A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus, do Infinito". É aquela que te faz melhor." Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, voltei a perguntar: - "O que me faz melhor?" Respondeu ele: -"Aquilo que te faz mais compassivo" (e aí senti a ressonância tibetana, budista, taoísta de sua resposta), aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável... Mais ético... A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião..." Calei, maravilhado, e até os dias de hoje estou ruminando sua resposta sábia e irrefutável...Não me interessa amigo, a tua religião ou mesmo se tem ou não tem religião. O que realmente importa é a tua conduta perante o teu semelhante, tua família, teu trabalho, tua comunidade, perante o mundo...".
Em religião ou voce usa ou é usado.
ResponderExcluirSegue de minha lavra umas quadrinhas bem a calhar:
1
realmente é o ópio do povo
enebria as multidoes
quem procura pêlo em ovo
encontra nas religiões
2
tres criações do homem
o fez para sempre escravo
até hoje nos consome
dinheiro, deus e o estado
um forte abraço...
lázaro carneiro