domingo, 20 de setembro de 2009

UM COMENTÁRIO QUALQUER (52)

É PROIBIDO PROIBIR, MAS CONTINUAM PROIBINDO, CADA VEZ MAIS
O mundo de hoje está ficando um tanto chato, cheio de proibições, de não me toques e de lugares onde o acesso está cada vez mais restrito. Acompanho aqui em Bauru a proibição da venda das bananas em dúzia, que a partir de agora só podem ser comercializadas por quilo. Feirantes estão revoltados, pois de uma hora para outra terão que comprar caras balanças e de forma coercitiva por fim a um tipo de venda que é secular. Alguém lá de cima, sem conhecer nada daqui de baixo, impôs isso e pronto, muda-se tudo, a fórceps. Nada que uma boa “Revolta das Bananas” não resolva. Uma rebelião e aquilo que está tão em falta nos dias hoje, o tal da “união faz a força” e “povo unido jamais será vencido”. Esse negócio do cigarro sendo proibido em tudo quanto é lugar também é abusivo e exagerado. Fuma quem quer e tudo bem que em alguns lugares deve ser mesmo proibido, mas não da forma generalizada como foi feito. Eu nem fumo, mas luto até o fim pelas liberdades individuais. Diante do cartaz, no escritório do amigo Daniel, preguei um adendo, que ficou famoso por lá: “Soltar gases, pode!” (por enquanto, viu). A praia tal é reservada, no horário tal não pode mais circular o carro da placa xis, cerveja em campo de futebol nem pensar, posicionamento diferente do convencional não é bem visto e um monte de outras coisas. De chatice em chatice, não falta muito para sermos interditados e baixarmos num almoxarifado qualquer. No Rio de Janeiro, outra aberração: “Será estuprada uma das mais bacanas formas de viver o Rio de Janeiro: na praia, lata de cerveja na mão (ainda se pode beber na praia...), mar à frente, mas sem o queijo coalho de todo final de semana, sem o camarão no espeto, tudo isso em nome de uma higiene e de uma uniformização que nos desumaniza a todos” (in Eduardo Goldenberg). Quem me falou disso outro dia foi a amiga Nilma Renildes da Silva, professora de Psicologia na UNESP Bauru (num dia em que fomos proibidos de beber cerveja num show do SESC). Pedi um texto para ela sobre o tema e ela me veio com um belo tratado, reproduzido quase na integra logo abaixo:

“Sobre as proibições:
Desde Freud, sabemos que a cultura se construiu em cima de castrações (...). No entanto, a castração como fenômeno existe e é amplamente utilizada como forma de educação e dominação.
Infelizmente as teorias de aprendizagem hegemônicas são aquelas que apregoam que para se apropriar do que foi social e historicamente acumulado, durante bilhões de anos, até tornarmos humanos é necessário reforçar as respostas adequadas e punir, proibir ou ignorar as inadequadas!(sic!)
O uso da força – a violência – (do latim vis) de um mero instrumento de dominação da natureza para transformá-la, pela atividade humana, passou a ser um fim em si mesmo, na organização social ora vigente. A violência como forma de educação perpassa todas as relações sociais, desde as domésticas até as relações políticas entre estados nações.
Enfim, tornou-se mais econômico em todos os aspectos, proibir do que educar! Construir leis punitivas do que processos educativos! Daí a transformar nossas cabeças em manicômios, prisões etc. é um “pulinho” visto que o indivíduo, também é um ser social e historicamente determinado.
Mas o legal de tudo isso é que o ser humano, enquanto tal, não está acabado, pronto. Nesse momento histórico nos encontramos assim, mas também estamos em constante transformação, somos metamorfose. Como estamos em construção, podemos mudar o que quisermos e buscar cada vez mais diminuir o uso das proibições nas relações sociais e apostar na construção de processos de sociabilidade!”.

Esse eterno proibir de cima para baixo só se resolve quando os proibidos virarem a mesa e passarem a desrespeitar as proibições. Grilhões são uma merda!
Obs.: Na foto maior, Nilma, num flash tirado num dia em que a cerveja estava fora da lista de proibições e a tirinha d'O Eremita, claro, é do Angeli.

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