BAURU POR AÍ (26)
DESPEDIDA DO IRREVERENTE PAULO KELLER
Paulo se foi de uma forma inesperada. Quando todos o achavam um rochedo, eis que um tsunami se abate sobre sua pessoa. Foi como um passarinho, sem grandes sofrimentos. Morrer dessa forma é sempre melhor, sem doenças, tendo que convalescer em cima de uma cama, essas coisas. Não privei de sua amizade, mas sempre que o encontrava rolava um papo descontraído. Era uma pessoa muito culta e num dos últimos, falava sobre uma coleção de discos de vinil, com as maiores divas da voz. Ele ensaiava suas cantorias, tendo a voz delas ao fundo. Devia ser lindo presenciar isso. A coleção está aí e precisa ser preservada, pois com toda a certeza, está recheada de verdadeiras raridades.
Raridade maior era o próprio Paulo. Nilma Renildes, essa sim sua amiga, outro dia me contou uma acorrida com eles. Estavam no Templo Bar e na hora de fechar queriam continuar papeando e bebericando algumas. Escolheram para tanto um lugar dos mais inusitados, um bar na esquina da Nações com a Batista de Carvalho, em plena boca da prostituição. E lá ficaram, sem serem molestados, fazendo o que gostam, jogando conversa fora. Paulo transitava por todos os lugares, com amizades tanto do lado de lá, como do de cá. E se dava bem em todos os lugares. Agora, onde gostava mesmo é de sua vila Falcão, onde escolheu para ser velado. O Neto, seu fiel escudeiro de tantos anos, sabia disso e o atende. Seu corpo está lá no velório Terra Branca da rua dos Andradas, seu reduto.
Escrevi dele aqui num Memória Oral publicado em 05/03/2009. Adorava tirar fotos fazendo caretas e algumas das que tirei ele está exatamente dessa forma. Sei que fazia um monte de coisas ao mesmo tempo, mas uma que admirava mesmo era a cantoria. Podia não possuir uma voz das mais significativas, mas sabia o que fazia e dedicado, como nas diversas atividades de sua vida, cantava com muito glamour. Lá no bar Alecrim, curti alguns carnavais onde dividiu o microfone com o Amantini e o amigo Serginho Araújo, também da Falcão. Nos Carnavais do único baile decente dos últimos anos aqui em Bauru, o de Veneza, na abertura dos festejos, outras vozes podiam se revezar, mas o seu lugar era intocável. Paulo fez por merecer e se sobressaia no que fazia. Perdemos um carnavalesco nato, um show-man e um dos poucos que ainda conseguia realizar uma espécie de “Bloco do Eu Sozinho”, pois era a própria festa. É mais um buraco na tentativa de recuperação da festa por aqui. Com poucos como ele, a cidade vai ficando mais triste, mais opaca, menos brincalhona, mais cheia de não me toques e seguindo meio que cegamente recomendações de algo execrável, o politicamente correto. Necessitamos de gente corajosa, que não tem medo de ser o que é, de se expor e de agir conforme o que manda o seu interior, sem se importar com os disque-disques. É mais um que irá fazer uma falta danada.
Sivaldo Camargo, amigo meu e dele, estava ensaiando um grande musical, o “Ponte Aérea”, com a junção das Sinfonias de São Paulo e a do Rio de Janeiro (obras de Billy Blanco) e Paulo seria um dos intérpretes principais. Os ensaios já estavam sendo feitos em algumas segundas e contaria com os integrantes do “Opinião”, maIs alguns, dentre eles, o talento e a voz do Paulo. Hoje está todo mundo muito triste e ontem à noite, no velório, foi lindo ver Martinha, Bitenka e Hilda Campos cantando por lá, fazendo o que ele mais gostava, soltar a voz.
OBS.: Todas as fotos são minhas e foram tiradas durante o último Carnaval, uma na rua e as demais no salão da Luso.
Perda irreparável. Também não era amigo do Paulo Keller, mas o via sempre nos mesmos lugares que frequento, nascendo daí uma empatia.
ResponderExcluirPaulo Lima
Caro Henrique,
ResponderExcluirEm primeiro lugar, quero lhe dizer que me tocou profundamente o registro sobre a morte do Paulo Keller. Figura ímpar, com a qual não tive grande oportunidade de conviver, mas que, com alegria e sabedoria, soube viver uma vida difícil, porém marcada pela superação. Fica, aqui, o meu adeus!
Agora, mudando de assunto, você não sabe a felicidade que foi encontrar notícias da Célia através do seu blog. Célia foi minha amiga de infância (minhas tias e minha mãe - Ângela, Izabel e Vilma - eram amigas da mãe dela e frequentavem os mesmos lugares, principalmente a mesma igreja), em uma epóca da qual tenho excelentes lembranças: brincadeiras na Igreja de São Benedito, piscina do SESI aos sábados, com a paçoquinha depois, claro! Tanta coisa... Que saudade dela!!!! Também adorei saber do Beto e da D. Edi depois de tanto tempo, e ver que estão todos bem.
Estou aqui, acompanhando de longe (moro em BH desde 1986), mas torcendo por todos e com o mesmo carinho e respeito de sempre.
Abraços,
Eliane
ResponderExcluirEsse negócio de internet e blog em alguns momentos me surpreende, como nesse exato momento. Você aí de BH, fazendo contato e falando de gente bem próxima de mim. Que bom, deixe aqui seu email, para que repasse a eles todos. Adentre sempre por aqui, pois encontrará notícias de Bauru, de gente daqui e a minha forma de encarar o mundo.
Abracitos bauruenses
Henrique - direto do mafuá
POis é!!!! 2 anos já!!!! Saudades P.K.
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