UMATESOURA EM VIAS DA APOSENTADORIA
A Alfaiataria Tesouro de Ouro funciona na mesma quadra da avenida Rodrigues Alves, centro de Bauru, desde 1955. Primeiro no nº 9-51, por 25 anos e depois, do outro lado na rua, no nº 9-68, mais 29 anos, totalizando 54 anos ininterruptos. Ali, em pleno funcionamento e sempre tendo à frente, o descendente direto de espanhóis, Maciel Ortiz, a incorporar o próprio nome do estabelecimento. Desconfiado na abordagem inicial, mas muito franco e aberto após alguns minutos de conversa, confessa que, hoje nas vésperas de completar 85 anos de vida (em 21/12), pensa em parar: “Talvez esse seja meu último ano por aqui, quero descansar, penso em vender o ponto. Aliás, só trabalho para não ficar parado dentro de casa”.
A Alfaiataria Tesouro de Ouro funciona na mesma quadra da avenida Rodrigues Alves, centro de Bauru, desde 1955. Primeiro no nº 9-51, por 25 anos e depois, do outro lado na rua, no nº 9-68, mais 29 anos, totalizando 54 anos ininterruptos. Ali, em pleno funcionamento e sempre tendo à frente, o descendente direto de espanhóis, Maciel Ortiz, a incorporar o próprio nome do estabelecimento. Desconfiado na abordagem inicial, mas muito franco e aberto após alguns minutos de conversa, confessa que, hoje nas vésperas de completar 85 anos de vida (em 21/12), pensa em parar: “Talvez esse seja meu último ano por aqui, quero descansar, penso em vender o ponto. Aliás, só trabalho para não ficar parado dentro de casa”.
Ele sempre trabalhou nessa profissão. Quando veio de Nova Europa para Bauru em 1944 já era alfaiate e o fez para cumprir as obrigações com o serviço militar, no antigo Tiro de Guerra. “Fui contra-mestre do alfaiate Fratiano durante seis anos, até conseguir me estabelecer. Quando cheguei aqui escapei da guerra, pois me apresentei com carteira de 3ª categoria. O presidente Dutra acabou nos anistiando depois e só voltei para Nova Europa, em 1949, para casar”, conta com muita empolgação, sem deixar de costurar uma calça na máquina de costura.
Sua história é sempre cheia de detalhes, pois Maciel não é homem de poucas palavras. Possui uma memória privilegiada e ao relatar algo, lembra-se de outros e as histórias se sucedem. “Esta é a oitava reportagem com a Tesoura de Ouro. Relembrar é comigo mesmo, pois já fiz roupa para meio mundo aqui em Bauru. Hoje os tempos são outros e acabo fazendo ternos para aqueles que não existem manequins, como os gordos. Para aqueles que não encontram numeração nas lojas. Não entro em competição de preço, o meu terno sai de R$ 500 a R$ 600 e sei que nas lojas vendem três vezes mais barato que aqui. Hoje, no máximo faço de cinco a sete por mês. Na maioria das vezes trabalho sozinho e só quando aperta, distribuo para outros me ajudarem. Mais arriscado ainda é trabalhar para gente que não quer pagar. Leva a peça pronta e sobra a canseira de ficar cobrando. Tenho alguns casos assim”, conclui sem ressentimentos, mas ciente de que exerce uma profissão quase em extinção.
Quando lhe pergunto sobre o passado, parece respirar um pouco antes de responder: “O que ocorreu na profissão é estranho. Hoje as pessoas alugam o terno e devolvem, tudo por volta de uns R$ 100 reais. Isso é estranho para mim. Quando comecei nem se pensava em emprestar um terno de outra pessoa para uma festa, um casamento. No passado, uma mulher alugar um vestido para uma festa era uma vergonha. A época é outra e tenho que ir me adaptando. Deixei de fazer smokings, porque as pessoas acham muito mais barato alugar”. Ele que se aposentou em 1984, afirma também, que "se não tivesse sido econômico, hoje estaria em dificuldades, pois no início recebia seis salários e hoje não passo dos três mínimos".
Na continuidade da conversa faz uma reflexão muito interessante sobre a profissão: “Em 1943 aqui em Bauru tinha uns 30 alfaiates e 46 mil habitantes. Hoje somos 300 mil e pouco e somente uns quatro estabelecidos e mais uns quatro trabalhando em casa. A profissão foi acabando. Não arrumo mais um oficial para ensinar a profissão. Cheguei a ter oito empregados em 1960, ganhei dinheiro, apliquei e fiz um pequeno pé de meia. Seria até falta de caridade eu ensinar uma criança a profissão e fazer ela passar dificuldades. Não faria isso. Ela não teria o que fazer daqui a alguns anos”.
“Já fiz roupa para meio mundo, desde prefeitos, deputados e não gosto de ficar citando as posições. Trabalhei para todas as classes, fiz muitos ternos para ferroviários. Já fiz terno em dez prestações. Todo jovem tinha o seu terno e gostava de usar nos mais diferentes lugares”, relata quando lhe perguntei quem mais compravam ternos. Isso faz com que toque em outro assunto: “Todo mundo me pergunta dos motivos da profissão de alfaiate estar em extinção e você não me perguntou isso. Já sabe a resposta, né? Em 1997 fui à Europa e lá já presenciei a decadência. As profissões que não se organizam, não se modernizam, acabam fenecendo. Eu não quis me industrializar, teria que gastar muito, sem a certeza do retorno. Preferi continuar do mesmo jeito que comecei e sobrevivi”.
“Uma das coisas que mais me realizaria hoje era uma dedicação para a parte social, trabalhar para os pobres. Estou sentindo também uma necessidade de ficar mais em casa, curtir a esposa Isa, pois ela não está bem de saúde. Tenho que pensar nisso também, mas quando penso em abandonar, bate uma dorzinha lá no fundo. Ainda estou pensando”, conta sobre a vontade de parar. Por fim acaba por se lembrar de um conselho dado pelo seu filho: “Ele me pede para ficar só para receber os amigos e para não ficar em casa sem fazer nada. Tem as duas coisas. Nada ainda está decidido, pois pago aluguel aqui há 54 anos”. Quando saio à porta para as despedidas, olha para o movimento e percebo o quanto ele sentirá falta dessa movimentação se optar por cerras as portas e guardar a “tesoura de ouro” na gaveta.
Sua história é sempre cheia de detalhes, pois Maciel não é homem de poucas palavras. Possui uma memória privilegiada e ao relatar algo, lembra-se de outros e as histórias se sucedem. “Esta é a oitava reportagem com a Tesoura de Ouro. Relembrar é comigo mesmo, pois já fiz roupa para meio mundo aqui em Bauru. Hoje os tempos são outros e acabo fazendo ternos para aqueles que não existem manequins, como os gordos. Para aqueles que não encontram numeração nas lojas. Não entro em competição de preço, o meu terno sai de R$ 500 a R$ 600 e sei que nas lojas vendem três vezes mais barato que aqui. Hoje, no máximo faço de cinco a sete por mês. Na maioria das vezes trabalho sozinho e só quando aperta, distribuo para outros me ajudarem. Mais arriscado ainda é trabalhar para gente que não quer pagar. Leva a peça pronta e sobra a canseira de ficar cobrando. Tenho alguns casos assim”, conclui sem ressentimentos, mas ciente de que exerce uma profissão quase em extinção.
Quando lhe pergunto sobre o passado, parece respirar um pouco antes de responder: “O que ocorreu na profissão é estranho. Hoje as pessoas alugam o terno e devolvem, tudo por volta de uns R$ 100 reais. Isso é estranho para mim. Quando comecei nem se pensava em emprestar um terno de outra pessoa para uma festa, um casamento. No passado, uma mulher alugar um vestido para uma festa era uma vergonha. A época é outra e tenho que ir me adaptando. Deixei de fazer smokings, porque as pessoas acham muito mais barato alugar”. Ele que se aposentou em 1984, afirma também, que "se não tivesse sido econômico, hoje estaria em dificuldades, pois no início recebia seis salários e hoje não passo dos três mínimos".
Na continuidade da conversa faz uma reflexão muito interessante sobre a profissão: “Em 1943 aqui em Bauru tinha uns 30 alfaiates e 46 mil habitantes. Hoje somos 300 mil e pouco e somente uns quatro estabelecidos e mais uns quatro trabalhando em casa. A profissão foi acabando. Não arrumo mais um oficial para ensinar a profissão. Cheguei a ter oito empregados em 1960, ganhei dinheiro, apliquei e fiz um pequeno pé de meia. Seria até falta de caridade eu ensinar uma criança a profissão e fazer ela passar dificuldades. Não faria isso. Ela não teria o que fazer daqui a alguns anos”.
“Já fiz roupa para meio mundo, desde prefeitos, deputados e não gosto de ficar citando as posições. Trabalhei para todas as classes, fiz muitos ternos para ferroviários. Já fiz terno em dez prestações. Todo jovem tinha o seu terno e gostava de usar nos mais diferentes lugares”, relata quando lhe perguntei quem mais compravam ternos. Isso faz com que toque em outro assunto: “Todo mundo me pergunta dos motivos da profissão de alfaiate estar em extinção e você não me perguntou isso. Já sabe a resposta, né? Em 1997 fui à Europa e lá já presenciei a decadência. As profissões que não se organizam, não se modernizam, acabam fenecendo. Eu não quis me industrializar, teria que gastar muito, sem a certeza do retorno. Preferi continuar do mesmo jeito que comecei e sobrevivi”.
“Uma das coisas que mais me realizaria hoje era uma dedicação para a parte social, trabalhar para os pobres. Estou sentindo também uma necessidade de ficar mais em casa, curtir a esposa Isa, pois ela não está bem de saúde. Tenho que pensar nisso também, mas quando penso em abandonar, bate uma dorzinha lá no fundo. Ainda estou pensando”, conta sobre a vontade de parar. Por fim acaba por se lembrar de um conselho dado pelo seu filho: “Ele me pede para ficar só para receber os amigos e para não ficar em casa sem fazer nada. Tem as duas coisas. Nada ainda está decidido, pois pago aluguel aqui há 54 anos”. Quando saio à porta para as despedidas, olha para o movimento e percebo o quanto ele sentirá falta dessa movimentação se optar por cerras as portas e guardar a “tesoura de ouro” na gaveta.
Meu caro Henrique, sempre primoroso em suas matérias.
ResponderExcluirFico feliz em vê-lo demonstrando seu talento em colher tão belas histórias, humanas e verdadeiras...
Continue assim, garimpando e encontrando peças preciosas como esta.
e, se posso dar uma sugestão a o Sr. Ortiz, que ele abral sua alfaiataria apenas uns 2 ou 3 dias na semana. O movimento, a atividade, serão benéficos ...
Um grande abraço!
o andar da carroagem vai tesourando a todos nós.
ResponderExcluirA cultura tá tao em baixa que o predio tá que é uma pixaçao só, abandono total.
pra variar um arremedo de poesia de minha lavra.
ja nao se escrevem mais cartas:
saudaçoes,seguiam-se linhas fartas
pra onde foram as telefonistas?
pra onde irão os internautas?.
um abraço e tenha um bom dia
LÁZARO CARNEIRO
Caro:
ResponderExcluirPerdí minha agenda e estou f.
Estou precisando do telefone do Dr. Célio Parisi, advogado que trabalhou com vc na Prefeitura, na época do Tuga. Vc poderia me passar?
Alías, o Dr. Célio merece uma matéria no seu blog.
Abs
Leon
caro Leon
ResponderExcluirNão tenho o telefone do Parisi.
Tenho o email.
Escreva para meus emails, que lhe passo:
hpachancelas@gmail.com
ou
mafuadohpa@gmail.com
Henrique - direto do mafuá
Valeu, cara!
ResponderExcluirEstou precisando de um bom profissional da área do direito. Estou pensando nele!!!
Estou te escrevendo
Abracitos
Leon
Meus caros
ResponderExcluirMantenho estes últimos três posts para demonstrar a quantas anda a mediocridade humana. Pessoas tipo esse imaginário Leon, devem agir de forma muito pior do que o advogado citado. Brincadeirinhas de péssimo gosto, não conduzem a nada. São bem o estilo que abomino. Ficam aqui só para deixar evidente como alguns gostam de fazer e praticar política, com brincadeirinhas. Se querem saber quem age assim, digo em alto e bom som, devem possuir uma extensa ficha, a tal da capivara, muito maior do que a de quem criticam. Vou presentear esse Leon com um espelho, para dar uma espiadinha na sua linda face impoluta.
Henrique, direto do mafuá
Que belo texto, seu Henrique. Conheço esse alfaiate lá da Rodrigues, ele sempre esteve ali naquela quadra. Hoje, ao abrir seu blog e vi que já havia escritos muitos outros textos de registro de pessoas assim como ele, gostei mais ainda. Reviver a importância de pessoas como o seu Maciel é algo que poucos se habilitam a fazer. Gostei muito da história do seu Tentor e do sapateiro, o Scarton. Continue assim. Quando sai a próxima?
ResponderExcluirPaulo Jacob
Prezado Henrique. Só agora vi a resposta que você, sabiamente, deu ao tal anônimo "Leon", que não deve ter bom caráter. Você, sim, quando fala assume publicamente o que diz! Mas posso satisfazer a vontade daninha dele e dizer que nunca cometi qualquer deslize em toda a minha vida, e que só se envolve quem realmente faz alguma coisa. Quero dizer, também, que muitos, sem querer, podem se enganar com as pessoas que irá se relacionar. Ao final o Judiciário dirá o que realmente eu fiz. Muito obrigado por ter me defendido, porque você, garanto, não terá, no futuro, motivo para se arrepender dessa atitude. Célio Parisi
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