O FUNILEIRO/PINTOR NECO E “AQUI NÃO É PORTUGAL”
Contei aqui que estive lá na cachoeira do Babalim e ali ao lado, o armazém/bar mais famoso dos cafundós do mato de Arealva, o Empório Ribeirão Bonito (com uma tabuleta avisando os incautos: Fechado às segundas-feiras), propriedade da Família Cardoso. Lá é um ponto de encontro dos mateiros, rancheiros, pescadores e proseadores da região, além de atração turística da cidade. Passei por lá uns quinze minutos no último domingo e reencontrei três para conversas variadas. Conto aqui a história que me foi relatada pelo Neco, um famoso funileiro de Bauru, tendo sua oficina ali na Sete Setembro 3-57, quase esquina com Quintino Bocaiúva.
Neco é português e anos atrás foi rever parentes e o país amado. Foi numa praia e afirma que as de lá não se comparam com as daqui, pois lá o chão é escuro, faz frio e venta muito. Estava acompanhado de uns parentes e após horas ao sol, bateu a fome. Teriam que largar tudo na areia, ir ao restaurante e voltar. Estava juntando tudo, uma trabalheira, pois diante deles uma rampa íngreme, quando o parente o impediu, pedindo para que largasse tudo ali. Neco tentou argumentar, pois estava com a máquina fotográfica e outras coisas de valor. Quando viu o parente largar uma filmadora de muito mais valor, fez o mesmo, cobrindo tudo com uma toalha. Almoçou cheio de preocupações, com a perda certa e qual não foi sua surpresa ao retornar, tudo estava intacto. Suportou os risos do parente com galhardia. Essa ele conta para todos e quem me confirma é a irmã, que o ajuda no balcão de uma loja, defronte a oficina de funilaria e pintura.
Contou também ter por lá um primo serralheiro e este estava para receber uma grande entrega de material de construção. O entregador deixou tudo como combinado e só depois o parente veio a perceber que algum material, por engano, foi entregue a mais. Esse ficou inquieto e não sossegou enquanto não pegou seu carro e foi devolver o que não lhe pertencia. “Eles devem estar precisando disso e assim como eu, devem ter urgência. Devolvo já”, foi a fala e a ação do português. Nessa Neco não se conteve e disse, que aqui no Brasil, dificilmente se devolve algo entregue a mais e quando ainda voltam perguntando se isso ocorreu, a pessoa percebendo o ocorrido, já escondeu tudo e diz que não, tudo estava mais do que certo. E nem fica com a consciência pesada.
Eu e Zezé saímos do empório e fomos nos banhar na cachoeira Babalim. Entramos na água com um olho no divertimento e outro nas toalhas e nas tralhas todas nas margens. Quando íamos ao bar, distante da vista de nossos olhos, entre risos, juntávamos tudo e criamos um bordão: “Aqui não é Portugal”. E tome carregar tudo, de cá para lá e de lá para cá.
Em Tempo: Neco não gosta de ser fotografado, mas adora ir com os amigos lá em Ribeirão Bonito e de jogar conversa fora.
HOJE É O DIA NACIONAL DA CULTURA: Não posso deixar passar em branco algo sobre o dia de hoje. A cultura faz parte de minha vida, pois a vivencio diariamente. Tenho minhas preferências e delas não abro mão. Não me canso de citar o SESC, como um baluarte, um local diferenciado e do qual me identifico. Vou a todos os lugares e sinto a falta de mais atividades nos bairros, pois por mais que existam eventos gratuitos espalhados por aí, quase nada nas comunidades afastadas. Eles padecem e nada é feito nesse sentido. Se o momento é de uma certa efervescência na cidade, a Cultura Municipal está um tanto estagnada. Museus somente abrindo e fechando suas portas, Teatro Municipal só sendo utilizado em atividades quando o espaço e locado ou cedido por solicitações, nada é criado e desenvolvido atualmente no setor. Paradeira preocupante. Percebo os servidores tristes e meio que "barata tontas" diante de uma administração inoperante, sem diálogo e definições. Muito do que foi iniciado ou encaminhado na Administração passada foi brecado e o mato cresce no MIS, na Casa Fígaro e no Ferrovia para Todos. Ontem, véspera dessa data reverenviada pelos adoradores da cultura, estive no Teatro para assistir à Companhia de Dança da Ucrânia, algo grandioso, numa proposta anual da bailarina e empresária Scheila do Vale (na foto, ela e uma neta). Sem cantina, como pipoca no carrinho da Inês Faneco, salvadora da pátria, na entrada. Pela terceiro ano consecutivo Scheila nos brinda com balés do leste europeu, em algo quase inédito no país e que deveria ser incentivado, paparicado e mais divulgado. Nada disso, poucos ficaram sabendo do evento (meia casa ocupada). Scheila, abnegada, não desiste e ouço dela: "Não podemos parar, mesmo diante de todas adversidades. Se eu paro, outro produtor para, outro deixa de fazer, não teremos mais nada por aqui. Continuo, mesmo reclamando". Ela persiste, como muitos e reclama pouco, mesmo tomando conhecimento de que todos os cartazes de seu espetáculo, deixados na Cultura nem foram distribuidos pela cidade, permaneceram estacionados (não existe multa para isso?) em cima de uma mesa administrativa. Cultura não pode e não deve ser tocada por quem torce contra a mesma. Os artistas não gostam de reclamar, temendo retaliações e perda de espaço na agenda do teatro, mas a situação não anda boa. Scheila é nossa homenageada neste dia, uma entre tantos a merecerem mais carinho e atenção de quem comanda a caneta cultural na cidade. Como diz um título de um belo e antigo filme com Marília Pêra, direção de Cacá Diegues, "Dias melhores virão". Dia ótimo para reflexões mil.
OBS.: Amigos e outros nem tanto, entendam, por favor, que aqui reclama, não é a Scheila, e sim, esse escrevinhador, um inveterado e contumaz contrariado, praticamente desenganado pelos condutores da ordem social e legalmente constituída.
Henrique
ResponderExcluirComo você disse, acabou mesmo publicando a historinha do Neco. Ele conta isso para todo mundo mesmo, pois já ouvi, com aquela voz pausada e calma, mais de umas quatro vezes. Não sei se você sabe, mas ele quase comprou a antiga casa do Pelé, na quadra seguinte da sua oficina. Só não o fez porque a documentação está atrapalhada e demoraria muito a regularização. Ele hoje, quer muito encontrar o prefeito ou sua mãe, que foi sua advogada no passado e sugerir algo, um monumento lá naquela avenida nova que estão construindo, uma grande bola, com uma entrada embaixo e homenagens a 4 peassoas que aqui fozeram sucesso, o Pelé, o Ozires Silva, o Sanduíche Bauru e saindo pelo aloto um fogue com o Marcos Pontes. Se puder faça isso chegar ao prefeito. É uma idéia lá dele. Outra coisa que você não citou, o Neco não bebe nada de álcool, nem pesca, o que gosta mesmo de fazer lá no rancho em Arealva é reunir os amigos e bater papo, como foi no dia em que o encontrou lá naquele armazém.
Cleide Maria
Sobre a situação da Cultura
ResponderExcluirNão pense que os artistas da cidade irão se manifestar publicamente sobre os desmandos. Não o farão, mesmo após a enormidade de relatos e a persistência da catastrófica situação no setor cultural do município. Muitos necessitam do vínculo com o setor público, para utilização de algumas instalações e temem por retaliações. Criticam no anonimato, mas não colocam a cara para bater. A maioria deles já descobriu e faz uso do novo caminho das pedras, que é quando ocorre uma recusa de atendimento pelo setor, irem diretamente ao prefeito,que resolve. mesmo assim, preferem não bater. Eles te lêem, mas não se manifestam e se o fazem, preferem o fazer como anônimos. Sacou.
Duarte
sou um deles
caro Duarte (se é esse seu nome):
ResponderExcluirSei como são essas coisas. Recebi até agora cinco e-mails de agentes culturais de Bauru, todos com repercussões positivas ao texto e externando seus posicionamentos contrários à atual situação lá na Cultura. Nenhum deles quer expor aqui ou em qualquer outro lugar algo vinculado ao seu nome. Nada posso fazer a não ser, confirmar que isso ocorre e que reflete bem o mêdo por retaliações, perseguições ou portas fechadas.
Eu escrevo, assino e coloco a cara à tapa.
É meu jeito
Henrique, direto do mafuá