"O JOGAR SÓZINHO E UM REORDENAMENTO", POR SÓCRATES E NESTOR CANCLINI
Sócrates, o ex-jogador de bola, bate também um bolão com as letrinhas. Escreve semanalmente uma crõnica sobre esporte para a semanal Carta Capital. Na semana retrasada, 23/10, de forma primorosa, escreveu algo que toca, não só aos amantes do futebol, quanto aos da política, da vida empresarial, etc. É o tal do querer atuar sózinho, isolado e sem contar com uma equipe, tudo advindo de sua cabeça. Algo impensável hoje em dia. Colei aqui trechos do texto:
O ocaso do treinador mandachuva
"Os conflitos entre técnicos e dirigentes de clubes, como temos visto nos últimos tempos, tendem a se tornar cada vez mais frequentes. (...) Mas nem sempre as causas têm a ver com mudanças políticas ou incompatibilidade de gênios. O que está em curso, na verdade, é uma nova visão das funções desse profissional. A centralização de poder oferecida a ele, e só a ele, e a possibilidade de determinar toda a política em relação aos jogadores definitivamente têm seus dias contados. Até por não ser razoável que funções tão importantes sejam exercidas exclusivamente por um profissional. É o que chamamos de excesso de poder. A partir da mudança de mentalidade, o treinador deve ocupar (ou dividir com outros) a função específica referente às partes tática e técnica de uma equipe. E com direito a ser questionado por um superior com atribuição de coordenar. Esse diretor técnico deverá possuir capacitação abrangente e contemplar as diversas áreas da comissão técnica com conhecimentos em nutrição, preparação física, fisiologia, psicologia, ortopedia e fisioterapia, além das áreas citadas acima. Teríamos assim o esqueleto de um verdadeiro organograma, coisa rara no meio futebolístico. Além disso, será flagrante a diminuição do valor que se dará ao profissional de campo. Lentamente ele será levado ao real patamar de sua importância dentro da estrutura. Com isso, também os salários terão de se adaptar à nova ordem. Está no fim o tempo em que ele fazia a programação física, decidia a dieta, dava palpites na recuperação dos atletas, indicava jogadores sem uma avaliação formal por parte de quem o contratava e, além disso, definia todo o planejamento. Na nova ordem, só os definitivamente competentes é que terão lugar no comando. (...)Isso sem falar de como se comportam em público. Muitos são arrogantes mesmo que pouco tenham para se arrogar. Nunca deveríamos esquecer de quão pequenos somos nós, porém muita gente quando se encontra em situação superior faz questão de menosprezar, intimidar e minimizar o resto da humanidade como se donos da verdade fossem. Felizmente, o passo a passo da vida invariavelmente nos derruba dos tamancos. Por nos tirar do limbo em que nos colocamos, expor nossa mediocridade e desnudar a nossa insensatez".
"Os conflitos entre técnicos e dirigentes de clubes, como temos visto nos últimos tempos, tendem a se tornar cada vez mais frequentes. (...) Mas nem sempre as causas têm a ver com mudanças políticas ou incompatibilidade de gênios. O que está em curso, na verdade, é uma nova visão das funções desse profissional. A centralização de poder oferecida a ele, e só a ele, e a possibilidade de determinar toda a política em relação aos jogadores definitivamente têm seus dias contados. Até por não ser razoável que funções tão importantes sejam exercidas exclusivamente por um profissional. É o que chamamos de excesso de poder. A partir da mudança de mentalidade, o treinador deve ocupar (ou dividir com outros) a função específica referente às partes tática e técnica de uma equipe. E com direito a ser questionado por um superior com atribuição de coordenar. Esse diretor técnico deverá possuir capacitação abrangente e contemplar as diversas áreas da comissão técnica com conhecimentos em nutrição, preparação física, fisiologia, psicologia, ortopedia e fisioterapia, além das áreas citadas acima. Teríamos assim o esqueleto de um verdadeiro organograma, coisa rara no meio futebolístico. Além disso, será flagrante a diminuição do valor que se dará ao profissional de campo. Lentamente ele será levado ao real patamar de sua importância dentro da estrutura. Com isso, também os salários terão de se adaptar à nova ordem. Está no fim o tempo em que ele fazia a programação física, decidia a dieta, dava palpites na recuperação dos atletas, indicava jogadores sem uma avaliação formal por parte de quem o contratava e, além disso, definia todo o planejamento. Na nova ordem, só os definitivamente competentes é que terão lugar no comando. (...)Isso sem falar de como se comportam em público. Muitos são arrogantes mesmo que pouco tenham para se arrogar. Nunca deveríamos esquecer de quão pequenos somos nós, porém muita gente quando se encontra em situação superior faz questão de menosprezar, intimidar e minimizar o resto da humanidade como se donos da verdade fossem. Felizmente, o passo a passo da vida invariavelmente nos derruba dos tamancos. Por nos tirar do limbo em que nos colocamos, expor nossa mediocridade e desnudar a nossa insensatez".
Outro texto dos mais instigantes é o do argentino Nestor Canclini, sugado do livro "Consumidores e Cidadãos", esse também a lembrar as situações onde o tal do sózinho, além de causar repulsa, demonstra falta de habilidade, insegurança e despreparo. O livro tem um capítulo se chama, sugestivamente, "Consumidores do século 21, cidadãos do século 18". Longo, mas achei interessante reproduzir. Será que a dica serve para alguns transitórios "excelentíssimos" em cargos de comando? Quando recebi o texto, o amigo que me enviou, o fez com um recadinho no final : "Ou mando um bilhetinho com um desenho explicando qual a função dele?"
"Consumidores e Cidadãos", de Nestor Canclini
A globalização não é um simples processo de homogeneização, mas de reordenamento das diferenças e desigualdades, sem suprimi-las. Através da nossa relação com a Europa, tornamo-nos cidadãos. Com nossa relação com os EUA, fomos reduzidos a consumidores. O desenvolvimento eficiente de nossas democracias, suas instabilidades e o claro cancelamento dos organismos de representação da cidadania pelas ditaduras das décadas de 70 e 80 colaboraram com essa situação. Para muitos [...], as perguntas próprias a cidadãos, sobre como obtemos informações e quem representa nossos interesses, são respondidas antes pelo consumo privado de bens e meios de comunicação de massa do que pelas regras abstratas da democracia e pela participação em organizações políticas desacreditadas. É a despolitização e a perda dos ideais iluministas. CIDADESA passagem da origem latino-européia para um destino "norte-americano" modificou as sociedades latinas, suas artes, ciências e as referências de prestígio na cultura de massa. Em 50 anos, nossa mente deixou de ser européia e passou a ser dos EUA, o que revela a perda de importância da cidade [...] como núcleo da vida cívica e comercial, acadêmica e artística. Nossas "metrópoles" não são mais que campi de universidades, disneylândias e shoppings. O que isso tem a ver com a desintegração das megacidades e cidades médias latinas? Não se trata de imperialismo. [...] As cidades globais latinas têm como principais focos geradores de transformação os processos de desenvolvimento desigual: migrações maciças, contradições do mercado de trabalho, políticas urbanas de habitação e serviços insuficientes para a expansão da população e do espaço urbano, deterioração da qualidade de vida e aumento alarmante da insegurança.[...] Há mais diálogo entre América Latina e EUA nas indústrias da comunicação do que nas artes. Mesmo o aumento de exposições artísticas e traduções de livros dos últimos anos estão mais ligados aos processos de marketing. Usa-se o patrimônio histórico no turismo e a circulação de músicas étnicas e nacionais para reforçar um multiculturalismo. A preocupação deveria ser reforçar identidades, heterogeneidades e hibridação nas disputas pelo espaço áudio-visual da América Latina, EUA e Europa. A investigação empírica desse encontro é decisiva para reorientar as políticas culturais. Não podemos manter a miopia anacrônica de políticas estatais centradas na preservação do patrimônio e promoção de artes cultas. [...] é preciso análises cuidadosas de remodelação dos espaços públicos e dos dispositivos que se perdem ou se recriam para o reconhecimento das múltiplas vozes presentes na sociedade. Para nós, o multiculturalismo é sempre entendido como pluralismo, heterogeneidade. Nos EUA, significa "separatismo" (obrigado amigo W. Leite, pelo envio e introdução nos textos do Canclini. Já vasculhei alguma coisa na internet e queria ler o livro. Você tem e empresta?)
Obs.: Segunda com feriado, como hoje (Finados), possui mil e uma utilidades. Uma delas essa, a de com mais tempo, gerar mais reflexões. Amanhã volto a falar das coisas daqui e também à normalidade, ou seja, pauleira total.
Henrique
ResponderExcluirEstá claro que estes dois textos possuem um endereço, é para nosso Sectário, ou seja Secretário Municipal de Cultura. Errei?
Assim sendo, algo novo sobre sua atuação. No sábado, praça Rui Barbosa, 10 horas da manhã, sol de rachar mamona e um show ocorrendo ali ao lado do coreto, era o Surdondum, com 11 integrantes tocando para ninguém no encerramento na Mostra Arte Sem Barreira. Na platéia só integrantes da Cultura e do grupo. Um vexame. Eis que surge o sectário, desculpe, secretário com sua nova máquina fotográfica e quer tirar fotos do acontecimento. Quase foi escurraçado pelo pessoal do grupo, que não queriam se deixar serem fotografados pelo cara. Parece que já sabiam que o cara vem só para tirar fotos e depois some. Perguntem para os pipoqueiros, o cara do lanche e alguns aposentados que viram a cena de longe, da sombra, protegidos pelas árvores da praça. Voces ainda acham que existe ou não coisas erradas acontecendo no setor cultural da cidade? Eu estava lá e vi tudo, só não ri, pois a cena era trágica e todos no palco sofriam muito sem nenhum tipo de proteção para seus corpos e instrumentos. Vexame total.
Andréia
HENRIQUE
ResponderExcluirQUANDO ABRI ESSE COMENTÁRIO, QUERIA ESCREVER SOBRE O TEXTO DO SÓCRATES E DE COMO É RUIM SE JOGAR O JOGO SÓZINHO, COMO UM TÉCNICO INTRANSIGENTE, MAS ME DEPAREI COM UM COMENTÁRIO ANTES DO MEU E AO LER, ME DEPARO COM MAIS UMA DO SECTÁRIO (ESSA FOI BOA) DE CULTURA.
ESTAVA LENDO ESSA SEMANA SOBRE O BERLUSCONNI, LÁ NA ITÁLIA E SEU MEDO DE TER O MESMO FIM QUE O MUSSOLINI E TANTO SOBRE O CASO ITALIANO, COMO O BAURUENSE, A CONCLUSÃO É A MESMA:
UM CHEFE DECADENTE SE TORNA INCÔMODO PARA SEUS LIDERADOS.
CUIDADO, HEM! SERÁ QUE ELE LÁ SE INTERESSA COM ISSO
ROSANA
Oi Henrique!
ResponderExcluirO livro foi "socializado" para mim por um amigo e passo pra você com toda tranquilidade!
Abração
W.Leite