UMA DICA (49)
UM FILME, “O SOLISTA” E INEVITÁVEIS LEMBRANÇAS DE ALGO ACONTECIDO COMIGO
Ontem fui no cinema com o filho. O filme foi escolhido a dedo e sai de lá impressionado. “O Solista”, dentre tudo o que está passando nas salas bauruenses era o mais sugestivo. Acertamos na mosca. Trata-se de um drama dirigido por Joe Wright e tendo no papel principal Roberto Downey Jr (um jornalista do Los Angeles Times) e Jamie Foxx (um negro, sem-teto "homeless", tocador de cello e adorador de Bethoven). Eis aí a combustão, o jornalista o encontra nas ruas tocando um violino de duas cordas diante de uma estátua de Bethoven. Pinta daí um tema para seus artigos no jornal. Nasce também daí algo mais do que os textos, um interesse real pela história do homem da rua, um dos tantos invisíveis a nos limpar o pára-brisa, nos pedir uma moeda e bater palma no portão pedindo algo. Em mim, a empatia foi imediata e revivi a história do Jocelino, um sem-teto que conheci no portão de casa e consegui que fosse repatriado para sua Itaqui RS. Escrevi sobre ele e acabei por me envolver mais do que devia, igualzinho aos personagens do filme. Na minha história um final feliz, pois Jocelino voltou, reencontrou os seus, está empregado e até namorando. Conseguiu superar a fase de estar vagando por aí. Nem todos possuem a mesma sorte, uma família a ampará-los e alguém para escutar suas histórias. Tirar uma pessoa das ruas é algo a te marcar para sempre. Eu gosto muito de fazer exatamente isso, procurar histórias desse povo maltratado das ruas, colocando-as no papel. Faço isso no que denomino de Memória Oral. Pena não ter mais tempo livre, para produzir mais, pois as histórias e os temas são tantos. Tenho uns vinte engatilhados e sem tempo para escrevê-los. Fico nos dois por mês, mas poderia registrar muito mais. Voltando ao filme, preferi escrever esse texto sem ler nada sobre ele (depois vou dar uma espiada). As idas e vindas do jornalista no habitat do sem-teto, as tentativas de tirá-lo daquela situação, a procura pelos seus familiares, algumas frustrações, os sucessos (foram vários), fizeram com que fosse passando um filme na minha cabeça. Ainda no filme uma das poucas cidades norte-americanas que talvez me encante, Los Angeles. Triste foi saber ao final do filme que só na região de Los Angeles são quase 90 mil pessoas vivendo nas ruas. Quando me deparo com uma pessoa e seu problema, tento resolver sua situação. Numa olhada para trás, tantas outras continuam nas esquinas, uma luta inglória e muito desigual. Ainda ontem vi um desses, aqui perto de casa, deitado na chuva, enrolado num plástico e desmaiado, dormindo meio que “mamado”. Tanta coisa para ser feita, mas tantas outras dentro das nossas vidas a nos conduzir para outros lugares. O final do filme é também sobre essa lenta solução de alguns casos, a necessitar de mais tempo, mais acompanhamento e mais paciência. Eu e o filho saímos da sala e adentramos aquele mundo diferente, o do Alameda Quality Center e mesmo querendo saborear um sanduba por lá, não o fizemos. Preferimos ir comer num desses de carrinhos de rua e conversar sobre tudo o que presenciamos. Para mim, o filme não vai me sair da cabeça tão já.
Veja o trailler: http://www.youtube.com/watch?v=5xDxdbPq-oY
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