quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

MEMÓRIA ORAL (81)

OPTOMETRISTAS E SUA LUTA PARA CONTINUAREM ATUANDO
Alguém já ouviu falar em Optometrista? Com certeza, poucos, mas quando perguntados sobre Oftalmologista ou até mesmo Oculista, a resposta certamente será positiva. Ambos atuam no mesmo campo de ação, em espaços pré-determinados, porém, em alguns casos, até de confronto. E se sabemos bem o que venha a ser o Oftalmo ou oculista, o que seria mesmo um optometrista? Fui em busca dessa resposta procurando um deles em atividade na cidade, Marco Aurélio Pinheiro Domingues, 58 anos, delegado regional do CROO – SP (Conselho Regional de Ótica e Optometria de São Paulo), após ouvir sobre as disparidades de custos entre o preço de uma consulta a um oftalmo e um opto. A questão é muito mais abrangente do que imaginava na abordagem inicial.

Marco é paulistano e está em Bauru desde 1980 e na profissão desde 1968, com um ótica em local próximo ao centro da cidade. Sua maior preocupação hoje é com o Projeto de Lei nº 268, de 2002, proposta do senador e médico Geraldo Atoff , de SC, tramitando no Senado e colocando em risco quatorze profissões, três milhões de profissionais brasileiros. “Não vai mais existir o atendimento primário no Brasil se a proposta for aprovada. O lobby médico joga pesado nisso. Hoje o opto pode prescrever uma receita e o nosso honorário varia de R$ 25 a R$ 30 reais. Somos criteriosos, pois quando detectamos algum caso patológico, com necessidade de cirurgia, encaminhamos ao tratamento ambulatorial, procedimento dos médicos oftalmos. Nós indicamos sinais e encaminhamos para o especialista. Não misturamos as coisas”, inicia Marco sobre a sua atuação.

Mas o que seria um optometrista? “É um profissional não médico da área de saúde, responsável pelo atendimento primário da saúde e da visão. A profissão é reconhecida pelo Decreto nº 20.931, de 1932, período Vargas. O decreto é o mesmo que reconhece a medicina no Brasil. Hoje em Bauru, somos uns seis profissionais atuando, a mesma quantidade de Jaú, uma cidade menor, onde somos mais organizados e existe uma consciência maior sobre nossa atuação. 56% da população brasileira precisa de correção visual, ou seja, mais de cem milhões de habitantes possuem algum erro refrativo, de causa ótica, física e não patológica, pois essa seria médica. Temos os mesmos recursos que os médicos possuem para atuar e prescrever nos casos de erros refrativos”, explica Marco.

A grande preocupação do setor onde o opto Marco atua é que com a aprovação do Projeto de Lei, a prescrição passará a ser privativa do médico, coisa que nunca ocorreu no Brasil. “Entendemos que deva continuar atuando os mais competentes. O mercado deve existir para todos, para nós e para os médicos. O que não pode ocorrer é acabar com a autonomia dos profissionais da saúde. Estamos cientes de que pior do que não ser indicado por um médico, é ser contra-indicado. Não trabalhamos indicados por médicos, não queremos confronto, mas não podemos permanecer quietos, só observando nossa profissão ser desmerecida. Se isso acontecer será um ato contra a saúde, pois a população vai ficar cada vez mais amarrada aos médicos”, continua explicando e cita como fonte de informação um vídeo no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=fSEybWgLx9Q .

Um grande Ato, feito em nível nacional, denominado de “Virada da Saúde” estará acontecendo no Parque Ibirapuera, em São Paulo no próximo dia 27, com um grande show com Zeca Balleiro, onde a categoria estará tentando dar uma maior visibilidade ao problema. “Do jeito que está tem tudo para passar no Senado e na Câmara. Nós temos direito adquirido, será uma inconstitucionalidade prejudicial para a população. Essa briga corporativa sempre existirá, mas precisa prevalecer o bom senso. A aprovação dessa lei está na contra-mão do que ocorre no mundo inteiro. Tudo começou no Brasil com D.Pedro II, que trouxe os primeiros optometristas para atender integrantes da família imperial. Essa Virada da Saúde tem por intuito esclarecer a população dos benefícios de nossa profissão, pois poucos ainda sabem que estamos aptos a prescrever e com um baixo custo”, conta Marco.

Os problemas da briga corporativa entre médicos e optos continuarão a existir, porém não existe possibilidade de acordo quando se discute o atendimento primário da saúde. “Não queremos ocupar o lugar do médico, nem ser o concorrendo com ele. O problema no momento é a tentativa de imposição de que só o médico continue a prescrever, inaceitável para nós”, conclui Marco, enquanto atende no balcão de sua ótica, numa tarde de quarta-feira de cinzas. Seu trabalho vai além da luta pela não aprovação do Projeto de Lei, pois em Bauru está iniciando um trabalho junto a uma escola pública estadual, como projeto piloto, envolvendo 800 alunos, em algo com uma denominação ainda não definida, em torno de “Campanha de Acuidade Visual”. Segundo ele, “quanto mais cedo for detectado alguma irregularidade na visão, vamos trabalhar melhor um dos grandes motivos da evasão escolar. O aluno tem dificuldade em admitir a deficiência. Num grande mutirão iremos detectar, orientar procedimentos e diminuir o preconceito de quem usa óculos”.

Questiono sobre o desconhecimento por parte da população da existência do optometrista. Isso ocorre de fato, pois o opto é raramente procurado. Existe uma total desinformação de que o mesmo tratamento obtido de um médico, também poderia ser obtido através de um opto. “O Estado brasileiro dificulta a implantação definitiva da Optometria. Tal posicionamento impede que estes profissionais contribuam efetivamente no combate a diminuição e combate aos problemas da visão”, conclui. Uma luta nem sempre fácil, cheia de informações desencontradas, que tomo conhecimento em detalhes a partir do contato. Para o leigo, a grande massa da população necessitada de atendimento na área da visão, algo a ressaltar, a gritante diferença de custo entre o atendimento particular de um e de outro. Sendo realizado em condições idênticas, não existe como não defender o posicionamento dos optos, que só querem continuar atuando, como o fazem desde a implantação da profissão no país. O imbróglio continua muito além disso tudo, podendo ser comparado com a luta do opressor contra o oprimido (dentre todas as profissões componentes do Congresso Nacional, a dos médicos está em segundo lugar), do forte contra o fraco e assim sendo, já tomei partido. Faço minha próxima consulta visual com um optometrista e a partir de agora, engrosso a luta do “Diga NÃO ao Projeto de Lei do Ato Médico”.
Mais detalhes consultem: http://www.croosp.org.br/ , http://www.cboo.org.br/ e http://www.atomediconao.com.br/ .

7 comentários:

  1. Isso aí Henrique, sempre ligado em temas importantes e de extrema relevância!!Abraços!!!Rosana zanni duka de souza.

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  3. Meus caros

    Diante de tudo o que tomei conhecimento, só uma coisa a lamentar. Adoro o meu médico oculista, dr. Ruy Bertotti, uma figura das mais simpáticas, ótimo papo, voltado para o lado social da vida, presente em ações nessesentido e sempre, sempre mesmo, cobrando preços bem abaixo do marcado. Não troco meus óculos com assiduidade tão grande. Os últimos foram feitos em 2007. Ruy Bertotti, com toda certeza é uma pessoa que continuará privando do meu bem querer. Pelo preço cobrado por ele e todo o envolvimento de uma consulta lá no seu consultório, os preços são quase similares aos expostos no texto com o optometrista. Relações de amizade precisam ser preservadas, independente de quaquer posicionamento político.

    Não fosse por ele, não faria essa justificativa aqui.

    Um abraço

    Henrique - direto do mafuá

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  4. Nossa Henrique, que informação interessante.Você acredita que eu uso óculos desde os 7 anos e nunca tinha ouvido falar de optometrista? Onde eles atendem?Valeu por essa.

    MARIA CRISTINA ROMÃO DA SILVA

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  5. Caro Henrique, Mais uma vez parabéns pela reportagem e pela luta.
    Tentei conversar com você na "vergonha de quarta a noite, chamei-lhe porém, não me ouviu.
    Tenha um bom final de semana e que o Norusca e o Coringão ganhem.
    Um abraço
    Professor Toka.
    Pesquisarei mais sobrre o assunto de sua brilhante reportagem.

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  6. Caríssimo Henrique
    Lí a sua matéria sobre o optometrista. Confesso minha ignorância. Não conhecia nem a palavra e muito menos o profissional. Aliás quero conhecer esse profissional que se encontra em Bauru desde há muito. Parabens pelo conteúdo e pela força que dá a ele. Quero ser solidário nessa empreitada. Um grande abraço. Ah, lí também sua matéria no BOM DIA sobre a destra e a sinistra. Bela matéria. Parabens mais uma vez. Saudações socialistas Isaias Daibem

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  7. Publicado na Tribuna do Leitor do Jornal da Cidade de Hoje, 02/03:

    Ato Médico
    O projeto que ficou conhecido como Ato Médico (PL nº 7703/06), em tramitação no Senado, se aprovado, dará aos médicos a exclusividade do diagnóstico e da prescrição dos tratamentos. Ao dar aos médicos a prerrogativa exclusiva do diagnóstico nosológico (doenças) e da prescrição terapêutica (tratamento), o PL 7703/06 retrocede ao passado e acaba com a autonomia dos profissionais da saúde. Para atender seus pacientes e clientes, os profissionais da saúde precisariam esperar o encaminhamento de um médico com o diagnóstico da doença e a receita do atendimento que eles deveriam executar.

    Como admitir que os médicos façam a prescrição terapêutica em áreas do conhecimento (i.e., Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Enfermagem, Nutrição, Educação Física, Serviço Social, Psicologia, Farmácia, Biomedicina) em que eles nunca tiveram qualquer tipo de treinamento? A maioria dos pacientes (75%) é portadora de doenças crônicas. As principais doenças possuem causas multifatoriais. Cada profissional da saúde é treinado para diagnosticar e tratar aspectos específicos dessas doenças. Assim, o correto seria o Estado promover a autonomia desses profissionais, colocando as habilidades e competências de cada um a serviço da vida saudável.

    Ao ler a matéria sobre o Ato médico publicada na edição do dia 28 de fevereiro neste jornal, é extremamente desalentador saber que os representantes legislativos da nossa região, os deputados federais Milton Monti e Arnaldo Jardim, estão favoráveis a esse devastador projeto. Falar que esse projeto não prejudica os demais profissionais de saúde é realmente não conhecer, e nem se interessar em conhecer, a área de atuação de cada uma dessas profissões da saúde. E, pior do que isso, é incentivar ainda mais a decadência do nosso sistema púbico de saúde, o SUS, pois no mundo inteiro se busca a interdisciplinaridade no atendimento de saúde e não um monopólio profissional em detrimento a saúde da população. Que isso sempre sirva de lição na hora de elegermos nossos representantes na câmara federal e que nossos senadores tenham consciência na hora de votar esse projeto.


    Marcelo Milanda, biomédico-acupunturista, coordenador do Centro de Estudos de Terapias Naturais - CETN - de Bauru

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