sexta-feira, 5 de março de 2010

RETRATOS DE BAURU (77)

PERCY, UM TARIMBADO ARTISTA DAS TINTAS E DAS CORES
Percy Coppieters é um nome pomposo, parecido com uma sopa de letrinhas, daquelas difíceis de acertar a escrita correta (sempre erro numa letra) . Esse ser inquieto não nasceu aqui em Bauru. Tudo começou lá em Ourinhos em 1954, onde viveu até os 18 anos, tendo uma bela iniciação artística. Aos oito anos já pintava e aos treze o negócio pegou fogo e não parou mais. Foi para São Paulo, casou, separou e conheceu uma pá de gente importante, alguns deles amigos até hoje, como Ignácio de Loyola Brandão. Quer mais nomes, lá vai: João Antonio, Jorge Amado, Zélia, Rubem Braga, Lígia Fagundes Telles e Vânia Bastos, essa também ourinhense. Publicou um livro, o “Tocaia”, com 15 mil exemplares, vendidos ao estilo de Plínio Marcos, de porta em porta e algumas vezes junto do próprio colega escritor, dividindo as calçadas da vida. De 1986 a 1990 viveu na Europa, onde continuou pintando, estudando, freqüentando galerias e ateliês. Quando voltou, veio visitar a mãe em Bauru, acabou ficando e logo ficou conhecido. Seu ateliê já esteve em três endereços na cidade e hoje, na rua Antonio dos Reis, produz sua pintura "considerada contemporânea, indo do abstrato ao figurativo" (segundo suas palavras). Percy conheceu os dois lados da vida e toca seu barco, pintando como nunca, amando seus pimpolhos e vivendo ao seu modo. Uma inspirada e boníssima pessoa. Olhem para essas fotos dele com um inseparável (e destrutivo) companheiro, o cigarro: não seria o nosso Bogart?

3 comentários:

  1. "Não sei se conheci o Percy ou se foi o Percy que me conheceu.
    Mas nos conhecemos na Rua Bela Cintra, aqui em São Paulo
    Eu tinha acabado de me separar e meus dois filhos passavam um tempo comigo, naqueles acordos de separação. Mas tudo numa boa.
    Percy convivia comigo e meus filhos, Daniel e André.
    Faz tanto tempo que o Daniel já casou, teve filhos, o mais velho tem seis anos.
    Daniel e André diziam: Esse cara é meio louco, pai? |Porque é bem legall!
    Eu dizia: Não é louco, mas tambem não é normal.
    Eles: E isso é bom, pai?
    Eu: Claro, gente normal é a pior coisa que pode acontecer a um individuo que procura respostas para a vida, que se questiona, indaga, olha o mundo e vê com clareza como o mundo é. Preciso dizer como o mundo é?
    Eles: Não.
    Eu não prosseguia, porque tinha medo deles acharem o mundo uma merda (o que ele, em parte, é), mas não queria que crescessem achando o mundo uma merda. Adultos, eles não acham merda, mas tambem não acham bom, precisa de reparos. E para isso eles trabalham, cada um tentando fazer sua parte para melhorar o mundo.
    Um dia, Daniel e André descobriram uns desenhos do Percy na minha casa.
    Ele morava me frente, produzia, me levava, me presenteava.
    Fui guardando, tenho uma caixa. É o meu investimento para o futuro.
    Diante dos desenhos, os dois me perguntaram: Pai, o senhor não acha que o Percy continua louco?
    Eu: Acho.
    Eles: Que bom, é de loucos que gostamos. E isto aqui?
    Apontaram para uma gravura.
    Eu: A visão de um cara muiito lucido que não concorda com a mediocridade, com a mesquinhez, com a burrice, com a safadeza.
    Eles: A pintura é para isso?
    Eu: A pintura, a escrita, o cinema, a poesia, o teatro.
    Passou o tempo, os meninos cresceram, o Percy sumiu.
    Porque de vez em quando ele sumia, ainda some, ninguem sabe onde vai, onde foi, onde fica, o que faz.
    Fazer, a gente sabe, ele cria.
    Os meninos - agora adultos - de vez em quando me perguntam: e o Percy, pai?
    Dou as noticias que tenho, quando tenho. Agora mesmo estou enviando o Mafuá para eles. Inclusive para verem fotos do Percy, ainda que numa das fotos ele pareça chapado.
    Acho que o Percy devia ter vivido no tempo de Rimbaud, de Baudelaire, de Modigliani, daquela gente louca e apaixonante.
    O Percy é um deslocado, porque quer ser, sabe que os colocados são os caretas, os certinhos, os que sabem o que querem, os que planejam a vida, o futuro, tudo, os organizados.
    Os deslocados, os outsiders são as grandes almas de nossa época, de todas as épocas.

    Abraços
    Ignácio Loyola Brandão

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  2. Henrique,

    Que oportunidade maravilhosa de ler um comentário do Ignácio Loyola Brandão no seu blog.Sou fã dele.
    É uma excelência na literatura,seus textos sempre um primor.
    Pecy no último parágrafo ele define a pessoa estranha,deslocada,apaixonante e talentosa que é ,e sabe brilhantemente desfrutar a vida...
    Achei tocante demais a amizade dele por ti,que apesar do tempo, lembra com carinho e fez questão de enaltecer a sensibilidade nos seus desenhos e pintura, que guarda até hoje .

    .
    .
    Um grande abraço.

    Maria José

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  3. SAUDADES!! 3 anos se passaram.
    Carminha

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