COMO NOSSOS PAIS - publicado edição do diário bauruense BOM DIA, último sábado, 06/03
Eu não vivi aquilo tudo, mas quando tomei conhecimento não pude deixar de me apaixonar. Foi uma pena, nasci pouco tempo depois, poderia ter tido um envolvimento muito maior. A geração de Woodstock ousou, inovou e fez a minha cabeça. Revolucionaram. Não havia como não admirar um movimento daqueles a acontecer em pleno coração da América. Cai de quatro, fonte eterna de inspiração e de atuação. O tempo passou. Décadas depois, cá estou eu a continuar na admiração. Olho para o passado com um pesar, pois tudo me parece uma página virada na história mundial. Cadê aquelas pessoas e as idéias que representavam? Boquiaberto constato que, aquela geração nunca mais irá se repetir. O mundo ficou quadrado demais e já não comporta (ou seria suporta?) manifestações como as vividas por tão ousadas pessoas. Vigora hoje um pensamento único e aquela geração representa o oposto disso, personificava a diversidade, pluralidade. E o que terá acontecido com aquelas contestadoras pessoas? Triste constatação. Todos, ou quase todos, esqueceram-se de tudo o que fizeram. Na época, criticavam o país pela caretice e hoje, integradíssimos ao sistema, agem conforme lhe são ditadas as normas e condutas. Os filhos dos filhos daquela geração estão todos em escolas particulares, o dinheiro está na bolsa (a de valores) e não votam mais com a consciência, mas com o que chamam hoje de razão. Não pregam mais nenhum tipo de revolução, longe disso, pregam o conformismo. Envelheceram muito mal.
HORA E MOMENTO CERTOS - publicado edição do diário bauruense BOM DIA, edição de 27/02
Espanta observar que a grande maioria daqueles que criticam a corrupção, procedem da mesma forma, diante de uma oportunidade para atuar em benefício próprio. Criticam o ato alheio, mas sempre praticaram ou esperam a oportunidade certa para adentrar o mundo do dinheiro fácil. Minha ex-esposa apregoava: “Vocês são todos iguais. Criticam tudo e só não fazem igual porque ainda não tiveram uma oportunidade”. Esbravejava com sua fala. Hoje, lendo os jornais sobre o casso Arruda, cito um caso. O ex-policial civil Toledo, aposentado precocemente aos 27 anos, depois de ter sido baleado numa operação de resgate da filha do 2º ex-governador do mês, o Luiz Estevão, cai nas graças desse. De uma hora para outra se tornou o seu mais próximo colaborador, homem de total confiança. Virou o principal arrecadador do caixa 2 do DEM de Brasília, um propineiro muito bem remunerado. Para quem pensa em adentrar o lucrativo negócio, digo que, estava na hora certa e no momento certo. E não perdeu a oportunidade, só parando quando “a casa caiu”. O fato é que a corrupção está arraigada por todos os lugares, mostrando seus tentáculos, mesmo naqueles considerados antes impolutos. O que faltaria para todos nós, pobres mortais, também misturar o público com o privado? Seria a tal da oportunidade? Quem aí resistiria que atire a primeira pedra. Sem hipocrisias, dentro do atual modelo capitalista predatório, a indução a agir assim é natural, intrínseca ao mesmo. Todos os caminhos levam a Roma.
Eu não sou uma pessoa pessimista. Costumo dizer que nasci junto com AI5 (em 1968) e é verdade que enquanto na barriga transportava comunistas do quartel da PE no Rio para que não fossem mortos. A gravidez da mamãe foi álibi para várias vidas que ainda estão por aqui. Daí, virei professora. Continuo acreditando na Revolução a cada dia e em uma talvez maior. Independente de estar nesta nova terra - digo Bauru, continuo dando meu recado para os meus alunos de modo que acreditem que a gente pode SIM mudar as coisas e, sobretudo sermos solidários e FELIZES. Acredito no coletivo, no caso teórico respaldada por Bruno Latour, e no cotidiano praticado com muito trabalho, honestidade e ética. Sonho que se sonha junto pode virar realidade (ou verdade se preferir). Ana Bia Andrade
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