Mafuá do HPA

UMA FRASE (49)

O LIVRO DO OSVALDO, UM POETA TRABALHADOR E UM CONVITE PARA SEXTA

Amanhã, sexta-feira, 18/03 é dia de muitos acontecimentos cidade afora. Um deles me chamou a atenção e dele escrevo aqui. No Automóvel Clube, às 20h ocorre um pequeno evento para o lançamento de um livro, o "VIDA E POESIA", do servidor municipal OSVALDO AGUIAR. O livro foi totalmente custeado pelo próprio autor, funcionário da Secretaria Municipal de Obras, onde atua há 14 anos na manutenção das EMEIs e do Pronto Socorro. O inusitado é que Osvaldo, 58 anos, conseguiu se alfabetizar somente em 2007 no CEJA - Centro de Educação de Jovens e Adultos, mantido pela Prefeitura Municipal e hoje, apenas três anos depois já lança o seu segundo livro de poesias. O incentivo inicial veio da professora Marilaine, que certo dia lhe colocou à prova. "Então o sr gosta de poesia, pois quero ver, faça uma agora", lhe instigou. Ele fez e não parou mais, pegou gosto. Os estudos ele continua, hoje já concluiu o fundamental e está prestes a fazê-lo no ensino médio, no SESUB.

Vê-lo com um pacote de livros nas maõs e descarregando alguns fardos de refrigerante para o evento de amanhã é a certeza de que esse é o evento mais importante a acontecer na cidade amanhã. "Faço uma homenagem a Bauru, que tanto amo, não consigo viver fora dela. Tentei sair daqui algumas vezes, mas em todas acabei voltando. As fotos eu mesmo tirei lá na estação ferroviária", conta cheio de emoção. No primeiro livro, também de poesia, a tiragem foi de 240 exemplares ("hoje só tenho quatro exemplares em casa") e nesse, mais modesta, rodou de imediato sessenta, cada um sendo vendido por R$ 10 reais.

Os títulos de sua poesia falam de tudo. Maria Fumaça, Analfabetismo Zero, O Trabalhador e os Políticos (reprodução ao lado - clique em cima dela para vê-la grande), Caminhoneiro, Diferenças Sociais e A Bebida são alguns deles. "Faço poesia até trabalhando. Uma vez apareceu a inspiração no bico que faço nos finais de semana e escrevi no balcão do trailer. Não tenho teoria nenhuma, mas tento rimar bonito. A professora me orienta e corrije os erros. Tudo o que vejo pode ser um tema para uma próxima poesia", conta Osvaldo. Esse trabalhador, pegando no pesado de segunda a sexta, ainda mantém um trailer de lanche nos finais de semana, defronte a casa noturna Canto da Terra, na avenida Duque de Caxias. O tempo para escrever pode ser em um pequeno intervalo,qualquer horinha vaga. Osvaldo não recebe incentivo da família, pois ninguém entre eles jamais fez o mesmo, mas diz que não o criticam, acham só diferente. E ele, diferente de tantos outros iguais a ele, escreve e conta com os amigos e conhecidos para darem uma conferida se o que faz é mesmo valoroso. Na festa de amanhã, recebeu o apoio do Paulão, uma espécie de faz tudo lá do Automóvel Clube. O Quinteto de Metais 4x1, mais a jovem poetisa Geovanna estarão abrilhantando a noite de sexta com apresentações especiais. O Osvaldo está que é só felicidade de ter conseguido vencer mais essa batalha e pede que divulgue até seu telefone para os que quiserem conhecer mais do seu trabalho: 91899267.

E por fim, outra POESIA aqui transcrita, a DIFERENÇAS SOCIAS: "Tudo se completa de algum jeito!/ Pra que diferenças sociais?/ Pra que exclusão de uma nação?/ Pra que inimizades mortais?/ Pra que humilhação?/ Pra que rejeição?/ Pra que isolar?/ Pra que destruição?/ Pra que confraternizar?/ Entre negros e brancos!/ Entre católicos e avangélicos!/ Entre ingleses e portugueses!/ Entre o perfeito e o defeito". Um texto simples, de rima duvidosa, porém singelo e cheio de rara emoção e só por isso, muito belo.