“SEUS DOCUMENTOS, POR FAVOR”, UMA FRASE PARA GELAR ESTÔMAGOS
Preciso contar uma história ouvida ontem numa oficina de funilaria. Alguns chamam esses profissionais de lanterneiros, prefiro funileiros.
Preciso contar uma história ouvida ontem numa oficina de funilaria. Alguns chamam esses profissionais de lanterneiros, prefiro funileiros.
Falávamos sobre os veículos que circulam em Bauru com alguma irregularidade na documentação. Espanta-me a quantidade que ouço, de veículos a rodarem sem a devida documentação, IPVAs vencidos, essas coisas: “São mais de dez mil veículos”. E conta uma história vivida por causa desse papel, tão importante e a deixar pessoas na rua, sem lenço e documento, com veículo guinchado. Eis uma historinha da amargura de andar no fio da navalha:
“Rodei alguns meses sem documento. Dificuldades que todos temos, honrava compromissos mais urgentes e outros ia adiando. Desviava de certas ruas. Sabia que nelas, não tendo volta e estando logo adiante um comando policial, teria que passar por eles. Daí dava o cagaço de ser parado e a frase fatal: 'Documentos'. Passando incólume dava um friozinho na barriga e uma vontade de emitir um grito na rua. Passei por vários e quase mijei nas calças. Na vez que fui parado, um imenso comando, vários carros já estacionados e eu voltando do mercado com a família junto, compras lotando o porta-malas. O policial averigua o documento e já passo de olhos baixos, pois sei o que virá a seguir. Diz que por estar vencido há muito tempo teria que recolher o carro. Minha justificativa é a de sempre. Não minto, conto a verdade, falo de minhas dificuldades. Ele fica balançado a cabeça e me pede para aguardar enquanto falará com o comandante do outro lado da rua. Ele atravessa a rua e fala com o homem durante uns cinco minutos. Na volta, um cujo carro já estava apreendido ainda tenta argumentar e ao ver-lhe balançando a cabeça já começo a retirar as minhas compras do carro, pois já me via levando tudo no braço. Imagina a cara que minha mulher e filha estavam a fazer. Ele chega, me entrega o documento e pede para que siga o conselho do seu chefe, que é o de regularizar isso o mais rápido possível. Incrédulo, ouço mais. Diz que devo fazer isso rapidamente. 'O do lado de lá não costuma fazer isso e se o fez é porque te considera. Ao te observar do outro lado da rua, me disse para fazer isso, pois um dia você prestou um favor a ele e agradecido, estava retribuindo', conclui o guarda. Me fez um sinal para ser rápido. Tentei ser, mas justamente naquele momento o carro, não lá muito novo, cismou de não pegar. E não pegou mesmo. Sabe o que aconteceu a seguir. Todos da família dentro do carro e dois guardas empurrando o desabilitado veículo num tranco do qual não me esquecerei jamais. Depois vieram outras histórias, pois a vida dura continua”.
Por fim, perguntou-me se também não teria uma história dessas para contar. Todos possuem. É claro que tenho a minha. Algumas, por sinal. Não as conto agora, talvez em outro dia. Hoje, fica a desse amigo e aí embaixo nos Comentários a de quem se habilitar a postar seu relato.
Alegria, Alegria
ResponderExcluirCaetano Veloso
Composição: Caetano Veloso
Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou...
O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou...
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot...
O sol nas bancas de revista
Me enche de alegria e preguiça
Quem lê tanta notícia
Eu vou...
Por entre fotos e nomes
Os olhos cheios de cores
O peito cheio de amores vãos
Eu vou
Por que não, por que não...
Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento,
Eu vou...
Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou...
Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil...
Ela nem sabe até pensei
Em cantar na televisão
O sol é tão bonito
Eu vou...
Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou...
Por que não, por que não...
Por que não, por que não...
Por que não, por que não...
Por que não, por que não...
com um beijo da ana bia
Henrique, você não muda meu amigo!
ResponderExcluirHá pelo menos, ou melhor há exatos 27 anos te conheço, e a história se repete. Gostei e cabe bem a frase: "...do limão uma limonada".
Fosse eu o seu anjo da guarda pediria aumento salarial!
Abraços e juízo meu amigo!
ACPavanato
MEU CARO PAVANATO:
ResponderExcluirAprecio seus cuidados para comigo.
Porém, essa história não é minha. As minhas, você bem sabe, conhece algumas, não possuem finais tão felizes como o narrado.
Retribuo os abraços, mas não sei se gostaria de ter juízo. Afinal, que seria isso? Ser igual a maioria dos que andam certinhos, sempre em cima da linha. O trem me pegaria, com certeza. Prefiro as incertezas e a inconstância, pois delas tiro a minha limonada.
Desajustado até os 50, não será agora que tomarei jeito...
Henrique - direto do mafuá