quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (45)

“SEUS DOCUMENTOS, POR FAVOR”, UMA FRASE PARA GELAR ESTÔMAGOS
Preciso contar uma história ouvida ontem numa oficina de funilaria. Alguns chamam esses profissionais de lanterneiros, prefiro funileiros.

Falávamos sobre os veículos que circulam em Bauru com alguma irregularidade na documentação. Espanta-me a quantidade que ouço, de veículos a rodarem sem a devida documentação, IPVAs vencidos, essas coisas: “São mais de dez mil veículos”. E conta uma história vivida por causa desse papel, tão importante e a deixar pessoas na rua, sem lenço e documento, com veículo guinchado. Eis uma historinha da amargura de andar no fio da navalha:

“Rodei alguns meses sem documento. Dificuldades que todos temos, honrava compromissos mais urgentes e outros ia adiando. Desviava de certas ruas. Sabia que nelas, não tendo volta e estando logo adiante um comando policial, teria que passar por eles. Daí dava o cagaço de ser parado e a frase fatal: 'Documentos'. Passando incólume dava um friozinho na barriga e uma vontade de emitir um grito na rua. Passei por vários e quase mijei nas calças. Na vez que fui parado, um imenso comando, vários carros já estacionados e eu voltando do mercado com a família junto, compras lotando o porta-malas. O policial averigua o documento e já passo de olhos baixos, pois sei o que virá a seguir. Diz que por estar vencido há muito tempo teria que recolher o carro. Minha justificativa é a de sempre. Não minto, conto a verdade, falo de minhas dificuldades. Ele fica balançado a cabeça e me pede para aguardar enquanto falará com o comandante do outro lado da rua. Ele atravessa a rua e fala com o homem durante uns cinco minutos. Na volta, um cujo carro já estava apreendido ainda tenta argumentar e ao ver-lhe balançando a cabeça já começo a retirar as minhas compras do carro, pois já me via levando tudo no braço. Imagina a cara que minha mulher e filha estavam a fazer. Ele chega, me entrega o documento e pede para que siga o conselho do seu chefe, que é o de regularizar isso o mais rápido possível. Incrédulo, ouço mais. Diz que devo fazer isso rapidamente. 'O do lado de lá não costuma fazer isso e se o fez é porque te considera. Ao te observar do outro lado da rua, me disse para fazer isso, pois um dia você prestou um favor a ele e agradecido, estava retribuindo', conclui o guarda. Me fez um sinal para ser rápido. Tentei ser, mas justamente naquele momento o carro, não lá muito novo, cismou de não pegar. E não pegou mesmo. Sabe o que aconteceu a seguir. Todos da família dentro do carro e dois guardas empurrando o desabilitado veículo num tranco do qual não me esquecerei jamais. Depois vieram outras histórias, pois a vida dura continua”.

Por fim, perguntou-me se também não teria uma história dessas para contar. Todos possuem. É claro que tenho a minha. Algumas, por sinal. Não as conto agora, talvez em outro dia. Hoje, fica a desse amigo e aí embaixo nos Comentários a de quem se habilitar a postar seu relato.

3 comentários:

  1. Alegria, Alegria
    Caetano Veloso
    Composição: Caetano Veloso
    Caminhando contra o vento
    Sem lenço e sem documento
    No sol de quase dezembro
    Eu vou...

    O sol se reparte em crimes
    Espaçonaves, guerrilhas
    Em cardinales bonitas
    Eu vou...

    Em caras de presidentes
    Em grandes beijos de amor
    Em dentes, pernas, bandeiras
    Bomba e Brigitte Bardot...

    O sol nas bancas de revista
    Me enche de alegria e preguiça
    Quem lê tanta notícia
    Eu vou...

    Por entre fotos e nomes
    Os olhos cheios de cores
    O peito cheio de amores vãos
    Eu vou
    Por que não, por que não...

    Ela pensa em casamento
    E eu nunca mais fui à escola
    Sem lenço e sem documento,
    Eu vou...

    Eu tomo uma coca-cola
    Ela pensa em casamento
    E uma canção me consola
    Eu vou...

    Por entre fotos e nomes
    Sem livros e sem fuzil
    Sem fome, sem telefone
    No coração do Brasil...

    Ela nem sabe até pensei
    Em cantar na televisão
    O sol é tão bonito
    Eu vou...

    Sem lenço, sem documento
    Nada no bolso ou nas mãos
    Eu quero seguir vivendo, amor
    Eu vou...

    Por que não, por que não...
    Por que não, por que não...
    Por que não, por que não...
    Por que não, por que não...


    com um beijo da ana bia

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  2. Henrique, você não muda meu amigo!
    Há pelo menos, ou melhor há exatos 27 anos te conheço, e a história se repete. Gostei e cabe bem a frase: "...do limão uma limonada".
    Fosse eu o seu anjo da guarda pediria aumento salarial!
    Abraços e juízo meu amigo!
    ACPavanato

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  3. MEU CARO PAVANATO:

    Aprecio seus cuidados para comigo.
    Porém, essa história não é minha. As minhas, você bem sabe, conhece algumas, não possuem finais tão felizes como o narrado.

    Retribuo os abraços, mas não sei se gostaria de ter juízo. Afinal, que seria isso? Ser igual a maioria dos que andam certinhos, sempre em cima da linha. O trem me pegaria, com certeza. Prefiro as incertezas e a inconstância, pois delas tiro a minha limonada.

    Desajustado até os 50, não será agora que tomarei jeito...

    Henrique - direto do mafuá

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