DUAS HISTÓRIAS, A DO SHIBLI DE BANGLADESH E A DESPEDIDA DE MALINI NUM CAIXÃO
1. Carnaval em cidade grande, ainda mais turística é propícia para encontros dos mais inusitados. Um desses aconteceu comigo na segunda, 07/03. Estávamos eu e Ana Bia entre Botafogo e Laranjeiras, coração da Cidade Maravilhosa, quando uma amiga conosco nos diz que o namorado a esperava num bar ali perto, o Casa Brasil. Ao lá chegarmos esse estava acompanhado de um estrangeiro, que havia lhe sido apresentado via outro amigo. Esse estrangeiro é SHIBLI KAISER AZIZ, de um país encravado entre a Índia e o Paquistão, BANGLADESH (http://bangladesh.gov.bd/ ). Shibli está no país para comprar açúcar para seu país através da empresa na qual é "Director Overseas Afairs" (vejam sua foto engravatado no http://www.paxoverseas.com/profile.htm ), a Pax Overseas Limited. Os negócios estavam sendo feitos em São Paulo, mas nada melhor do que conciliar a vinda para o “País do Carnaval” e conhecê-lo à fundo. Daí a vinda para o Rio foi um pulo. É muçulmano shick, de uma linha não tão radical, com estudo no exterior, pai antropólogo e querendo conhecer um pouco mais do país onde comprará mais de 500 toneladas mês de açúcar. Simpático e não falando quase palavra nenhuma em português, respondeu a todas minhas perguntas e até estranhou um brasileiro ter algum conhecimento, pequeno que seja de algo referente ao seu país. Falei a ele do banqueiro dos pobres, o Nobel da Paz que enfrenta problemas com a primeira ministra do país, Sheikh Hasina, desde que tentou fundar seu próprio partido político. Riu e acabou me respondendo, com a Ana sendo nossa intérprete. Falamos de Brasil, religião, usinas açucareiras no interior paulista, as intermediações da compra feita através de uma empresa paulistana e da festa na qual estávamos inseridos. Tomamos chopps, comemos sardinha e subimos numa trupe até Santa Teresa ver um pouco do Carnaval no alto do morro. Nada sei dele e de seus negócios no Brasil, mas por pouco não faço intermediação para conhecer Barra Bonita e a Usina da Barra, nossa maior produtora de açúcar. Achei isso muito para um socialista tupiniquim e acabamos deixando esse assunto de lado, gingando um pouco lado a lado. Por fim, a despedida no Restaurante Sobrenatural e na saída, antes de entrarmos em táxis diferentes, uma cena que fotografei e ele me acompanhou nas observações. Um senhor com três imensos sacos de latinhas amassadas de cerveja nas costas, mostrava que a desigualdade social permanece quase intacta,tanto aqui como lá na sua terra. Um câncer que o capitalismo não resolve.
2. Roberto Malini é diretor e ator de teatro na cidade de Bauru e sua especialidade as encenações envolvendo o gênero terror, com ligação umbilical ao mestre nesse ofício, Zé do Caixão. Já aprontou algumas pela cidade, sempre acompanhado de uma animada trupe caracterizada e com sangramentos artificiais espalhados corpo afora. Tanto fez por aqui, que a cidade acabou ficando pequena demais para suas estrepulias e resolveu que irá embora, trabalhar e atuar na capital paulista. A despedida foi feita em grande pompa no dia de ontem na Praça Rui Barbosa, centro da cidade, por volta das 18h e da forma mais inusitada possível. Reuniu os seus, junto de alguns membros da Cultura, ligados ao MIS - Museu da Imagem e do Som (Jesus do Ferrovia para Todos e Guto Guedes, performáticos por osmose estavam de dar medo), juntaram-se a Esso Maciel, que de posse de uma filmadora, registra agora tudo o que se passa na cidade (parece muito com o índio Juruna e seu inesquecível gravador a registrar as inverdades dos brancos) e armaram um clima de velório cult bem na frente na matriz da igreja católica, no horário em que os alto-falantes anunciavam ser 18h, hora da Ave Maria. Rodeou de gente curiosa e o féretro desceu a rua Gustavo Maciel até o MIS onde lá foi apresentado o seu último trabalho, o curta metragem "ASFIXIA". Hoje, sábado, 16h30 ele ministra Oficina e amanhã, domingo, 12/03 às 19h30 mais curtas, exatamente quando a noite começa a cair sob os trilhos férreos da cidade e dizem os espíritos costumam se achegar junto aos que lá resolvam estar. Mais um bom motivo para a despedida do Malini e da esposa, sendo aguardado seu renascimento num grande centro. Por fim a constatação deste escrevinhador: faltam atividades desse tipo nas ruas Bauru, não só nas praças centrais, como nas da periferia. Fica a dica para que isso continue a acontecer nas hostes culturais da cidade, comprovando algo lido na segunda, 07/03, no artigo semanal da professora Cleide Biancardi no BOM DIA, que não sei se foi escrito em tom de ironia, deboche ou pura demonstração de sensibilidade de sua parte quando afirmou: "Com os excelentes atores, diretores de teatro, dançarinos, músicos, artistas plásticos e artesãos bauruenses, a Secretaria Municipal de Cultura poderá coordenar uma Virada Bauruense, como sugeriu o prefeito. E com uma vantagem, durante o evento poderá distribuir o famoso sanduíche bauru, com apoio dos beneméritos empresários da cidade". O fato é que acho que isso possa realmente acontecer, pois acredito na força amortecida da classe artística da cidade. Eles não podem é querer que tudo caia do céu, como essa chuva que não pára de nos castigar há mais de dez ininterruptos dias.
Em tempo: A encenação do grupo ligado ao Malini não é carnavalesca, mas podia muito bem ser, pois está mais do que inserida nesse contexto.
Em tempo: A encenação do grupo ligado ao Malini não é carnavalesca, mas podia muito bem ser, pois está mais do que inserida nesse contexto.
Belíssimo texto!!!
ResponderExcluirabraços
GUTO GUEDES
Meu amigo
ResponderExcluirEsse Malini tem uma corzinha que não engana ninguém. Cara de defunto. É o próprio. Que horário ruima para ver seu filme.
Daniel Carbone
Adoro ver as artistas de Bauru nas ruas e praças. Pois que elas sejam ocupadas daqui por diante e para sempre. Vamos aprender como fazer isso com o pessoal do MST.
ResponderExcluirRegina
Malini é sem duvida um guerreiro, infelizmente ainda tem pouca gente, como ele, disposta a "pagar o mico" de ocupar as ruas de Bauru, seria ótimo ver mais artistas ocupando os espaços publicos. Mas quem sabe a virada cultural da um gas e disperta a massa artistica bauruence.
ResponderExcluirPS. o padre tambem era do MIS rs..
Caro padre Linguissa (sic):
ResponderExcluirDesculpe, mas a correção está feita. O MIS estava em peso no enterro do Malini. Espero reencontrá-los por aí em outras atividades.
Henrique - direto do mafuá