MEUS TEXTOS NO BOM DIA (125, 126 E 127)
DUAS FRASES RADIOFÔNICAS – publicado diário bauruense BOM DIA, 14/05/2011
Eu, como não me canso de apregoar por aqui, sou assíduo e contumaz ouvinte de rádio, tanto AM como FM. Fuço muito e estou em constante mudança de uma estação para outra. Não gosto de algo, pronto, mudo logo. Faço isso em tudo na vida, insisto só em poucas coisas, as inevitáveis. Aqui em Bauru não vivemos um bom momento no quesito rádio, principalmente nas AMs. Algumas fecharam, todas com abusiva propaganda evangélica e uma pífia programação, nada opinativa e a reproduzir o batidão geral, muita coisa tendenciosa no ar. Adoro os que remam contra a maré. Ressalto algo grandioso esse mês, os 20 Anos da Rádio Unesp FM, algo diferenciado e de qualidade no dial nacional. Viajo com eles todos os dias e nesses 20 anos, deixei de fazê-lo em pouquíssimas ocasiões. Tenho muitos amigos dentre os radialistas, mas ressalto aqui a coragem de uma radialista, dessas que ainda exercem a profissão na acepção da palavra, Maria Dalva, da 94FM. Uma delícia ouvir seus comentários no horário do almoço. Com alguns até engasgo, largo o garfo e faca e corro a procura de um lápis e papel a anotar o que acabou de dizer. No começo dessa semana comentando sobre as filas duplas defronte um colégio particular no centro de Bauru, algo que não muda nem que a vaca tussa, sacou algo assim: “Quem pode faz suas próprias leis”. Para bom entendedor está tudo dito aí, de forma instigante e definitiva. Dalva sabe o que fala e acerta sempre na mosca. Ainda na 94FM ouço outra, dessa vez proferida por Paulo Sérgio Simonetti, o dono do estabelecimento, no programa jornalístico InformaSom. “Não existe uma só viagem que façamos hoje pelas estradas paulistas sem que se leve uma multa”, disse. É a mais pura verdade. É impossível escapar da gana arrecadatória dos radares paulistas. Verdadeira máfia por trás disso e isso dói, e muito, no bolso de todos nós. Do Paulo, posso não concordar com tudo, mas acordo escutando seu programa, conversas com o ouvinte, algo tão em falta em outras programações.
BURLANDO A LEI TRABALHISTA – publicado diário bauruense BOM DIA, 21/05/2011
Em 2010 foi registrado um recorde na geração de empregos com carteira assinada: 2,8 milhões. A soma do trabalho formal chegou a 44,1 milhões. Desses, 15,3 milhões foram criados nos dois governos de Lula. Nem isso impede um quadro assustador, o da legislação trabalhista estar em baixa. Fiscalização existe e com exaustiva atuação, tanto que o nome dos fiscais são conhecidos por todos, figurinhas fáceis nos noticiários. Os abusados a burlarem a legislação é que estão cada vez inovando nas formas de aumentarem seus lucros à custa do não cumprimento das obrigações trabalhistas. Cito exemplos. Uma grande construtora, dessas a infestar a cidade de blocos como moradias é pega com trabalhadores em regime de semi-escravidão, contratos mal explicados, verdadeiros ninhos de ratos como alojamentos e gente vinda do Nordeste como gado. O lucro aumentando a olhos vistos. Apartamentos superfaturados, vendidos aos borbotões e pagando muito mal os que pegam no pesado. Outro descalabro é o que se denomina de PJ – Pessoa Jurídica, muito comum em empresas bancárias e no segmento imobiliário. Respaldados por desvios na legislação não registram mais seus corretores. Muitos outros trabalham ganhando só comissões e isso só em caso de venda efetuada, do contrário, nada. Tem imobiliária na cidade com mais de 80 desses, nenhum com carteira assinada e todos divulgando a mesma, quase gratuitamente. São novas formas de exploração da mão de obra, aperfeiçoamentos no driblar leis. Um vale tudo financeiro, onde o lucro é cada vez maior e o trabalhador cada vez menos protegido. Uma beleza, dizem ser esse o futuro perfeito. Perfeito para quem?, pergunto eu.
RICO VAI PARA A CADEIA? – publicado diário bauruense BOM DIA, 28/05/2011
Após mais de dez anos de recursos jurídicos o jornalista Pimenta Neves e o ex-prefeito Izzo Filho são recolhidos à prisão. Um matou a namorada a tiros e o outro fez e aconteceu com o poder nas mãos. Ambos famosos e com recursos, recorreram até não mais poder, a maior parte do tempo em liberdade. Esse o percurso do processo penal brasileiro, um ritual a favorecer os endinheirados. Mais que isso, principalmente as grandes bancas de advogados, que usam todos os recursos disponíveis, alguns únicos no Brasil, ganhando somas inimagináveis e postergando condenações por tempo indeterminado. Como alterar isso? O ministro presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Cezar Peluso tenta mexer nesse vespeiro e enfrenta a fúria da reação corporativa dos advogados. São quatro instâncias recursais e uma esdrúxula legislação processual. O ganhar tempo é uma fonte de impunidade permanente para o criminoso endinheirado e totalmente inacessível para o cidadão comum. A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) é contra a redução das instâncias e usa como argumento que isso dificultaria acesso à Justiça. Essa farra de recorrer a quatro instâncias também favorece os governos a não honrarem seus compromissos de precatórios. E assim prorrogam tudo até não mais poderem. Sabe qual é nó da questão? A grande maioria dos processos possui caráter de recurso e já tendo passado por instâncias inferiores, desaguam no STF, que foge ao seu princípio básico: o de apreciar somente assuntos estritamente constitucionais. Virou um grande tribunal recursal, uma farra do boi e, conseqüentemente, faz com que a justiça caminhe lentamente. Já ouviram aquela máxima de que “rico não vai para a cadeia”. Peluso luta contra isso, mas a resistência corporativa da chicana jurídica é forte e quer continuar se aproveitando financeiramente da situação. Muita grana fácil em questão.
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