MEUS TEXTOS DO BOM DIA (136 e 137)
LIÇÃO PORTENHA APLICADA EM BAURU – texto publicado diário bauruense BOM DIA, 30/07/2011
Vivencio in loco uma eleição na Argentina. Acirrada disputa em segundo turno pela Prefeitura de Buenos Aires. De um lado, Macri, concorrendo à reeleição, assumido populista direitista e do outro, Filmus, unindo as esquerdas e interesses mais palatáveis. Povo nas ruas, panelaços, acirramento de questões e algo igual ao vivenciado em Bauru, São Paulo e Brasil. Explico. A maior polêmica no período pré-eleitoral foi um artigo publicado no diário Página 12, pelo cantante Fito Páez, “A metade”, onde escracha sua repugnância pelo avanço direitista. "Metade dos portenhos gosta de ter o bolso cheio, a que custo não importa. Metade dos portenhos gosta mais de aparentar do que ser. Não porque eles não podem. Eles não querem ser. E o que esta metade está sendo ou no que está se transformando, cada vez com mais veemência há algumas décadas, é repugnante”, escreveu o músico. "Aqui, a metade dos portenhos prefere seguir tentando resolver o mundo em mesas de bar, nos táxis, emburrecendo cada vez mais com profetas do vazio disfarçados de animadores familiares televisivos, porque o povo quer é se divertir. Metade de Buenos Aires dá asco. Buenos Aires quer um governo de direita. Mas daquela direita com papadas. Simplória… Gente com idéias para poucos. Gente egoísta. Gente sem swing. Isso é o que a metade da Cidade Autônoma de Buenos Aires quer para si mesma”, continuou. E o mesmo não aconteceria em Bauru? Hoje, nos seus 115 anos, ótima oportunidade para séria reflexão do que queremos. Tem candidato chegando de fora, mais populista impossível, outro ocultando interesses na defesa da especulação imobiliária, tem boi de piranha e tem quem entre de gaiato no navio. E a Bauru que decide as eleições quer o que? Continuo me posicionando ao lado da metade dos que querem e lutam por algo novo, sem medo de ser feliz, com os pés mais do que atolados nos interesses dos menos favorecidos e colaborando para que os de uns poucos não prevaleçam sobre os da maioria. Torço aqui na Argentina e aí estarei no campo de batalha para desmascarar a metade lobo em pele de cordeiro, uma que só pensa nos seus próprios botões.
QUÃO TOLA É A DECADENTE “ZELITE” – texto publicado no diário bauruense BOM DIA, 06/08/2011
O Brasil continua uma terra de injustiças e injustiçados e o grande mal a persistir é o que contaminou a cabeça de uma classe a se intitular com direito divino sobre as demais. Fizeram e desfizeram do país ao seu bel prazer e hoje, decadentes ainda não totalmente assumidos, tentam sobreviver com a aura de um passado que não mais existe. Só eles podiam falar com cátedra de viagens, citar lugares nunca dantes navegados pela massa ignóbil, o luxo de terem pisado locais reservadamente chiques e saborear exclusivamente de meios de locomoção como aviões, por exemplo. A área internacional dos aeroportos o seu reduto, última trincheira e a freqüência a um free shop algo só permitido aos mais vetustos. A banalidade elevada à enésima potência. Nunca imaginavam uma horda de desclassificados invadindo esse último reduto e ainda por cima fotografando tudo. Esse clicar do mundo é algo tão divinal, que assumidamente faço isso, principalmente diante destes a ainda se acharem os donos da cocada preta. Registro o quanto são ridículos e suas fisionomias demonstram cada vez a decadência, não só financeira, como de intelecto. Viceja nesses um olhar de “elo perdido” (ou seria desfeito?). O sonho, se ainda não acabou, pressentem “algo de novo no ar além dos aviões de carreira”. E se assustam. Dou muita risada com suas vestes (mantendo o vinco do arcaico), os cheiros falsos provenientes um perfume caro (só assim para esconderem o cheiro fétido do mofo), os trejeitos todos pensados (e tão inúteis), numa tentativa vã e insana de mostrarem-se acima da média, um tentando ser mais imponente (e inconseqüente) que o outro. Recomendo uma esbarrada, um tropeção, para talvez os reintegrarem na realidade atual e ao novo momento, onde o ingresso dos de baixo é quase um fato, não uma miragem. Ao não aceitarem a chegada intempestiva da turba de “desqualificados”, afirmam exercerem esses uma guerra entre as classes, pregadores do separatismo e, por fim, questionam: Não é mesmo possível uma coisa dessas, afinal, nós que nunca pensamos em nos apartarmos, se nada fizermos, daqui a pouco quererão morar no nosso condomínio fechado?
OBS FINAL: Todas as fotos a ilustrar esses meus dois textos foram tiradas por mim nas ruas de Buenos Aires entre os dias 26 e 31/07/2011. Algo que gostei muito nos muros portenhos foi a grafitagem com "estencil", algo ainda um tanto incipiente aqui no Brasil e sem o caráter político, lá algo marcante e de presença constante. Escrevo sobre isso nos próximos dias. Por fim, Macri, o direitista se reelegeu por lá com quase 68% dos votos e no meu texto dessa semana no BD, a inspiração, claro, partiu de algo abominável publicado no mesmo jornal, edição de 02/08, "Guerra entre classes", do Ivan Garcia Goffi, talvez um dos únicos assumidos direitistas bauruenses, a versão local do Jair Bolsonaro.
Henrique
ResponderExcluirOnde leio o texto do Ivan Goffi que vc cita. Tentei no site do jornal Bom Dia e não o achei. Localize para que tomemos conhecimento. Não tem um texto dele que não me posicione contra, mas esse ainda não li.
Gostei do uso do termo "zelite" no seu título, pois é exatamente assim que eles, os da elite dizem que os chamamos, que nem a denominação correta sabemos utilizar. São uns tolos, como acertadamente escreveu.
Daniel Carbone