MEUS TEXTOS NO BOM DIA (141 e 142) e CARTA (71) e CHARGES ESCOLHIDAS A DEDO (44)
A FUNDAÇÃO, O TRABALHO E O FACÃO - publicado diário bauruense BOM DIA, 03.09.2011
Esse negócio da privatização da Saúde em Bauru, a chegada de uma Fundação a gerir os negócios no entorno dela e todos os problemas daí advindos com a legislação trabalhista, tão pouco discutidos, me fizeram perder o sono. Sonhei com algo visto recentemente na Argentina, no salão principal de uma grande loja varejista no centro de Buenos Aires, a Falabella. Lá, sentados no chão da loja, um jovem casal repunham num animado papo o estoque de produtos numa das prateleiras. Parei e fiquei a observá-los. Tanto lá como cá, a dureza da imposição capitalista sobre os trabalhadores, mas lá algo inimaginável aqui. Fui pesquisar e verifico que lá a legislação trabalhista ainda continua atuante e eles, cientes de suas responsabilidades, trabalham sem um peso a mais sobre seus ombros, o implacável medo da guilhotina a cada passo dado. Existem sindicatos fortes e leis rígidas. Mais que isso, gente a lutar pela sua manutenção. Aqui, nem tanto. Existem sim os que lutam, mas a lei já está flexibilizada e em alguns casos desvios criados a favorecer o mais forte. A garantia do emprego já não é a mesma de tempos atrás. O empresariado diz ser isso um avanço e os trabalhadores um retrocesso. Numa fundação, como a proposta em Bauru, essa garantia vai para o vinagre, aquele trabalhador reivindicador terá vida curta e até a Prefeitura adere a essa modalidade no trato com o semelhante. Existiriam concursos? Vigora hoje nas empresas brasileiras uma espécie de contrato, ganha só o que se produz e as horas passadas na labuta perdidas. Registro em carteira virou exceção, tudo autônomo, como se fossem uma pequena firma. Pois bem, nesse regime, eis o nó vivido no meu sonho: o trabalhador nem sentar e papear enquanto trabalha é mais possível. O medo de perder a vaga, a instabilidade, a fila de gente buscando seu lugar e uma pífia retaguarda amedrontando a todos. Mas o que interessa mesmo é o progresso, a qualquer custo. Nisso estamos bem, obrigado.
CAMILA VALLEJO – publicado diário bauruense BOM DIA, edição de 10.09.2011
Esse nome dito assim talvez não diga nada a muitos, mas essa mulher de 23 anos é a chilena que está comprando todas as brigas pela alteração da lei educacional de seu país, o Chile. Lá, o debate educacional estava empacado e a educação pública não existe para o ensino superior. Tudo é particular e caro. Em alguns casos, bolsas são concedidas, com endividamento de até 20 anos após a conclusão dos cursos. Algo que o presidente Sebastián Piñera nem sonhava em tocar durante seu mandato. Surpreendido por uma revolta estudantil, que primeiro ganhou às ruas, depois o apoio popular, chegando praticamente a parar o país, obrigou às forças conservadoras a escutarem o motivo do barulho. O Chile, considerado por muitos durante o nefasto período de Pinochet, como um reduto de prosperidade, ocultava seu lado nefasto. Durante os anos de chumbo os donos do capital suprimiram leis trabalhistas e o capital privado foi ocupando todos os espaços. Tivemos aqui em Bauru exemplo bem vivo e representativo a demonstrar a dureza no trato com as instituições e, principalmente, como as pessoas. Aportou por aqui, um dos irmãos Rocha, que por alguns anos comandou a nossa USC – Universidade do Sagrado Coração. Veio com um objetivo bem definido e só voltou para o Chile após ver concluído sua missão. Lá no Chile a família Rocha é sinônimo de ensino privado e caro. Algo cujos detalhes tomamos conhecimento nesse momento. Felizmente lá a consciência estudantil prevaleceu e o modelo excludente está sendo colocado em dúvida e a pergunta que não quer calar é essa: O país vai optar por criar um ensino público gratuito ou deseja manter tudo privado? É por isso que os estudantes estão mobilizados e algo de preocupante está a ocorrer, quando a corajosa, porém indefesa Vallejo está a necessitar de proteção policial, tal o nível de ameaças que sofre. Lá, todos na rua, unidos numa só ideal, aqui idem, porém fazendo fila para a próxima festa da Athlética. Que diferença, hem? Mais dela, cliquem no: http://www.youtube.com/watch?v=TKxfLF9VQJk
11/09 - QUEM PLANTA COLHE – carta publicada Tribuna do Leitor, Jornal Cidade – Bauru SP, 11.09.2011
Tenho comigo que quem planta um dia colhe. No 11 de Setembro, algo que não me sai da memória. Como professor de História, relembro sempre com muita tristeza ter sido num 11 de Setembro do ano de 1973 a ocorrência do mais truculento golpe de estado a vitimar um país latino-americano, no caso o Chile. Tudo capitaneado pelos interesses norte-americanos (sempre eles) e com a entrada em cena de um truculento modo de governar, o proposto pelas botinas de militares tipo Pinochet. Naquele momento chegava ao fim um dos governos mais humanitários do continente, o de Salvador Allende e o Chile foi transformado num imenso quartel, seu povo amordaçado, num processo não totalmente liberto, mesmo com os militares tendo deixado o país décadas atrás. No Brasil algo parecido, pois nem culpabilizar os algozes fardados ainda conseguimos fazer, tal o trauma das fardas verde-olivas sobre nossas vidas. No Chile de hoje, uma menina de 23 anos, Camila Vallejo está no comando de uma greve geral a paralisar o país por melhorias na educação e após a mídia divulgar gratuitamente seu endereço, dados pessoais, vive obrigada a circular sob proteção policial. Quantas décadas um país demora a superar o trauma desses regimes contra o povo? Por esses dias fico a observar a pompa com que se escreve sobre o atentado às Torres Gêmeas em Nova York, em mais uma data redonda e do ocorrido, uma só observação: os EUA tanto fizeram, aprontaram, massacraram, espezinharam, usurparam e rapinaram que, acabaram encontrando o seu. Colheram o que plantaram, nada mais que isso. E não aprenderam a lição.
Créditos nas ilustrações: O do cartão de ponto é do ALCY, o do apontador de dedo é do MILLÔR, a tira do Huevitos, a única que achei lembrando o golpe no Chile é uma tira do argentino REP, a da marca do Bradesco/Torres Gêmeas é uma premiada do EDUARDO FELIPE e a última, lá embaixo, remember do REP, publicada dez anos atrás e revivida na edição de hoje do Página 12.
Olá Henrique,
ResponderExcluirLendo seu artigo de hoje no Jornal da Cidade,fiquei instigada em compartilhar contigo sobre esse acontecimento de 11-09-2001
Concordo plenamente qdo diz "Quem planta colhe",nessa tragédia ficou claro que não há Lei Divina,e sim a Lei de causa efeito.
Sinto pelas pessoa que perderam seus entes queridos,mas em contrapartida ,explicitou ao mundo que os americanos não são onipotentes e que os super heróis não nascem só lá.....
O respeito e a humildade em governar cabe à todos,sem arrogância capitalista.
Obs.Desculpa a simplicidade da explicação ,não sou prof de História e nem jornalista...rsrs
Um exelente domingo à ti !
J.
Algumas frases do discurso do Obama neste 11/09:
ResponderExcluir"Vencemos o terrorismo, o comunismo e a recessão", "a memoria do 11/09 fortalece nossa democracia".
E a presidente Dilma disse que está com ele na "guerra contra o terror".
Enquanto isso as bombas caem no oriente medio, o imperialismo destrói vidas de norte a sul nas americas, e ainda tem gente que ve esse bosta com bom olhos.
Olha fica aqui um recado de quem tá de saco cheio dessa subserviência do seculo 21, quero q todos que acreditam na "democracia", todos que acreditam nas eleições, nos discursos de tribuna, todos que agora estão correndo atras de filiações e acordos para as proximas eleições, todos os sindicalistas q estão enganando e explorando os trabalhadores, "voluntarios" de ongs que enchem os bolsos, das hipocritas caridades, os q se sentam a mesa do poder publico capitalista para pedir dinheiro, para os direitistas e pelegos q se travestem de esquerda, radicalizando direi firme depois deste 11/09 vendo Obama falar:
Vão todos pra puta que pariu e tomar no cu bem profundamente.
Patria ou morte, com Fidel seguiremos!!!
Marcos Paulo
Comunismo em Ação
OUTRO 11 DE SETEMBRO? SIM, O 1973. “Dos desertos do salitre, das minas submarinas do carvão, das alturas terríveis onde jaz o cobre e onde as mãos do meu povo o extrai com trabalho desumano, surgiu um movimento libertador de importância grandiosa. Esse movimento levou à Presidência do Chile um homem chamado Salvador Allende.” (Pablo Neruda) 11 de setembro. O de 1973. O rádio do carro teve sua música interrompida. O locutor da Eldorado, de São Paulo, voz impostada como convém aos arautos do poder, anuncia: “ Acaba de ser desencadeado um vigoroso ataque aéreo ao Palácio de La Moneda. Os chefes militares do Chile informam que se trata de uma operação para destituir Allende e salvaguardar a democracia.” Atônito, afundo o pé no acelerador, como se na tentativa de desvencilhar-me de um pesadelo. Acuado pela barbárie contida na notícia, argumento, em silêncio: afinal, se os funcionários fardados do Estado chileno, remunerados pelo povo, mesmo assim submetem-se às determinações dos dinossauros da Casa Branca, atribuindo-se a onipotência de eliminar o presidente da República constitucionalmente escolhido e pisotear a Constituição do seu país, por que deveria eu molestar-me com uma “simples” infração de trânsito? “Aos detentores do poder fazedor de leis, o direito, limitado apenas pelos interesses do próprio poder; aos comuns, a lei!”, exclamou Magali, minha mulher, no banco ao lado, como se lendo meus pensamentos. E após observar o velocímetro. Diminuo a velocidade. Estava consumado mais um ato do obscurantismo humano. Novamente não havia sido possível evitar... Salvaguardar a democracia!, repito, esbravejando. Já testemunhara essa hipocrisia muitas vezes. A quartelada de abril de 1964, no Brasil, foi pródiga em difundir tamanha mentira. Que, de tanto ser repetida pelas oligarquias e ecoada pela mui leal e valerosa mídia, não só acabou por arrebanhar milhões de incautos entre nós, como estimulou e facilitou sua exportação, financiada pelos Estados Unidos, para a Argentina, o Uruguai e o Chile, para ater-nos apenas ao Cone Sul (o Paraguai já havia muito tinha entronizado seu general). “Após o bombardeio aéreo, vieram os tanques, para lutar intrepidamente contra um só homem: o presidente da República do Chile, Salvador Allende, que os esperava em seu gabinete, sem outra companhia a não ser seu grande coração envolto em fumaça e chamas. Não podiam perder uma ocasião tão boa. Era preciso metralhá-lo, porque jamais renunciaria a seu cargo.” (Pablo Neruda, in Confesso que vivi) Foi apenas o monstruoso início da operação. Operação inferno absoluto, ver-se-ia em seguida. As inquisições da Idade Média foram ressuscitadas. As togas do Judiciário assumiram o modelito bordado de reluzentes e bravias condecorações vestido pelo generalíssimo Pinochet, até hoje amiguinho da liberalíssima Tatcher.
ResponderExcluirCONTINUA...
CONTINUAÇÃO...
ResponderExcluirO terror institucionalizado, e chancelado por Washington, mutilou o país de norte a sul, ensangüentando presídios, escolas, fábricas, minas de carvão, de salitre e de cobre; na falta de outros espaços, os campos de concentração, digo, de futebol. O Estádio Nacional de Santiago, onde cabem, apenas nas arquibancadas, mais de cinqüenta mil pessoas, ficou abarrotado de prisioneiros ou simplesmente “indiciados”. Imortalizou-se, lamentavelmente, muito mais por isso que pelos dribles lá assistidos. As montanhas esbranquiçadas dos Andes foram testemunhas oculares. Às vezes chego a imaginar que o rubro da vergonha que os cumes devem conter, dada a vilania terrorista praticada aos seus sopés, só não é visível em decorrência da maquilagem imposta pela palidez de suas neves. Nixon, a Casa Branca e o Pentágono – o terrorismo não habita apenas as cavernas de Bin Laden – , bem como seu patronato domiciliado em Wall Street, nem por isso foram exorcizados pela justiceira consciência da potência do norte. Em nenhum lugar ouviu-se o entoar de um sentido “God bless Chile”. É possível que apenas no recôndito dos confessionários especiais providências hajam sido tomadas. Quem sabe a generosa distribuição de algumas dezenas de absolvições pelos muitos milhares de chilenos assassinados ou “desaparecidos”. Inclusive mulheres grávidas enterradas semimortas com seus nascituros. Afinal, para preservarem-se os sacralizados valores dos altares do capital, tudo se justifica. E é perdoável. Nenhuma cadeia de rádio e televisão “contra o terror” foi organizada pelos acima de qualquer suspeita órgãos de comunicação do Tio Sam. A Estátua da Liberdade permaneceu imóvel e calada, sem qualquer vestígio de rubor em sua asséptica alvura. Bem feito para os franceses que a obsequiaram aos americanos em nome de uma liberté, égalité, fraternité que, após inspirar a derrubada das monarquias hereditárias, e dar origem aos Estados-nação, rendeu-se aos afagos da monarquia do mercado, regida por um, até hoje, inexpugnável absolutismo: o do capital. O mais antigo ditador vivo do planeta! Avancemos no tempo exatos 28 anos – a insanidade sem limites que destruiu o World Trade Center, sob todos os aspectos indefensável, não pode, todavia, ofuscar os antigos e freqüentes atos de barbárie praticados em nome de uma pretensamente ilibada “civilização ocidental e cristã”; justificar novos, muito menos. O terrorismo, por inerente à sua essência, carrega uma imensa dose de burrice. O atentado às Torres Gêmeas, além de toda a loucura, evidenciou uma monumental miopia. O alvo escolhido deveria ser outro – hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás – bem próximo dali. Dois motivos me bastam: vítimas indefesas seriam poupadas e a hipocrisia representada pela estátua e seu archote de falsa luz, varrida de nossos olhos. Florianópolis (SC), 11 de setembro de 2002.Carlos Bicca, 61 anos, economista com especialização em administração e marquetim.
ENVIADO POR PASQUAL - RJ
PARA QUEM GOSTA DE HISTÓRIA...
ResponderExcluirPara todos aqueles que estão desde ontem vidrados na TV ouvindo/vendo os noticiários sobre o 11 de setembro de 2001, chamo a atenção para o 11 de setembro de 1973.
Gente, a lei do retorno é infalível: "quem com ferro fere..."
Um grande sentido abraço em memória de todos os 11 de setembro que foram e serão.
http://www.youtube.com/watch?v=7vrSq4cievs
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Vitória Lima
ENVIADO POR MURICY