Mafuá do HPA

DICA (90)

DAE, RODEIOS, OS FESTIVAIS DE ÁGUAS CLARAS E O DO CONTAR VOTOS
Ouvi parte da sessão da Câmara Municipal de Bauru realizada ontem. Tocante o que continuam a fazer com o DAE – Departamento de Água e Esgoto. Numa coisa a oposição tem toda a razão: não existe a mínima condição de tocar uma autarquia da magnitude do DAE com a maioria dos seus cargos de confiança loteados para pessoas inexperientes e que só estão lá pelo dinheiro, muito poucos com disposição e capacidade profissional. É preciso querer mudar, dar um basta na seguida improbidade e agir. Solução existe, mas pelo visto não querem que ela aconteça. E como não querem, prosseguiremos vendo a derrocada daquilo que o mais predatório dos nossos vereadores denomina acertadamente de “ex-jóia da Coroa”.

Meu escrito de hoje é curto e grosso. Escrevi ontem um pitaco sobre como penso em relação ao poder público bancar Festas do Peão e Rodeios. Concluo com um algo mais, significativo, por sinal. Hoje ocorre a abertura de uma exposição das mais simples e belas, um registro fotográfico de um verdadeiro “testemunha ocular da história”, o fotógrafo Calil Neto, intitulada “Exposição de Fotografias do Festival de Águas Claras”. A abertura é hoje no Dom Quixote Bar de Tapas (Rua Saint Martin 33-66), 19h30, entrada gratuita e cai como uma luva para demonstrar o que escrevo a seguir e fecho esse texto.

Aquele festival foi mais do que inusitado, foi fantástico, coisa única no Brasil, inédita em todos os sentidos. Realizado na região de Iacanga entre os anos de 1975 e 1984, conseguiu reunir a nata do que de melhor se produzia no quesito musical no Brasil. Nunca mais isso ocorreu com a mesma magnitude no país. Imaginem um maestro de música clássica, do quilate de um Arthur Moreira Lima e um multi-instrumentista como Egberto Gismonti, um Raul Seixas e um João Gilberto, um Tim Maia e uma Rita Lee, um Luiz Gonzaga e um Hermeto Paschoal, um Mutantes e um Novos Baianos. Sabe quando essa reunião será novamente possível no país? Nunca. E por um simples e único motivo. Os programadores culturais brasileiros (sic) estão em outra. Só pensam em ganhar dinheiro fácil e como os meios de comunicação brasileiros incentivam também o emburrecimento de mentes, facilitando sua manipulação, o que mais veremos são eventos do tipo rodeios, sertanojos, etc. Todos de gosto mais do que discutíveis, porém, como é somente isso o que despejam para os telespectadores deglutirem e tudo a gerar excelentes movimentos (financeiros, claro), não existe perspectiva de mudanças de rumo.

Voltemos para o caso de Bauru, que está inserido dos pés à cabeça em tudo isso que rola Brasil afora. Um prefeito pensando em reeleição deve imaginar o quanto ele poderá agradar a esses de cabeça já feita, os que foram induzidos a gostar de péssima cultura, e dessa forma patrocina um evento com muito som do estilo mais rentável eleitoralmente e inclui também um pouco de sangue, com o dantesco rodeio. Só faltou o tal do UFC (mas deve faltar pouco, pois agora a Panela de Pressão foi reinaugurada e com certeza iria lotar de gente querendo ver sangue espirrando também do nariz alheio).

Patrocinar algo no estilo de Águas Claras deve ser mesmo uma burrice eleitoral. Citei o caso do DAE no começo desse texto e encerro com ele (tudo tem liga). No DAE todos sabem o que precisa ser feito, mas ninguém se mete a fazer, pois não se está a fim de solucionar nada e no quesito contratação de eventos patrocinados pelo poder público, a mesmíssima coisa. Para que promover shows edificantes, se posso lotar de gente e continuar deixando todos meio que hipnotizados com o que pior temos e somar votos com tudo isso? Esse o imbróglio, sem tirar nem por.
SERVIÇO: Escolha você mesmo onde deseja estar nos próximos dias: Opção 1: Rodeio do Mary Dota; Opção 2: Manifestação contra os Rodeios na Praça das Cerejeiras; Opção 3: Exposição de Fotos de Águas Claras ou Opção 4: ao menos dar uma espiada no que rola no Grito do Rock, uma manifestação cultural rolando em vários pontos da cidade durante toda a semana.