OS QUE SOBRARAM E OS QUE FAZEM FALTA (32)
ESCREVO DE ELIANA CALMON, UMA QUIXOTE COMO POUCOS
Cada um homenageia a mulher que melhor lhe convier. Eu, hoje no Dia dedicado a elas (só hoje? Sou adepto do refrão do Caetano: “todo dia é dia de índio...”), confesso ter um daqueles atribulados e entupidos, que não gostaria nem um pouco de resolver hoje, mas sem saída, não terei escapatória. O tempo urge, sou obrigado a escolher algo rápido e com ela marcar algo sobre a dignidade da pessoa humana. Leiam o texto abaixo e minha singela homenagem a uma grande mulher, ELIANA CALMON:
“As pessoas decentes (e a ministra Eliana Calmon) querem, apenas, que o Poder Judiciário seja justo”, texto de Francisco Vieira, reproduzido do hoje jornal internético Tribuna da Imprensa, do Rio RJ (http://www.tribunadaimprensa.com.br/?p=26812 ):
A ministra Eliana Calmon, corregedora do Conselho Nacional de Justiça, é apenas uma lebre querendo combater o saque que a matilha de lobos permite que se faça ao país. Merece todo o apoio da imprensa, das pessoas de bem e de quem paga imposto nesta aldeia, pois, sendo ela parte do corpo que tenta purgar, representa a ruptura do próprio corporativismo e a opção pela ética.
Acende a esperança de que algo mude neste país, já que os outros casos de nudez que vemos por aí, embora úteis ao país, não passam de bandidos entregando bandidos.
Desde a saída dos militares do poder ocorreram mudanças nos poderes legislativo e executivo; pessoas foram apeadas, mas essa casta permaneceu intocada, mimada com cargos e status pelos chacais dos outros poderes siameses; recebendo uma espécie de “cala-boca”, feita às custas do sangue e da miséria de milhões de brasileiros.
São os únicos homens públicos que podem trabalhar a vida inteira para o crime organizado e, se forem flagrados, serão condenados a cumprir pena em algum paraíso fiscal ou ilha paradisíaca – com o salário garantido pelos otários pagadores de impostos!
Que tal, também, estender essa pena aos policiais corruptos? Como não conseguimos dar igualdade de tratamento aos cidadãos honestos, pelo menos poderíamos dar aos bandidos!
Talvez isso explique a aversão que têm pela palavra aposentadoria, pois, uma vez longe do poder, perderiam todo o paparico, todo o mimo e toda a servidão da CLASSE POLÍTICA e econômica dominante, já que esta NÃO OS ENXERGA COMO PESSOAS, apenas precisa dos cargos que ocupam para ganhar causas e dinheiro. No dia seguinte, seriam abandonados pelos mesmos canalhas que frequentam os seus gabinetes…
Além disso, trabalhando meio expediente, tirando dois meses de férias, gozando licenças a torto e a direito, emendando feriados, rodeados de bajuladores e com o poder de transformar água em pedra, quem precisa de aposentadoria??? Aposentar de quê? Para quê? Seria tédio ou depressão na certa!
Bem avisava Odorico Paraguaçu: os juízes fazem parte daquelas pessoas que usam saia, contra as quais ninguém deve comprar briga; quem o fizer correrá o risco de cair em desgraça ou desonra.
Os outros dois membros que usam saia são o padre e a prostituta. Bela tríade! O que a Ministra Eliana Calmon está tentando fazer é mudar alguma coisa, é transformar esse trio em dupla.
DUAS MULHERES DE BAURU E ALGO DITO POR ELAS (ou melhor, nenhuma daqui, mas ambas vivendo aqui): Isso tiro dos dois jornais locais, edição de hoje. Localizo dois belos textos, um em cada jornal local. No Bom Dia, artigo de Cristina Camargo (escreva mais...), com o título “Menos flores”, esse trecho: “...ganhar flores numa data como hoje dá a impressão de manter a mulher na prateleira, o romance açucarado. Para mim, reforça o mito do sexo frágil. Da mulher que só vive para ser conquistada, seduzida pelos machos de plantão, presenteada, porque, afinal, tem um dia só dela no ano...”. No Jornal da Cidade, entrevista com a melhor professora que tive no curso de História da USC, Lídia Possas, da Unesp Marília, com o título “Trajetória de lutas e conquistas”, de onde retiro esse trecho: “...é possível entender, mas não aceitar, as reações de certa maneira trágico-cômicas e truculentas de muitos brasileiros e brasileiras diante da candidatura de Dilma Rousseff à presidência da República no 121º ano de existência. Ela teve sua vida privada e atuação pública expostas ao extremo, visando desqualificá-la em todos os sentidos, frente a capacidade de ocupar aquele cargo político... (...) Seguindo a opinião geral, estava fora do lugar e, portanto, não se concebia que uma mulher tivesse a coragem, a ousadia de se colocar à disposição de uma função política tradicionalmente ocupada por homens. Estar na política, fazer política, ainda são competências masculinas...”.
A ACRISTINA DISPONIBILIZOU O SEU TEXTO VIA FACEBOOK E EU REPRODUZO AQUI:
ResponderExcluirOlá Henrique,
Cristina escreveu: "Para Henrique Perazzi de Aquino:
Menos Flores
As rosas não falam, mas elas que me desculpem...
É que não acho legal ganhá-las no Dia da Mulher. Nada contra as flores, nada contra a delicadeza e, principalmente, nada contra Agenor de Oliveira, o grande Cartola, poeta do morro da Mangueira e autor do verso que abre esse texto.
É que ganhar flores numa data como essa dá a impressão de manter a mulher na "prateleira" do romance açucarado. Para mim, reforça o mito do sexo frágil. Da mulher que só vive para ser conquistada, seduzida pelos machos de plantão, presenteada, porque, afinal, tem um dia só dela no ano...
Nada mais longe da realidade. Somos o lado forte desse mundo em plena transformação. Isso eu falo sem dúvidas, sem medo de errar. E, no fundo, torcendo para que os dois lados consigam pelo menos se aproximar e ter a mesma força na caminhada cheia de obstáculos.
É chavão, todo mundo repete e é real: mais pela evolução histórica do que pelas diferenças biológicas, mulheres acumulam afazeres sem reclamar. Homens focam no que é prioridade e quase não enxergam o que está ao redor. Isso cria uma distância. Oceanos nem sempre navegáveis.
Sim, em pleno século 21, falta parceria. É comum ouvir homens contarem, com orgulho, que ajudam as mulheres a cuidar da casa. Como se fosse uma tarefa dela. Ele, no caso, é só alguém que aceita reservar um tempinho para contribuir.
Escrevo pensando no comportamento geral. Claro, existem exceções. Mas ainda são isso: exceções.
Também assustador é perceber como ainda são comuns os casos de violência contra a mulher. Uma vez, numa pesquisa sobre o assunto, encontrei várias histórias de jovens que resolveram matar as namoradas após serem deixados. Matar!!! Nesses episódios, o sentimento de posse é tão forte que não conseguem lidar com o fato de as ex-namoradas terem vida própria longe deles. Nesse machismo sangrento, Eloá foi a vítima mais famosa, não a única.
Nem tudo é notícia ruim. Ufa...
Temos uma presidenta eleita por voto popular, uma grande prova de superação de preconceitos. Ser mulher não significa necessariamente ser uma governante melhor que os homens. A eleição de Dilma Rousseff, no entanto, mostra que a questão sexual não é mais capaz de interferir na análise de um currículo profissional. Para governar o país ou para conquistar uma vaga de trabalho.
Da presidenta, recorro a um episódio recente. Em plena crise ministerial, foi questionada sobre uma "declaração de amor" feita por um desses marmanjões pego com a boca na botija. Duvido que o assunto fosse abordado dessa forma caso um homem estivesse no poder. Mas foi bom, por causa da resposta. Dilma disse que não é uma adolescente romântica. E que trataria o tema como ele deve ser tratado, com objetividade.
Meninos, flores não resolvem tudo."
Assim como as demais datas comemorativas, esta tb é mais uma que esta fadada a se perder em vão tragada pelo mercado. Hj ouvi várias mulheres que se queixavam por não terem sido ao menos cumprimentadas por homens, e outras tantas se rejubilando por flores, parabéns ou cartão que ganharam. A reação tanto destas quanto das outras chamou-me deveras a atenção. Nenhuma sequer se preocupou em procurar o sentido da data esdrúxula, e se procurasse talvez não encontrasse. A igualdade dos sexos (incluindo-se tb o terceiro) é algo que só funciona mesmo na cama ou na teoria. É do ser humano, assim que toma consciência de sua existência como indivíduo, estabelecer tb sua analogia. E é exatamente a partir dai que o caldo entorna, pois uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Podem se completar, mas jamais serão a mesma coisa. E num mundo ainda comandado pela pólvora, dinheiro e pela testosterona, pobre daquelas mulheres ou daqueles homens que não tenham algo disso em profusão.
ResponderExcluirDentre as bravas mulheres brasileiras, escolhemos uma especial para homenagear no Dia Internacional da Mulher, a grande Leocádia Prestes, mãe coragem, que viveu e lutou como poucas por mundo justo, fraterno e igualitário.
ResponderExcluirLeiam a breve biografia dessa mulher exemplar e falem dela para as novas gerações. Sua existência está esquecida, nesse Brasil de lembranças curtas, mas ela é e continuará sendo referência para as mulheres revolucionárias do mundo.
Saudações,JA Simões e Maria Antonieta
Leocádia Prestes: mãe coragem Leocádia Prestes nasceu no dia 11 de maio de 1874, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Dotada de caráter enérgico e independente, Leocádia destacou-se das jovens da sua classe social. Falava vários idiomas, era exímia pianista, estudou pintura, canto, declamação. No entanto, tais predicados não lhe bastavam. Ela gostaria de ser professora pública, o que não pôde exercer devido aos preconceitos sociais. A política a interessava, fato inusitado entre as moças de seu tempo. Em 1896, casou-se com o capitão Antônio Prestes, engenheiro militar, que participara da proclamação da República. Era um homem culto, partidário do Positivismo, que era a corrente filosófica mais progressista no Brasil, no fim do século XIX. O convívio com o marido contribuiu para que Leocádia Prestes ampliasse sua cultura e aprofundasse ainda mais o seu interesse pela política e pelas questões sociais. Anos mais tarde, ela contaria aos filhos a ansiedade com que ela e o marido viveram o episódio da Guerra de Canudos. A morte prematura do marido deixou-a em situação precária. A pensão não era suficiente para o sustento dos filhos. O caminho mais fácil teria sido arrimar-se a algum parente rico...
...Após longa e penosa enfermidade, ela veio a falecer no México, no dia 14 de junho de 1943. Sua morte comoveu o mundo. Ao velório, na cidade do México, compareceram milhares de pessoas, inclusive numerosos estrangeiros. Todos os ministros de Estado estiveram presentes, a começar pelo general Cárdenas, na época Ministro da Defesa, no Governo de Ávila Camacho. No dia 18 de junho de 1943, realizou-se o enterro, que se transformou em uma verdadeira manifestação popular. O cortejo atravessou toda a cidade a pé até o cemitério. O caixão, coberto pela bandeira brasileira, foi levado em ombros e cercado por bandeiras de várias nações. À beira da sepultura, oradores de diversos países se fizeram ouvir. O poeta chileno Pablo Neruda leu o seu poema “Dura Elegia”, escrito para aquele momento, no qual ele define Leocádia Prestes com estas singelas palavras: “Señora, hiciste grande, más grande, a nuestra América...”.
reproduzidos por Pasqual - RJ