PRECONCEITO AO SAPO BARBUDO (46)
ARGENTINA MOBILIZADA EM REPÚDIO AO GOLPE, NO BRASIL QUASE NADA E AINDA DISTORCEMOS FATOS HISTÓRICOS
Leio no Jornal da Cidade (http://www.jcnet.com.br/), numa coluna sobre o time bauruense de basquete, o Itabom, que participou de um torneio em Buenos Aires no último final de semana, algo povo nas ruas. O JC enviou um correspondente acompanhando o time, Neto Del Royo (que não conheço) e este além dos relatos dos jogos, repassa algo interessante sobre outro tema:
“As ruas da região central de Buenos Aires estiveram mais coloridas, movimentadas e barulhentas do que o de costume. Milhares de pessoas foram às ruas em marcha pelo Golpe Militar que ocorreu 36 anos atrás. Foram sete anos de regime ditador. Vários grupos se dividiram nas principais ruas da cidade e se reuniram no Obelisco para marcha até a praça mais famosa da Argentina, a “Plaza de Mayo”. “É uma ação com duas finalidades: para que não se esqueça e para que nunca se repita”, explicou Jorge Augusto, dono de uma banca de revistas em uma das esquinas próximas à praça, na Avenida Cevallo. Já o jornalista Fabian Binaghi, que possui um site dedicado ao basquete argentino (http://www.webasquetball.co/) e acompanha os jogos do Interligas, reflete sobre o tema e diz ser contra o movimento. “Existem duas verdades. O que acontece é que muita gente não quer escutar a verdade. Temos que escutar não apenas com o ouvido da esquerda, mas com o da direita também. E por isso que temos dois ouvidos e a mente entre eles. Para ouvir os dois lados e pensar antes de tudo”, comenta, se referindo a iniciativa do movimento esquerdista em organizar a passeata. Questionado sobre qual seria então a outra verdade, o jornalista argentino – que se diz fã do Brasil e do “Timón”, o Corinthians – explica de um jeito fácil para o brasileiro compreender: “Qual é a verdade? Pense como o Brasil. Sofreram com governo ditador de Castello Branco. E agora se dizem um país democrático com José Sarney. No jogo de ontem, antes do início da segunda partida, entre Itabom e Obras, foi respeitado um minuto de silêncio “em memória a todos que lutaram por nossa liberdade”, nas palavras do serviço de som. Diferente do que muitas vezes acontece, o minuto foi realmente respeitado” (publicado na Coluna Diário de Bordo, do Royo, domingo, 24.03).
E agora minhas considerações em duas etapas. Na primeira a constatação do quanto o argentino repudia verdadeiramente tudo o que aconteceu por lá (na verdade, em vários países latinos). Ele se manifesta muito mais que o brasileiro, pois vai para a rua e bate suas latas maravilhosamente. Nós, nada fazemos e nem capacidade de organização temos mais. Bato palmas efusivas para eles e os admiro cada vez mais. Participo ativamente da luta deles pela reconquista das ilhas Malvinas (veja minha camiseta numa foto tirada em Curitiba pelo amigo Kizahy Baracat Neto, em sua casa, 26.03). O brasileiro, infelizmente, não luta pela garantia de conquistas recebidas, quanto mais lutará por algo tão distante, como a devolução pela Inglaterra das ilhas (cinco prêmios Nobel da Paz manifestaram-se ontem favoráveis pela devolução à Argentina). Isso uma coisa, que Royo constatou. Estragou um pouco a descoberta, ao dar voz a um dissidente, o tal do cara do site sobre basquete, que renega seu passado e, talvez, por possuir benesses pessoais, joga contra as conquistas populares e mostra-se saudoso dos atos dos golpistas. A voz do povo nas ruas é muito mais forte do que a de uma minoria. Para o Royo e para quem deseja conhecer um pouco da Argentina de fato e de direito, diria que deveriam ler cada vez menos algo como o “Clarin” e cada vez mais algo como o “Pagina 12” (http://www.pagina12.com.ar/).
Escrevo tudo isso porque estamos com mais um aniversário do Golpe Militar de 64 batendo à nossa porta. Alguns dizem que a data é em 31 de março, mas prefiro o dia seguinte, 01 de abril, o Dia da mentira, pois foi de fato o que ocorreu, uma grande mentira. Os efeitos nefastos do golpe ainda pairam sobre o país e deveríamos bater latas todo ano nas ruas em forma de repúdio, luto eterno, pelo papel execrável dos militares, que fizeram o serviço sujo a mando da elite brasileira, cruel e insana. Os mesmos que hoje instigam os velhinhos de uma agremiação militar na reserva, o Clube Militar a pregarem bobagens e tentarem enviar recados mal educados à presidenta Dilma. Deveriam entender o país com outros olhos e assumirem seus erros do passado. Uma nova leva de militares pensa assim, renegando o passado, mas alguns saudosistas insistem em reafirmar o erro como acerto. Uma pena, pois poderiam superar isso tudo e caminharmos todos juntos, sempre para frente.
Encontro na internet somente uma única manifestação de repúdio ao Golpe e aos golpistas, comprovando o quanto somos desmobilizados em relação aos irmãos argentinos. É o “Ato Contra a Comemoração do Golpe de 64”, convocado pelo cineasta Silvio Tendler (http://www.caliban.com.br/ - foto abaixo), dia 29/03/2012, quinta-feira, 14:00h, em frente ao Clube Militar (local de reunião dos generais de pijama), na Cinelândia, Av. Rio Branco, 251 (Esquina Rua Sta. Luzia), centro, cidade do Rio de Janeiro. A fala de Tendler, lúcida e marcante pode ser vista no http://www.youtube.com/watch?v=1_Io8tz9WLM
Por outro lado, as “vivandeiras de plantão” continuam difundindo inverdades históricas, de forma descarada e uma delas foi detectada pelo professor universitário Antonio Francisco Magnoni, da UNESP Bauru, que as envia aos amigos com um aviso: “É impressionante que mais de 20 anos depois da redemocratização do País, ainda sobrevivam tantas viúvas da ditadura militar, que ainda persistam tantos conspiradores de porões!!! Tão com saudade dos milicos???? Então vão dormir de coturno, ô bando de vivandeiras de quartel!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!”. Para tomar conhecimento da bestialidade leiam primeiro o que estão a difundir e depois cliquem a seguir e assistam (se estomago tiverem): “Meus caros e caras, estou enviando este documento histórico do youtube para que vocês conheçam a verdade verdadeira (desculpem o pleonasmo, necessário) sobre a revolução de 64. Essa juventude de hoje e todos aqueles que não tiveram oportunidade de viver e sentir o período da revolução, precisam saber em mãos de quem hoje nos encontramos: guerrilheiros treinados por comunistas, simples assim. Apesar de um pouco longo (14 minutos), vale a pena ver o documentário e repassá-lo a todos os que ainda se preocupam com o futuro do nosso país, nas mãos de quem o está corroendo escancaradamente, deliciando-se com as benesses do ganho fácil e da acumulação leviana e ilícita de fortunas às custas do trabalho da sociedade. BRASIL, GUERRILHA E TERROR - A Verdade Escondida: http://www.youtube.com/watch?v=-ow8bwE3fhw “.
Nas questões de mobilização deixo um questionamento: Estamos ou não, anos luz atrás do que o argentino produz... Uma constatação: Perdemos a capacidade de mobilização e mais, a de manifestação. Pior ainda: Nem todos entendem o mal causado pela ação dos golpistas. Mistura-se ainda alhos com bugalhos.
Caro Henrique - grato pelo texto e parabens, muito rico.
ResponderExcluirAproveito para o convite do Pedroso para hoje a noite, à Rua Gerson França, 6-66, 19:30 hs quando será tratado assunto de interesse histórico cujo conteúdo o Pedroso vem desenvolvendo. Sua presença será muito importante. Um abraço - Isaias Daibem
Triste aniversário - 1º de abril de 1964
ResponderExcluirHá 48 anos, o Brasil acordava comtanques e tropas nas ruas. Um golpe de Estado, articulado por civis e militaresbrasileiros, com apoio financeiro e militar norte-americano, iniciava oprocesso de deposição armada do presidente João Goulart. Os que tinham aobrigação de defender a Constituição do país, a violavam e inauguravam umperíodo de 21 anos de obscurantismo e terrorismo de Estado.
Durante mais de duas décadas, a atividade política foi severamentecontrolada, a criação cultural e a imprensa censuradas e os interesses docapital impostos, manu militari, ao país. A tortura foi institucionalizada comométodo de coação e eliminação de adversários e o Brasil mergulhou numa faseufanista, não raro identificada com cacoetes fascistas. As Forças Armadasparticiparam, vergonhosamente, da multinacional do terror de Estado, chamadaPlano Condor, ajudando a sequestrar e matar opositores das ditaduras argentina,uruguaia e chilena. Os crimes cometidos jamais foram punidos e muitosexecutores e cúmplices, civis e militares, circulam entre nós, apostando napropalada falta de memória nacional.
O período 1964-1985 deixou marcasprofundas na sociedade brasileira. Ainda hoje, o golpe é celebrado nos quartéiscomo “revolução”. As famílias dos mais de cem desaparecidos não têm acesso àsinformações que permitiriam localizar os restos mortais seus entes queridos,para poder enterrá-los com dignidade. Enquanto argentinos, uruguaios echilenos, que também passaram por ditaduras brutais, levam aos tribunais osalgozes de seus povos, nós ainda engatinhamos, sob intensa pressão da direita ede setores militares, que se recusam a reconhecer os crimes cometidos peladitadura contra o povo brasileiro. A Comissão da Verdade, que foi aprovada parainvestigar os crimes do Estado durante o período ditatorial, sequer foi criada.Mesmo que o seja, sem pressão social ela não terá força para cumprir seusobjetivos.
Há quase meio século, a liberdade foiviolentada no Brasil. Que a memória da ditadura nos abasteça de indignação evacine a sociedade contra outras aventuras totalitárias.
Rio de Janeiro, 30 de março de 2012
ASA – Associação Scholem Aleichem de Cultura eRecreação
ACIZ – Asociación Cultural dr. Jaime Zhitlovsky(Uruguai)
ICUF – Federação das Entidades Culturais Judaicasda Argentina
Meretz Brasil
CCMA – Centro Cultural Mordechai Anilevitch
ADAF – Associação David Frischman (Niterói)
Instituto Casa Grande
Algo a Dizer – Jornal de Política e Cultura
POSTADO POR PASQUAL - RIO RJ
Que Deus se apiede da alma dos torturadores falecidos, pois o vivos não conseguem mais dormir em Paz!
ResponderExcluirhttp://www.revistadehistoria.com.br/secao/na-rhbn/a-lista-de-prestes
André Ramos