quarta-feira, 23 de maio de 2012

MEMÓRIA ORAL (121)

PISCINÃO DE RAMOS – EU CONHEÇO UM LUGAR/ESTIVE LÁ*
(* Escrevi esse texto inicialmente em 21/01/2002, dez anos atrás e o fiz para ser publicado no Caderno Turismo do Jornal da Cidade – Bauru SP, na seção “Eu conheço um lugar/Estive lá”. O texto não saiu publicado naquela oportunidade porque não tinha fotos tiradas no local. O tempo passou e retornei ao Piscinão no mês de março desse ano, juntamente com a atriz Marisa Basso e o produtor Kyn Junior, num final de domingo, quase 18h (curiosidade dos três em rever o famoso point). Apresento o texto antigo e as fotos novas, submetendo tudo novamente ao JC com solicitação de publicação. A situação já não é a mesma, degradação generalizada e tudo pode ser entendido na comparação com a leitura do texto e a visualização das fotos. Se tudo piorou, a culpa não é do povo, mas do poder público, que não soube cuidar adequadamente do ponto turístico. Lotado, tenho certeza, continua. Vimos isso e a certificação do pouco caso na manutenção do lazer oferecido à população de baixa renda).

Muitos quando viajam para os mais diferentes lugares, fazem questão de relatar essas andanças, enviando-as com os devidos registros fotográficos para publicação na imprensa. Essas coisas massageiam o ego de qualquer um. Muito ficarão sabendo de sua viagem, irão comentar a seu respeito e sempre é prazeroso demonstrar sermos verdadeiros cidadãos do mundo, ainda em condições de conhecer lugares diferentes do nosso. É exatamente isso que quero compartilhar com os diletos leitores dessa seção. Fui conhecer a praia sensação desse verão e não pensem que falo de Saint Tropez. Nada disso. Longe também de ser uma praia da Flórida, Acapulco, Varadero, Riviera Francesa, Mar Del Plata ou Punta Del Este.

A praia em questão é aqui mesmo no Brasil e situa-se na cidade do Rio de Janeiro. Engana-se quem pensa ter molhado meu corpinho nas águas da Barra da Tijuca, Ipanema ou mesmo de Copacabana. O pior desse verão passa longe disso. Nem está na Zona Sul carioca. Como? Não se espantem. A Zona Norte está reassumindo o lugar de destaque, que sempre foi seu de direito. E essa
redescoberta está de certa forma associada com a inauguração do Piscinão de Ramos, no tradicional bairro com o mesmo nome, o mesmo que outrora já teve uma das melhores e mais movimentadas praias do subúrbio carioca. É lá que estive. É lá o grande acontecimento desse verão.

Trabalho regularmente na Cidade Maravilhosa, indo de duas a três vezes por mês para aquelas plagas. Sempre a trabalho, mas não há como não tentar unir o útil ao agradável. É o que sempre procuro fazer. Quem vai ao Rio e se limita a passeios na orla marítima (Zona Sul), nada conhece do mais famoso e antigo “balneário” brasileiro e tem muito a aprender. A Zona Norte é a própria vida do Rio, sua essência e fonte de vida. E foi no tradicional bairro de Ramos, bem ao lado do Complexo do Alemão, tendo de um lado a decantada Avenida Brasil e do outro a Linha Vermelha, a uns 30 minutos do centro do Rio, que ocorre essa maravilhosa redescoberta do subúrbio.

Como isso tudo me é ainda recente, quero assumir publicamente o pioneirismo. Algo tão edificante como o alpinista alcançar o topo de um alto pico e propagar seu feito aos quatro ventos. Ramos não é nada disso propagado, pois  não difere em nada da violência a acontecer aqui mesmo em Bauru. Trata-se de um velho bairro carioca, verdadeira cidade dormitório, localizado as margens da parte mais poluída da Baia de Guanabara, tendo o “privilegio” de possuir uma fétida praia (quer sentir cheiro mais ou menos idêntico faça cooper às margens do nosso rio Bauru, difere pouca coisa). Todo o cenário bucólico de bairro suburbano permanece por lá, mas algo mudou no astral do lugar. Isso se deve ao Piscinão, que trouxe a possibilidade daquela parcela da população voltar a frequentar a praia. O lugar está sempre cheio, muito disputado e na boca de todo carioca.

Não quero me ater a detalhes da construção do Piscinão, pois tudo já deve ser do conhecimento de todos. Trata-se de uma imensa praia artificial, 36,5 mil metros quadrados no total, com uma profundidade máxima de dois metros, com areia branquinha, importada de Sepetiba e com o fundo revestido com uma manta de polietileno. A paisagem não deixa nada a desejar a nenhuma outra praia da cidade. Lá estão coqueiros, quiosques, postos de salvamento dos bombeiros e as “meninas” para a  
azaração. O ponto negativo é o cenário de mau cheiro, pelo menos enquanto a baía não for despoluída (mesma esperança do nosso mais famoso rio), persistirá indefinidamente. Mesmo assim o lugar é uma festa só e foi lá meu lugar escolhido para tomar um belo de um banho de mar.

Lugar dos mais sociáveis, muito mais seguro que qualquer outra praia da cidade. Risco diminuto de voltar com frieira ou bicho de pé, algo comum em certas praias famosas. O acesso é que não favorece muito. Não é difícil, mas tem lá seus perigos, como tudo nessa vida. Nada que esmoreça a vontade de lá estar. Vindo pela avenida Brasil, sentido centro/bairro, entre logo após o cemitério do Caju ou bem em frente a Fiocruz (Manguinhos), sendo cobrado pague seu pedágio para o pessoal da área (aqui também não temos pedágios em nossas estradas?) e continue sempre em frente. Inevitavelmente chegará ao lugar. Não tem erro. Dando sorte encontrará pelo caminho alguns angolanos, pois Ramos é a maior colônia de angolanos do Rio. Falam horrores deles, mas isso é papo furado, pois conheci pessoalmente alguns deles e afirmo serem ótimos em todos os aspectos. Muito mais sociáveis que muita gente de terno e gravata. Esse negócio de não deixar o povo frequentar a praia é um pouco de exagero. Você já tentou entrar no Ferradura Mirim sozinho e sem prévio aviso? É quase a mesma coisa.
 
Brasileiro não se deixa intimidar com esses pequenos “detalhes”. O negócio é levar tudo numa boa, chegar preparado para alguma eventualidade (já tentou sair a pé na Getulio Vargas aqui em Bauru depois da meia noite?), tocar o barco e curtir tudo, pois curtição é o que não lhe faltará. Tem para todos os gostos. Tudo o que tem no litoral paulista, tem lá, ou seja, famílias inteiras farofando à beira-mar e não se importando nem um pouco com quem está ao seu lado. Muito mais fácil conquistar novas amizades nessas circunstâncias que circulando pelo agitado centro da cidade.

Não pensem que estou de gozação. Longe disso. O fato é que fui, provei, gostei e já estou preparando o retorno. A praia é limpa, a água é constituída de 100 litros de água salgada entrando e saindo por segundo, num total de 8 milhões por dia. Quer praia mais sui generis que essa? No Brasil, com certeza não existe. Nem a piscina do seu clube é menos ou mais poluída. O meu novo passo é organizar uma excursão de bauruenses interessados em conhecer o Piscinão. Peço antecipadamente para deixarem o moralismo em casa, gastarem um pouco e desarmados (totalmente, viu!) conviverem com o verdadeiro povo carioca, o do subúrbio. Espírito mais humanitário não existe. Ramos é o lugar. Ótimo recanto para tirar belas fotos eternizando o feito. Seus amigos vão morrer de inveja. A lista de interessados está crescendo e você não pode ficar de fora. Ou vai querer perder a oportunidade de ser um dos pioneiros da terrinha a aportar por lá? Piscinão de Ramos espera todos de braços abertos... Aguardo contatos, preços módicos.
OBS.: Querendo ver fotos ampliadas, cliquem em cima de cada uma e pluft...

5 comentários:

  1. Prezado amigo,
    Permita-me tecer algumas considerações a cerca desse lugar. O Poder Público olvidou esforços no sentido de permitir que os moradores daquela região e suas proximidades tivessem um lugar onde pudessem ter lazer sem a movimentação viária para locomoção até a zona sul da cidade. Esperava o criador da infra-estrutura, que os que ali fossem, tivessem o mínimo de EDUCAÇÃO e soubesse usar um espaço público, preservando e mantendo LIMPO E ASSEADO. Mas infelizmente não foi o que você viu, e o que mostra nas fotos postadas no blog.
    Uma vergonha, pois bem denota a TOTAL DESEDUCAÇÃO DE UMA COLETIVIDADE, que vindo para as demais praias, farão e terão as mesmas atitudes.O POVO NÃO TEM EDUCAÇÃO. EM TODOS OS LOCAIS ONDE HÁ CONCENTRAÇÃO, A IMUNDICE DEIXADA POR ELES É SOBEJAMENTE CONHECIDA. ESSES MORADORES TEM QUE APRENDER QUE SER POBRE NÃO É SER PORCO. Até enquanto não aprendem, as praias e lugares públicos sujeitos a visitação estarão desse jeito.
    É uma pena.
    um abração do carioca
    Paulo Humberto Loureiro - bairro da Muda RJ

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  2. HENRIQUE,
    ampliei as fotos e conferi...Não podiam sujar menos ou limpar a praia. Não é questão de Educação.
    Nas praias de Algarves, há mesinhas com canecas/areia, para levar à praia e não jogar cigarro no chão...
    MURICY DOMINGUES

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  3. HNERIQUE,
    é tudo isso que o Paulo descreveu, mas lembro de uma frase: Povo sem Memória é povo sem História... Não seria nosso caso, em que poucos lutam para manter a Memória ?
    Abs.
    MURICY

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  4. PÔ, Henrique, duas idéias conservadoras sobre a atuação do povo. Não tem ninguém aí para defender o povão. Será que é isso mesmo? Eles sujam tudo e gostam de viver dessa forma?

    Rosana

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  5. Rosana

    Tento sempre entender os dois lados.
    Moro aqui ao lado dos trilhos e vejo a quantidade de coisas que jogam aqui. Uma sujeirada de dar gosto. Lá no bairro onde meu filho mora, o Gasparini vi essa semana no entorno do bairro, que é afastado da cidade e pouui muitos espaços urbanos no entorno, muito lixo acumulado e jogado pelos próprios moradores, até sofás, fogões, essas coisas.

    É só pobre que faz isso? Não, com certeza. Todas as classes o fazem. No Brasil é só pobre que joga bituca para fora do carro e garrafinha vazia no asfalto. Todos fazem, sem distinção.

    A cultura do brasileiro parece comportar isso. Péssimo e algo para ser melhor discutido. Veja os shoppings centers por exemplo. Lá ninguém joga, pois a fiscalização está ali presente. Do contrário estaria cheio de lixo também. Mas será que precisamos de fiscalização para não sujarmos as ruas, terrenos, praias, etc?

    Um belo questionamento que talvez busque fazê-lo em breve por aqui, sem procurar criminalizar o povão. Uma bela discussão. E dela não podemos isentar o poder público de manter tudo em plenas condições. Lá no Piscinão é fácil constatar que no início, dez anos atrás, tudo era impecável, mas a manutenção depois de alguns anos deixou muito a desejar. Já não é mais feita como antes. Em Copacabana e no Leblon tudo continua impecável, mas lá em Ramos, deixa a desejar. Que nome dar a isso?

    Vamos ver se alguém mais entra nessa discussão...

    Henrique - direto do mafuá

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