sábado, 5 de maio de 2012

MEUS TEXTOS NO BOM DIA (174 e 175)
DEMÔNIOS NOS CORREIOS – publicado no BOM DIA BAURU, edição de 28.04.2012 A agência central dos Correios em Bauru possui uma seção só para filatelistas, um luxo, cheio de peças raras e algo sobre os belos selos brasileiros. Ali a possibilidade de sair das filas, mas só para quem está a postar cartas simples. Era o que fazia numa dessas manhãs de sábado. Escolhi dois selos com belas estampas, as do Ziraldo sobre o tema da prevenção à AIDS para as minhas duas correspondências. Digo a simpática funcionária sobre a beleza dos selos brasileiros e ela responde que nem todos gostam desses. Pergunto dos motivos de não gostarem dessas verdadeiras obras de arte. “Alguns religiosos outro dia não quiseram esses selos em suas cartas, por causa do tema da AIDS, preconceitos bobos, essas coisas”, foi sua resposta. Foi o que bastou para estabelecermos uma longa conversa sobre essas bestialidades de poder ou não fazer as coisas baseadas em preceitos religiosos, um dos motivos de nosso atávico atraso. “Eu tinha uma vizinha que me parou na rua só para me dizer que não entraria no reino dos céus, pelo simples fato de usar calça comprida. Não entendo alguns desses, ainda mais essa, que se dizia tão recatada, casada e que acabou sendo pega lá no bairro, num caso extraconjugal com outro vizinho, mecânico, na hora do almoço e num terreno baldio. E eu é que não entro no reino dos céus por causa de minha calça comprida”, me diz. Na pressa e não podendo mais continuar tão edificante papo, deixo meu recado final: “Meu pai, hoje com seus 83 anos, sempre me repetiu algo que guardo e uso sempre para exemplificar quando ouço algo parecido. Os moralistas são os piores, deles você pode esperar tudo, mas sempre por debaixo do pano. Vide o que acabou de fazer o Demóstenes, o maior exemplo vivo de como é a mente de quem está nesse partido, o tal de DEMônios”.  E mais não falei, pois o Correio estava a fechar suas portas e meu carro lá embaixo sem cartão preenchido de estacionamento. Mas que o selo desenhado pelo Ziraldo é bonito, disso eu tenho certeza, tanto que trouxe um de recordação. Coisa do demo.

CADÊ VOCÊ, PROFESSORA? – publicado no BOM DIA BAURU, edição de 05.05.2012
Sexta-feira retrasada aqui no BOM DIA, texto do colega de coluna, o professor Chamadoira, “Direitos Humanos – Comissão da Verdade”, algo a intrigar qualquer educador. Um advogado apregoando a não existência da ditadura militar no Brasil é o mesmo que não enxergar as pedras do reino mineral, tropeçando nelas. Foi sanguinária, truculenta e desumana. Alfarrábios estão aí para comprovar e lê-los com a espada desembaiada é sinal de lealdade com a própria consciência. Reconhecer erros, propor outro momento, são demonstrações de dignidade e sensatez. Fora disso, insanidade. Precisamos avançar e não dar voz para representantes de um indigno passado. Na sequencia dos absurdos, Chamadoira escreve que a mesma pessoa havia chamado a atenção da professora da filha pelo fato dela ter afirmado em sala de aula da existência de golpe e golpistas em 64. Imagino a cena. Um rancoroso cidadão, do alto de sua arrogância, impondo providências para diretores de uma escola particular, pela professora não ter mentido à sua filha sobre a história recente do Brasil. E a escola, talvez para evitar a perda da aluna, aceitando ou repudiando o que ocorreu? Gostaria de saber o desfecho dessa história e divulgar o relato da professora sobre o incidente. A História tem que ser contada como de fato se deu, doa a quem doer. O que existe nesse caso são interesses retrógrados de encobrir fatos históricos lamentáveis. Pessoas com medo do seu passado são um perigo, pois ao não reconhecer a própria história estão prontas a repeti-los novamente. Eminente perigo. No evento dos Direitos Humanos realizado recentemente em Bauru a acertada resposta para atitudes como essa foi a dada por Gilney Viana, da Secretaria de DH da Presidência da República: “Devemos ser didáticos e pacientes com quem não possui o entendimento dessas questões, explicar repetidas vezes, mas com os que entendem tudo, distorcem e pregam o retrocesso, dureza. Esses não tem cura”. É o que faço nesse momento. Cadê você, professora? Resgatemos essa história.

3 comentários:

  1. Henrique, vc anda queimando muita vela com morto-vivo.... Dino Magnoni

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  2. 09/05/2012 00:00
    A ditatura



    Maurício Lima Verde Guimarães - Acompanhando o desencontro de opiniões de dois companheiros articulistas do BOM DIA sobre a ditadura militar ocorrida no Brasil na 2ª metade do século passado, tomo a liberdade de me intrometer no assunto. Desde aquela época eu exercia intensa atividade classista como representante dos produtores rurais e tinha contato com integrantes do governo militar. Negar a ditadura é desconhecer nossa história como também a inexistência do holocausto. Minha avó, uma judia russa que viveu a Segunda Guerra em toda sua plenitude, nos relatava dos amigos e parentes que desapareceram nos campos de concentrarão nazista.




    Poucos desta geração podem avaliar o que significava viver em um mundo de repressão total. Na época, convidado pelo jornalista Rolf Kuntz, do “Estado de São Paulo”, para escrever artigos sobre a relação dos agricultores com o regime de exceção, tive muitos deles censurados e a entidade da qual eu representava era sempre alertada quanto à profundidade das críticas. Anos mais tarde passei a conviver com o então ministro Gama e Silva, talvez a mais importante personalidade do governo militar e idealizador do AI-5, que tanta desgraça causou aos brasileiros. Ele era vizinho da fazenda de minha família em Agudos e mais tarde tornou-se associado do Sindicato Rural de Bauru. Era um homem de uma cultura excepcional e quem o conhecesse nunca poderia imaginar do seu passado. Ele, inclusive, como produtor rural participou de exposições agropecuárias na nossa cidade.




    Se fosse hoje eu com certeza teria coragem de interpelá-lo. Naquela época não tive este desprendimento, como assim aconteceu com Rubens Paiva, até hoje desaparecido. Amigo de meu sogro, passamos alguns dias juntos na Europa e nunca poderíamos pensar de sua outra vida na clandestinidade. Já se vão muitos anos após este triste capítulo de nossa história, mas existem ainda muitas feridas que nunca serão curadas. Felizmente hoje o mundo rejeita qualquer regime totalitário. Discutir o passado como estes companheiros expuseram suas ideias pelo BOM DIA é um exercício que deve ser permanente, apesar do desinteresse da maioria do povo brasileiro.




    Maurício Lima Verde Guimarães é economista, agropecuarista e presidente do Sindicato Rural - srbauru@uol.com.br

    Reproduzo esse textro do MLV de hoje do BD repercutindo o tema
    Henrique - direto do mafuá

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  3. Esses articulistas, professores da crítica de hoje falam tanto sobre a história mas prestam um desserviço a ela fora uma confusão ideológica as novas gerações, que vivem sim a mesma repressão de ordem capitalista, mas não tem consciência dos fatos justamente pela falta de clareza nas críticas.

    Chega a ser cômico esse texto do Lima Verde, tenho guardado um artigo de jornal(costumo fazer isso como o Henrique) onde o Lima Verde era entrevistado sobre as invasões do "abril vermelho" do MST, e ele dizia que para defender os ruralistas iria fazer valer da Justiça, solicitar a polícia que cumpri-se com as ordens de despejos dos campesinos sem-terra, ou seja, o porrete da época é o mesmo porrete opressor do estado capitalista de hoje, os militares eram os coadjuvantes, assim como os partidos e seus políticos o são hoje para defender a manutenção deste estado. Como ele bem disse, sempre foi um classista, mas ao lado de uma turma pequena, favorecida, não é o sindicato da luta pela coletivização das terras e sim contra os interesses desta. Dizer que se fosse hoje iria interpelar o sujeito, continua não interpelando, ao contrário, continua sendo conivente com os que fazem de tudo para melar um ideal libertador a campesinos, operários.

    Agora esses caras, se estão falando isso dessa forma, colocando a receita pronta na mesa, é porque as coisas andam muito fáceis para eles hoje em dia, falam horrores do totalitarismo, mas muitos destes, desde quando nasci, já estavam escorados em sindicatos, associações, cargos e etc.

    Uma geração lutou contra o imperialismo, pois como falei, os militares eram os coadjuvantes a defenderem este estado, o foco da luta sempre foi derrubar este estado, tempos da guerra fria, seus reflexos por todo o mundo, que inveja daquela geração que tinha críticos sérios, pensadores do mundo, artistas, pessoas que fizeram que um ambiente socio-cultural levasse questionamentos e luta para muitas nações, onde era fácil apontar um vilão, bastava olhar para o coronel fardado, porque depois que sangue revolucionário foi perdido, e não necessitava mais dos coturnos, tinha-se uma Xuxa ficando mais de 6 horas no ar por dia fazendo a cabeça de uma garotada, hoje Telós e cia, professores psicóticos, tudo conspirando para criar uma geração que não pensa. A luta murchou momentaneamente porque morreram os valentes e hoje a bundamolice prevalece, e cheio de ex-militantes contanto altas cifras de grana e ganhando notas com a "causa".

    Esse é o cenário de hoje.

    O que a garotada precisa questionar é isso, Por que e por quem o exército foi acionado??? A ordem que regia o estado na época é diferente da de hoje???

    A opressão bate as portas das casas, o sistema financeiro engole as pessoas, a violência esta aí, a miséria, o desespero, a fome, a alienação, a censura mascarada no jabá.

    Sei que vários desafetos irão contra esses fatos que apresento, sempre me subestimam, mas eu conheço todos eles, vão se fuder evidentemente. O ideal revolucionário não pode ser sufocado, jamais.

    Marcos Paulo
    Comunismo em Ação

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