quarta-feira, 24 de outubro de 2012

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BÁU (42)

O CASO EU CONTO COMO O CASO FOI – O ACERVO DO ARCONCIO E O ALHEIRO DE BICICLETA*
Esse título aí de cima é o de um dos livros do acervo pessoal de ARCONCIO PEREIRA DA SILVA, o velho militante comunista de Bauru, falecido meses atrás aos 96 anos, que ontem foi repassado aos cuidados da Biblioteca Municipal de Bauru. Arconcio deixou muitas histórias e uma infinidade de gente a admirar sua trajetória e lealdade aos princípios que escolheu crer e seguir. Não existe em Bauru nenhum militante das causas sociais que não o reverencie como um dos poucos símbolos da luta contra as injustiças do capitalismo. Décadas e mais décadas de persistente luta. Um resistente como poucos.

Com a sua morte, a esposa Zuleide Julia de Souza Silva, 60 anos acabou mudando-se da casa onde residiram os últimos meses e muita coisa do que havia na residência ela foi obrigada a dispor. Dentre essas coisas os poucos livros que ainda permaneciam com ele e os manteve com muito carinho até o derradeiro dia. Zuleide me procurou para ver se não
queria ficar com os livros. Não achei conveniente e sugeri alguns lugares. Depois de alguma conversa sua decisão recaiu para que tudo fosse doado para a Biblioteca Pública Municipal de Bauru. “Foi o melhor, pois ficando tudo numa biblioteca pessoal, poucos teriam acesso a esses livros. Já na biblioteca, todos os que fizerem uso desses livros, terão em sua primeira página carimbado ter ele pertencido ao acervo pessoal do Arconcio”, conta Zuleide.

Elson Reis, o Secretário Municipal de Cultura comprou a idéia de cara e tudo foi repassado para o acervo da biblioteca ontem terça, 23/10, 15H, numa solenidade simples, porém com um profundo significado.
São quase 3 dezenas de livros que versam, entre outros assuntos, sobre a História do movimento operário, História de ex-combatentes contra a Ditadura Militar e literatura marxista em geral. O vereador Roque Ferreira representando a Comissão de Direitos Humanos, Cidadania da Câmara dos Vereadores de Bauru, juntamente com Carlos Pittoli, representando  Grupo Bauru Memória e verdade, o Secretário de Cultura de Bauru, Elson Reis, juntamente com a viúva Zuleide. 
* Um dos livros que mais me instigou na juventude foi essa biografia de Paulo Cavalcanti, cujo mesmo título dei para esse escrito. Agora sei que para reler a obra bastar me dirigir à Biblioteca Municipal.
 

O ALHEIRO DE BICICLETA - Algo que faço questão de registrar e observar pela cidade são as pessoas que trabalham com afinco na labuta pela sobrevivência. Em ofícios diferenciados, cheios de criatividade os brasileiros arregaçam as mangas e vão á luta pelo pão de cada dia. Não existe como ficar indiferente a essa imensa legião de pessoas, que para muitos são os invisíveis do planeta. Ontem revi um desses, figura muito conhecida na noite bauruense, o sr Roberto, que com sua bicicleta circula por quase todos os restaurantes e bares da cidade, com uma caixa plástica adaptada como carroceria de seu meio de locomoção e ali acondicionados pelos menos 20 kls de alhos, selecionados por eles, embalados em sacos plásticos de um kilo cada. Possui uma clientela que já o adotou e vai de lugar em lugar, esbanjando simpatia, com a calça presa na canela por um elástico para não prender na corrente da bicicleta ou de bermuda, como ontem, distribuindo o produto que encomenda junto com um feirante de produtores distantes e qualidade comprovada. Ontem chovia muita na cidade e mesmo assim, com uma improvisada capa de plástico transparente, ele circulou pelos pontos onde tinha venda marcada e fez o que faz todo dia, debaixo de chuva, calor, frio ou seja lá o que for, trabalha e ganha o seu honestamente.Eu bebericando minha cerveja no final da noite e ele ainda suando pelo seu dia ainda não ganho. Roberto vende cada saco de alho a R$ 16, dos grandes, bem graúdos e pede que aos interessados basta uma abordagem. Encantadora pessoa.

Um comentário:


  1. HENRIQUE
    Também tenho boas recordações das memórias do Cavalcanti. Veja o que achei e lhe envio para leitura.
    Pasqual - RJ

    O caso eu conto como o caso foi
    Por Inácio França | Publicado em 28/08/2010 às 10:07
    por Arsênio Meira Júnior

    Passando os olhos nas minhas queridas estantes, deparei-me com dois exemplares antigos: O caso eu conto como o caso foi – memórias políticas, 1o. volume de memórias, e O caso eu conto como o caso foi, 2o. volume de memórias, do escritor, advogado e jornalista Paulo Cavalcanti, que falecei em maio de 1995, pouco depois de completar 80 anos.

    Paulo também foi firme intelectual. Justo e generoso. É de sua lavra Eça de Queiroz: agitador no Brasil. O livro, publicado em 1959, ganhou fama nacional ao ser premiado pela Academia Pernambucana de Letras.
    Imagino Paulo, comunista até o último fio de cabelo, incapaz de se calar diante de uma injustiça, no meio dos fraques e das cartolas da Academia. Não combinava com ele.

    Ele, ao contrário de muitos, acreditava na militância, no ideário do socialismo. Em Marx e na repartição igualitária da riqueza.
    Mas o livro que imortalizou Paulo foi O caso eu conto como o caso foi, que fez a cabeça de muita gente, de todas as gerações. Li de uma tacada só, lembro-me bem.
    E lembro que por um momento cheguei a acreditar no ser humano, não obstante as atrocidades que Paulo denuncia em suas memórias.

    O livro é uma saga pessoal, é um painel do Brasil e, obviamente de Pernambuco. Quem quiser conhecer nossa história recente, torturadores, lutadores, camponeses, o panorama político, os personagens cruciais e as conseqüências e as raízes do golpe militar em Pernambuco, é só adquirir a obra.

    Com uma riqueza de detalhes que impressiona e um dinamismo que imprime à narrativa o sabor de um romance dramático, é um Clássico da literatura memorialística.
    No livro conhecemos o Paulo austero em suas convicções como membro do Partido Comunista Brasileiro, o Paulo irônico, mordaz e ferino; o Paulo incapaz de fugir ao embate, a testemunha honesta, o relato de um Homem capaz de lutar contra o mito em prol da sua própria opinião.
    Refiro-me ao capítulo final, onde Paulo quase salta da página, em seu drama de consciência a respeito da sua discordância com o mítico Luis Carlos Prestes a respeito das divergências havidas entre o Cavaleiro da Esperança e a cúpula Comunista.

    Mas ainda é pouco. Mesmo vigiado pelo ignominioso Departamento de Ordem Pública e Social (DOPS), Paulo não titubeava e atuava como advogado da chamada “cúpula comunista” – a direção estadual do PCB, os líderes da liga camponesa e a direção dos sindicatos de trabalhadores.
    Desse amontoado de personagens, o leitor pode incluir os presos políticos Gregório Bezerra, Miguel Arraes, e Pelópidas da Silveira, todos acusados de subversão e especificamente Gregório, que foi seviciado por covardes que hoje devem arder no inferno.

    leia na íntegra no:http://www.caotico.com.br/o-caso-eu-conto-como-o-caso-foi/

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