terça-feira, 23 de outubro de 2012

DROPS – HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (78)

TEORIA E PRÁTICA DE VIDA DE ALGUNS ILUSTRES PERSONAGENS
1.) Wagnão é o proprietário do General Bar, ali na Monsenhor Claro, ponto tradicional de bebericagens de unespianos e afins. Cardápio delirante, tudo capitaenado pela esposa, o casal comanda a famosa esquina há mais de vinte anos. Ele é desses que faz questão de sentar e papear com os clientes e tem uma sapiência diferenciada no quesito dirigir um estabelecimento com o verdadeiro padrão a merecer o nome de Botequim. Nos papos, sempre boas risadas, mesmo com a seriedade do ex-bancário (ex-bradesquiano, como eu). Ontem à noite me disse que muitos não acreditam que tudo o que conseguiu amealhar na vida tenha sido conseguido de forma honesta. A resposta para esses é sempre uma só: “Eu sigo a Teoria do Ficante e não a do Traficante. Eu sou um ficante, pois fico detrás desse balcão 14h por dia. É dessa forma que consegui tudo o que tenho”.
2.) Travestis sempre nos passam boas lições, de macheza (quer coisa mais macha do que eles ao se assumirem como são?) ou de como enfrentar as durezas dessa vida de peito aberto. Um que está na cidade há menos de trinta dias, a Jessica, oriunda de Natal RN apregoa aos seus clientes e considerados uma teoria das mais respeitáveis para as negociações comerciais que estabelece com o seu corpo. “Não costumo passar mais de trinta dias numa cidade, pois enquanto sou novidade cobro um preço e depois disso, os clientes já não me olham com cara de novidade e o preço do produto cai bastante. Homem enjoa de qualquer coisa em 30 dias e como no meu negócio o importante é o rendimento, sempre me renovo em busca do novo. Bato asas como uma borboleta”, explica.
3.) Um senhor no portão de minha casa virou uma espécie de cliente. Bato longos papos com ele, mendigo assumido. Não quer saber de outra vida e mesmo tentando mostrar-lhe outras possibilidades, não existe jeito de reencaminhá-lo para um convívio normal (sic). Prefere às ruas e na última vez me traz um livro do escritor Roberto Freire na algibeira. Fico maravilhado com sua leitura, com as anotações que faz e lhe prometo outro do mesmo autor. Ontem na Feira de Troca do Senac encontro o que queria, o “Ame e Dê Vexame” e estou louquinho de vontade de que volte rapidamente ao meu portão para lhe entregar o novo. “Um livro como esse me liberta ainda mais. O difícil para mim é gostei desse e dele já não consigo mais me separar e não sei como procederei se descobrir outros, pois não tenho como carrega-los, minha bagagem é só essa mochila”, me diz. Tentarei lhe repassar outros livros e oferecer uma caixa aqui em casa como local para guarda-los, podendo pegar e levar nos momentos que quiser. 
4.) Moacyr é esposo de minha sogra, um retinto senhor paulistano, que aos 80 anos traz consigo muito do que sempre admirei em Adoniran Barbosa, o amor pelos bairros boêmios da capital paulista. Curte a longevidade com sapiência e hoje anda entristecido com a mãe, 92 anos e entrevada na cama, sem doenças, mas sem forças para mais nada. Ouço dele o que o médico lhe disse sobre a velhice saudável de uma anciã nas condições da sua: “Ele me disse que minha mãe só morrerá por falência de órgãos, quando alguns começarem a pifar, pois ela está senil, na cama, mas com uma saúde de ferro. Tá tudo no lugar, tudo funcionando, mas peças desgastadas pelo tempo e que ela irá definhando pela perda lenta dos órgãos. Chegou nessa idade com tudo funcionando e só irá embora quando a máquina for parando de funcionar, peça por peça”.
5.) Vera Tamião é diretora aposentada de escola e cuida da mãe, acima dos 80 anos, essa padecendo de Alzheimer. Sua mãe sempre foi uma adoradora dos clássicos da MPB, cantou boa parte da vida, mas hoje esqueceu disso tudo. Vera continua insistindo e a leva para passear em lugares variados, como o show no último sábado com a Zezé Motta no Teatro Veritas, da USC. Numa roda me disse: “A trago nisso tudo, mas é triste vê-la acordar amanhã e não se lembrar de mais nada”. Lindo mesmo foi presenciar quando Zezé resolve percorrer a plateia com o microfone e ir repassando para que cantassem com ela trechos de “Chega da Saudade”, de Tom e Vinicius. Nessas coincidências da vida o microfone acaba nas mãos na mãe da Vera e ela canta maravilhosamente trechos inteiros, relembrando tudo para espanto da filha. A música produz causas e efeitos extraordinários na vida das pessoas, esse um deles.
OBS.: Todas as fotos a ilustrar esse texto foram tiradas no show da Zezé Motta em Bauru.

4 comentários:

  1. Bom dia Henrique ! A nossa amiga VERA é um exemplo de vida; de amor e dedicação....Parabéns por esse texto ,pela sua sensibilidade e carinho ao relatar o problema de "Alzheimer" que da Dona Carmem está enfrentando.Mas o amor e paciência da família é um fato Admirável......Bj
    MJU

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  2. Bela história, digna de ser partilhada! Grande lição de vida! Parabéns, Henrique, pela sensibilidade.
    Ana Rebello

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  3. que coisa linda!!!!!!!!!!!!11 emocionante essa história da professora Vera...............
    DULCE LAGRECA

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  4. CLEO E DANIEL DO LOUCO E AMADO ROBERTO...NÃO DOU,NÃO VENDO,NÃO TROCO!
    ROSE BARRENHA

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