quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

MEMÓRIA ORAL (135)

OS EXCLUÍDOS DO MADUREIRA
Madureira Esporte Clube é o nome de um dos times do subúrbio carioca que hoje mais se destacam. O acanhado estádio fica encravado no coração do bairro com o mesmo nome, ao lado do famoso e agitado Mercadão de Madureira, local de maior concentração de lojas, quase uma colada a outra e também a maior quantidade de gente por metro quadrado na zona norte carioca. O Rio de Janeiro já teve times famosos oriundos de seus bairros e hoje quem está em melhor situação e disputando a Série C do Brasileirão de Futebol é esse de colorida camisa. O estádio é também conhecido pelo nome da rua da sede e entrada principal ao complexo esportivo, Conselheiro Galvão.

Na tarde da quarta, 23/02, além do movimento normal, já fora do trivial, devido ao comércio estar agitado com as compras para o período de Carnaval e do reinício das aulas escolares, algo mais agitava a famosa rua. No meio da tarde, 17h estava tendo início uma partida de futebol no campo do Madureira, escrete do subúrbio em campo na segunda rodada do Cariocão de Futebol e justamente contra o time de maior torcida do país, o Flamengo. A movimentação fora do comum já era esperada, mas de uns tempos para cá por decisão da Federação de Futebol do estado não se vendem mais ingressos nos estádios de futebol nos dias de jogos. Eles foram vendidos em vários locais espalhados pela cidade e no local, momentos antes da contenda começar só na mão dos cambistas.

O pequeno estádio possui duas entradas, uma para a Conselheiro Galvão, a principal reservada para os torcedores do time da casa e a do outro lado da rua, sendo quase obrigatória dar uma rápida volta e a passagem por dentro do famoso Mercadão, numa ruazinha de somente uma quadra e desembocando na famosa avenida ministro Edgardo Romeiro. Os flamenguistas chegavam com ingressos e entravam na parte reservada a eles, pois adquiriram tudo antecipadamente, mas do outro lado, um tumulto, invadindo a rua, ladeada pelos trilhos da Central do Brasil. Os ingressos esgotaram-se rapidamente, segundo diziam na portaria e a maior reclamação eram dos representantes da terceira idade, que freqüentam religiosamente os jogos e entram gratuitamente seguindo uma cota estipulada pela Federação. “Para esse jogo não teve cota nenhuma. Nenhum idoso entrou. Foi sacanagem. Campeonato Carioca é sempre bagunçado. Não adiantou vir com documento, nunca havia sido barrado, mas hoje isso aconteceu”, desabafou Francisco Silva, 64 anos, morador do Méier.

Outro torcedor também exaltado confirma algo mais. “Foram vendidos somente 3 mil ingressos, pois o campo é pequeno, mas eles se esqueceram que hoje quem está jogando aqui é o Flamengo. Essa quantidade é pequena demais para a nossa grandeza”, afirma esse torcedor, com um visual de Bin Laden, prostrado na frente da entrada, isolada por barreiras colocadas pela Polícia Militar. A intensa movimentação começou por volta de uma hora antes do jogo começar e na metade do primeiro tempo ainda fervia a rua. Na casa lotérica ao lado, a Tricolor Suburbano e na loja de departamentos Xapie a vida seguia normalmente, mas recheada de gente com as cores do Flamengo e ninguém com a camisa do time do bairro. “Isso não é novidade, pois todo jogo de time grande marcado para aqui é um festa, mas dá nisso”, confessa Teresa Cristina, ela e os seus se abrigando na marquise da Xapie e enrolada na bandeira do time do coração de todos.

A revolta de intensifica quando torcedores percebem o entra e sai de dirigentes do Madureira que saem de dentro das instalações, procurando por pessoas que ligaram para seus celulares e os colocam para dentro, sem necessitar nem de ingresso. “Esse aí saiu umas três vezes, procurou aqui do lado de fora o importantão que o ligou e entram abraçados, o policiamento nem pede nada. E nós aqui chupando o dedo”, ironiza Cláudio Fabrício, um dos que queriam comprar ingressos, mas nem na mão de cambistas conseguiu encontrar. Nisso o Flamengo faz 1 x 0 com Ibson e alguns mais exaltados tentam empurrar a grade de proteção, mas não passam da intenção.
A solução de muitos foi o deslocamento para o interior do Mercadão, espaço inferior, onde uma ampla TV está instalada no hall e alguns dos excluídos, impedidos de adentrar o estádio assistem ali o desenrolar do jogo. Impossível não espiar as  promoções nas lojas ao lado da improvisada arena e em algumas delas o destaque é para as máscaras de Carnaval com a fisionomia da presidente Dilma e do ministro Barbosa. “A da Dilma é mais simples, de papelão, igual do Tiririca, quatro por R$ 1,50 e a do Barbosa custa R$ 2 reais a unidade, de plástico. A outra dele, de óculos encalhou, pois vendida junto com a capa preta sai por R$ 30 reais”, diz a vendedora de uma dessas lojas. No intervalo alguns aproveitam para olhar os preços convidativos do local.

Lá fora o sol, que não saia de forma tão intensa há bem mais de uma semana, arrefecia os ânimos, que pioraram tão logo o jogo é reiniciado e um zagueiro abobalhado do Flamengo comete um infantil pênalti. Um empate não comemorado do lado de fora do estádio, pelo menos do lado da entrada principal do estádio. Do outro lado, torcedores com um bandeirão estendido estavam tentando se animar, mas as vibrações vindas lá de dentro não eram muito animadoras. “Eu queria estar lá, sabia do negócio de ingresso antecipado, mas sempre se consegue um jeito. Hoje não foi possível”, confessa Nelson Galdino, um dos que segurava a faixa, entristecido com a situação de ser obrigado a torcer à distância. Quem ganhou muito com isso foi o bar da esquina, lotado de flamenguistas, mesmo não transmitindo o jogo, pois não havia sinal de cabo em sua TV. Cervejaram durante o tempo todo.

O jogo ficou nisso e nem nos últimos minutos o policiamento arrefeceu e permitiu que os aposentados ou os persistentes adentrassem o modesto estádio suburbano. “Isso aqui tem um gostinho de nostalgia, de campinho do interior, aqueles jogos em campos pequenos, pouco vistos com partidas entre os grandes times. Essa festa aqui é uma vez por ano e tem de tudo, os que inventam uma história para entrar, os que vem fantasiados para aparecerem na TV, os que ao verem câmeras se atiram na frente delas e os que ficam com uma carinha de clemência diante da gente, como que dizendo: Me coloca lá dentro, vai”, relata um policial que ficou o tempo todo junto da portaria e quando tudo acalmou saiu para fora tomar uma água e respirar mais aliviado. Não houve comemorações ao final do jogo, mas para o Madureira tudo ficou de bom tamanho. Até os que queriam porque queriam entrar com os ingressos esgotados já haviam desistido do intento bem antes do juiz apitar o final do jogo. Madureira volta à sua normalidade, no estádio só uns poucos querendo ver alguns ídolos rubro-negros e mesmo assim, ninguém a desfilar pelas ruas do bairro ostentando as cores do time da casa. Nesse quesito só deu Flamengo.

2 comentários:

  1. Parabéns Henrique.

    Enquanto isso:

    Eu, aqui em casa, de molho ( fiz uma cirurgia no joelho esquerdo ) assistia ao assalto praticado contra o nosso "Coringão" que perdeu para a Ponte por 1x0.

    Juizinho ... fp ... só ele viu openalti contra o Timão...

    Mas, para minha alegria, ouvia em meu radinho de pilha ( o trocadilho foi sem querer) a narração de Norusca 4 x Juventus O na voz de Guilherme Dias, comentários de Marco Antonio dos Santos , reportagens de Jota Augusto e informação do plantão esportivo de Tadeu de Brito.
    Norusca deu um baile no "Moleque Travesso" e meteu 4 lindos chocolates.

    Terei oportunidade de veros gols no GloboEsporte na hora doalmoço,

    Por favor, continue a nós brindar com suas descrições histróricas sobre a "Cidade Maravilhosa " e seus locais fantásticos.

    Garoto, sou seu fã.

    Vou encerrar,minha mulher chegou e tenho que, sentado, dar uma forço para ela.

    Valeu "Garoto de Ouro" - ícone da história bauruense.

    Do triste corinthiano,

    Professor Toka

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  2. Minha quase terra natal vivi em Madureira mais de 50 anos,sou torcedor do Madura depois do Fluminense,Henrique,beleza de reportagem.Agora Clube de Futebol,Sindicato,Escola de Samba,Jogo do Bicho e Partidos são todos iguais todo tem donos,são um negócio e mais nada companheiro.
    Abraço
    Eduardo Homem.

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