Mafuá do HPA

MEUS TEXTOS NO BOM DIA BAURU (209, 210 E 211)

DE QUE VALE O FICHA LIMPA? – publicado edição de 04/01/2013.

A Lei da Ficha Limpa é uma dessas que nunca me enganou. Desde o princípio a cutuquei por ver ali um jeito e modo de só incriminar pessoas ligadas aos movimentos sociais, peixes pequenos e pequenas irregularidades. Acham que exagero? Sigam meu raciocínio.No site criado para enaltecer seus benefícios está lá: “foi aprovada graças à mobilização de milhões de brasileiros e se tornou um marco fundamental para a democracia e a luta contra a corrupção e a impunidade no país. Trata-se de uma conquista de todos os brasileiros e brasileiras”. Linda mobilização, linda teoria, mas até agora, um vexame na prática. Isso de impedir político condenado de disputar mandatos é balela, pois eles quase nunca são condenados. Sabem engambelar a lei vigente. Exemplos de gente a driblar sua execução existem aos borbotões e em quase todos a mesma constatação: os políticos que tiveram problemas com suas contas, manusearam mal verbas, misturaram o público com o privado recorrem e com a ajuda de caros advogados conseguiram se safar. Através de liminares assumem mandatos e tudo continua como dantes. Isso já virou praxe. Uma vergonha. Aqui em Bauru um vereador assumiu e vira às costas para a lei, respaldado por decisões sempre jogando tudo muito para frente, conseguindo protelar sine die a decisão final. Na região, os casos são abundantes e o de Marília o mais gritante. Um caso atrás de outro, todos comprovando ser essa mais uma lei, como tantas outras, chegando como “salvadoras da pátria”, mas com o passar do tempo se mostrando meros enfeites, penduricalhos, bolas numa árvore de Natal. E assim sendo já deveriam ter sido retiradas de nossas salas. Serventia nenhuma, por enquanto. Ah, quase ia me esquecendo. Ela tem sim sua utilidade, como apregoei lá no começo do texto. Prende e arrebenta com os menos desprovidos e serve para limpar de vez a ficha suja de alguns grandões, os que o poder econômico local acham importante salvar. Ela está é sacramentando a sacanagem, pois vejo os verdadeiros Fichas Sujas cada vez mais Limpos.

CAOLHO MODO DE ENXERGAR – publicado edição de 11/01/2013.

Isso do José Genoíno ter assumido cadeira de deputado federal tendo sido condenado pelo STF está dando o que falar. Recebo infindáveis e-mails no facebook, fotomontagens com as insinuações disso ser uma aberração, coisa de outro mundo. Primeiro eu me espanto muito, pois vejo que os que mais espezinham não conseguem enxergar nenhum desvio de conduta nos que defendem, mas todos só no oponente. Caolhice total. Quem urina fora do penico é só o adversário, hoje tornado inimigo irreconciliável. Vejo muito de ódio de classe nisso tudo e o mesmo se sucede com a doença do venezuelano Chávez. Leio estupefato o comentário de uma vetusta senhora, professora aposentada e postando o seguinte: “Vai tarde e que leve junto os seus”. Normal isso? Esse pessoal não julga mais nada com imparcialidade. Isso é nítido, uma espécie de doença dominando parte dos internautas. Chamam declaradamente o Chávez de ditador e para esses lanço uma simples pergunta: O que vem a ser mesmo uma ação ditatorial? Na Venezuela existem ou não leis a serem seguidas? Elas o são ou não? Embasbacados não conseguem me responder. Na verdade, muitos nem sabem onde fica a tal da Venezuela. O mesmo acontece no caso Genoíno. Uma turba de insensatos proclama em altos brados da corrupção não ser mais tolerada, que Genoíno é um facínora e daí para frente. Calmamente lhes pergunto: O cara é tudo isso. Verdade? Sabe ao menos dos motivos dele ter sido condenado? Acompanhou o julgamento ou está indo na leva dos que criticam sem saber do que falam? Explique-me o que foi sua condenação? O que é o STF? Pasmem, mas uma ínfima parcela sabe dos motivos e significado da sigla, quanto mais o que faz. Criticam, mas não se informam a contento. Ocorre um “vai na valsa” dos mais insanos. E por quê? Na vala comum guiada por orquestração insuflada pela mídia e “donos do poder”, muitos estão sendo conduzidos sem saberem bem para onde estão sendo levados. Seguem o som da flauta, música que não sabem nem o nome da canção, muito menos o autor. Inocentes úteis.

SINAIS DE RETROCESSO – publicado edição de hoje, 19/01/2013 
O escritor inglês Alan Moore certa feita escreveu um texto de ficção, desses que não me sai da cabeça.O Império Romano desconfiado que numa certa região estivessem sendo cunhadas moedas falsas, envia emissário secreto para averiguar a veracidade do fato. Esse constata tudo e na comparação chega à conclusão da falsa já ser fabricada com maior quantidade de prata que a original. Olha ao redor, predominância da bestialidade humana e cega religiosidade a dominar tudo, reduto de preconceitos, dogmas e atravancamentos.Vê no caso da falsa moeda já mais robusta uma nítida impressão da decadência do Império Romano. É tomado de puro pânico, prevendo que todo o avanço obtido vai ser mais dia menos dia dominado pelo obscurantismo dos que já estão avançando e não pensa duas vezes, diante de tão dantesco quadro, se suicida. O texto é ficcional, não a realidade do pós Império Romano. Anos de puro e absoluto obscurantismo, num retrocesso onde a humanidade perdeu tudo o que existia de avançado com os romanos. A instituição igreja, que agia paralela aos preceitos populares da fé cobriu o mundo com o mando do atraso. O planeta todo poderia hoje estar num estágio muito mais avançado se tudo tivesse ocorrido sem a estagnação patrocinada pela instituição Igreja. Todo o simbolismo existente na estória das duas moedas pode estar se repetindo e com ela a certeza de algo de muito ruim em curso. Percepção essa, após assistir a sessão da posse dos novos vereadores em Bauru. Clima tenso, falsa cordialidade, tudo ali é um constante jogo do forte massacrando o fraco. Se ruim está, dias piores podem estar mais do que encaminhados. A Câmara deteriorada a cada legislatura é sinal do retrocesso a que estamos submetidos, inexorável retardamento político. O que ocorre na aldeia bauruense é um mero reflexo do que acontece no estado e no país, quiçá no mundo, reflexos do sistema político vigente. Ele fracassou, as provas estão aí. Eu não sou emissário de nada, nem me mato por causa disso, mas luto diuturnamente por outro mundo.