quinta-feira, 21 de março de 2013

PRECONCEITO AO SAPO BARBUDO (56)

SUBVERSIVA PALESTRA: LATUFF E O ‘O QUE EU POSSO FAZER’
Carlos Henrique LATUFF dispensa apresentações. Elas estão todas aí mais do que disponíveis via internet. O gajo aportou ontem à noite para uma SUBVERSIVA palestra no Colégio D’Incao e o encantamento que produz junto aos estudantes (sala entupida de gente, mais de 150 pessoas) vem da forma como dá o toque, provoca, instiga e demonstra claramente o quanto estamos sendo ludibriados e o que podemos fazer para reverter isso. A proposta é mais ou menos essa:

“Desde 1990 trabalho com charge e para a imprensa sindical. Quero saber quem daqui fez ou faz parte do movimento estudantil? Ninguém. Hoje existe um avanço muito grande idéias conservadoras e se faz necessário estarmos engajados em algo para reverter isso. Alguém já assistiu o filme Matrix? Sabem o que é a pílula azul e a PÍLULA VERMELHA? É ela que transforma as pessoas, consumam essa. Não caiam na lábia de gente que se utiliza das escrituras para justificar o preconceito. Cada vez mais se fala e escreve contra a homossexualidade e poucos estão reagindo. Os evangélicos não devem ser perseguidos, pois quando pregam algo assim para seus seguidores é problema deles, mas quando expõem isso e querem que todos aceitemos, daí o perigo. Hoje são os gays e amanhã será a esquerda, depois... Hoje os pastores são ponta de lança de um pensamento homofóbico, excludente, preconceituoso e conservador, tudo de ruim. Por que diabos eu tenho que me preocupar com a vida dos outros? Isso para nós aqui é um absurdo, mas lá fora está fazendo sentido. Homossexuais continuam sendo agredidos nas ruas. Nossos pais foram ensinados a serem machistas e hoje o trabalho tem que ser intenso para não fazer o mesmo. Um absurdo os trotes machistas, como o Rodeio das Gordas (Unesp Araraquara), o Miss Bichete (USP São Carlos) e Caloura Xica da Silva e Saudação Nazista (Universidade Federal MG). Isso não tem nada de engraçado, isso não pode passar em branco, estamos no século XXI e já devíamos ter superado o fascismo de nossas vidas. É necessário se levantar contra isso. Eu faço isso através do meu trabalho e cada um pode fazer o mesmo pelo seu. Todas as fobias provem da ignorância. Hoje não tenho religião, pois não quero me guiar por um livro. Depois que você toma a pílula vermelha sua vida muda. Religião só tem sentido se torna sua vida melhor. Fazendo isso, ótimo, mas uma que usa de preconceito e intolerância não serve pra ninguém. Outra coisa é a violência atual contra os estudantes. Antes só com pobre, hoje o pau pega em Chico e no Francisco. Não é possível permitir a criminalização dos movimentos sociais, como os Sem Terra, Sem Teto, etc. William Bonner nunca falará isso aqui para vocês, viu. Eles falam só o que interessa a eles, injetam isso diariamente pela TV e querem que só discutamos o que eles querem. O Brasil é tão atrasado que ainda estamos discutindo reforma agrária. Somos ainda uma imensa oligarquia, nossa política é feita com o princípio básico das oligarquias. Na questão do estudante, veja que o invasor é um cara de fora querendo entrar, só que no caso do estudante a casa é dele, tudo é feito para ele, só existe a instituição de ensino por causa dele e batem nele quando reivindica um algo a mais.  Na questão da terra a mesma coisa. Como se criminalizar movimentos que são justos? Temos que estar sempre atentos nessas questões e repudiar os ataques. Faça uma pergunta para você mesmo: No que eu posso ajudar? Vamos aos movimentos sociais perguntar isso a eles e ajuda-los, não criticá-los. Cuba é outra coisa interessante, pois tudo o que passam para a gente é antes filtrada. Quando se fala em Cuba logo é pensado em atraso econômico, falta liberdade expressão, isso é o senso comum que a TV passa. A maioria das pessoas que são contra Cuba nunca estiveram lá, debatem sem conhecimento de causa. O senso comum deles é ficar batendo sempre em Chávez, Cuba e assim, não mostrando o outro lado, nunca teremos conhecimento real do que de fato acontece. A esquerda poderia fazer o contra ponto, mas ela já não se comunica mais com o povo, mas somente com seus pares. Sabe quem fala hoje com as massas? O pastor. A esquerda não tem que abrir mão do princípio, mas peca por não disputar hegemonia, não fala a língua do povo. O Lula foi eleito como um Chávez, mas deixou de fazer as reformas, mantendo a máquina funcionando com uma pseudo esquerda. Ele representa a força de um símbolo. Ele não forja o falar errado, ele senta com Obama e com os sem terra. Vai de A a Z, só que não trabalha mais para o proletariado. A Dilma além de ser mulher foi presa política, mas a nossa Comissão da Verdade não vale nada. Não tivemos mudança nenhuma. Mas mesmo com tudo isso, a saída continua somente na esquerda, não pense por outra via, pois não ocorrerá. O Brasil, pela sua força pode exercer para toda a América Latina o podere do exemplo. O Brasil se libertando ele levaria consigo toda a América Latina a reboque, porém continuamos com o princípio de um país colonizado. Essa a nossa lógica. Precisamos é de uma outra lógica, pensando o país verdadeiramente como nação. Continuamos oligárquicos. Hoje caminhamos para uma situação parecida com a dos EUA, quando mudam-se os síndicos, mas o condomínio é o mesmo. Aqui isso de só PT e PSDB administrando a máquina capitalista é ruim, pois não tocam no maior problema, o sistema. O Brasil possui uma cara velha e ao invés de construir outra melhor, acaba pintando tudo por cima e por baixo continua tudo a mesma coisa. O sistema político que você tem a sua mãe doente e eles te perguntam se tem cheque para pagar a conta, esse sistema não me serve. São excludentes e não serve para a maioria das pessoas. Esse modelo em que a necessidade das empresas vem sempre na frente da necessidade das pessoas tem que acabar. O princípio que me norteia é transformar esse sistema, destruí-lo, pois o que eu quero nunca será o que o capitalista quer. O mais importante e você sair daqui com a consciência de que é preciso mudar. É a mesma coisa de você ter uma cascavel como animal de estimação, o capitalismo não tem conserto. Hoje uma revolução armada não faz a menor diferença, a sua arma tem que ser a sua consciência. O negócio é levar a pílula vermelha para as pessoas. Chávez fez isso, o povo começou a ter consciência. Trabalho para tirar as pessoas do coma. O importante é fazer e cada um tem que encontrar a sua maneira e fazer. Como vejo a situação do Irã, Síria e Coréia do Norte? É temerário o inimigo do meu inimigo ser sempre meu amigo. Vejo todos ruins, pois o que virá depois é tão ou até pior do que está aí. As nações trabalham com o pragmatismo do Real Politik. Se a Coréia cutuca os EUA eu vou apoiar, isso uma questão estratégica. Se Israel pode o Irão também deve poder ter energia nuclear. Não analiso a geopolítica somente numa visão simplista. Não existem mocinhos nessa história, tem é interesse. Todos os movimentos existentes, como o maoísta, trotskista, comunista, socialista, stalinista, tem seus erros e acertos, mas apontam para o mesmo norte e temos sempre algo em comum. O grande norte hoje é cada um de nós descobrir o seu talento inerente e utilizá-lo na transformação, dar sua contribuição na mudança. Acordar as pessoas do coma, fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que a mensagem transformadora chegue até as pessoas. Vamos encerrar falando sobre a questão das drogas. Ela sempre acompanhou a vida da humanidade e o tráfico só existe por causa da corrupção. Ninguém quer fechar uma loja ou um negócio que dá lucro. Quem fala sério hoje sobre o assunto fala em descriminalização. Penso que a solução passa pela Redução de Danos, ou seja, levar essa questão a sério. O traficante não é guerrilheiro, não quer derrubar o sistema, o que quer é lucrar com o seu negócio. Uma campanha sobre a questão não pode ser feita na base moralista. Encerro esperando que guardem muitas palavras e pensem sempre: O QUE EU POSSO FAZER. Se a realidade aí fora não serve mais para você, como não serve para mim, o que eu posso fazer para mudar isso? Consumam a tal da pílula vermelha. Não existe espaço vazio. Se alguém deixa algum vazio, outro vai lá e ocupa. Vamos lá ocupar esses espaços todos”.

Foi mais ou menos isso, tudo aqui transcrito de uma só talagada, respiração presa. Um soco no estomago dos conformistas e acomodados. Disse a ele no final: “Latuff, você não disse nada de novo, nada do que os mais vividos, como eu, já não sabiamos, mas a diferença é que você faz, põe para fora, faz a sua parte para vivermos num mundo mais justo e a maioria fica guardando para si, não coloca em prática o que acabou de dizer, o tal do O QUE EU POSSO FAZER”. Onde é mesmo que tem essa tal de pílula vermelha para tomar uma?

2 comentários:

  1. Muito bom Henrique.

    Maria Cristina Zanin Sant'Anna

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  2. Henrique

    Acho impossível alguém sair de uma sala onde ouviu isso tudo e continuar sua vida de forma como se nada estivesse acontecendo. Um toque para modificar vidas. Também quero consumir a pílula vermelha...

    André Ramos

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