DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (52)
ESPORTE – ATUAÇÃO DA MÍDIA EM MEGAEVENTOS ESPORTIVOS
Esse o tema de um debate patrocinado pelo CACOF – Centro Acadêmico
de Comunicação da UNESP Bauru, dia 12/06/2013, das 19 às 22h com a participação
dos professores JOSE CARLOS MARQUES, MAXIMILIANO MARTIN VICENTE e HENRIQUE
PERAZZI DE AQUINO. Convidado pelo diretor de Comunicação da Cacof, Pedro
Borges, lá estive e minha apresentação precedendo o debate foi essa:
“Quero fazer dessa minha participação algo com uma
diferenciada conotação. Sendo crítico da atuação da mídia tupiniquim num todo,
como se apresenta hoje, exponho aqui um ponto de vista segundo essa concepção. Vivemos
hoje num mundo cada vez mais assumindo posições conservadoras e favoráveis a
grupos econômicos de poder, colocando em risco liberdades individuais e os
direitos mais elementares, levando a reboque o das minorias. O fundamentalismo
avança, seja ele o religioso, cada vez mais pernicioso e o econômico, cada vez
mais excludente e sempre visando a defesa e falando sempre em nome de um tal de
“mercado”. Tudo em seu e para seu nome. Combato isso e atuo noutra linha.
Procuro em tudo o que faço demonstrar o quanto esses são perniciosos e
perigosos.
O campo esportivo, foco e tema desse debate não foge disso,
pois está inserido nesse contexto. A mídia num todo, a grande mídia, seja a
daqui como a da maioria dos países a dominar o cenário mundial estão
praticamente inseridas nesses grupos de poder. Elas são o próprio poder em
alguns casos. E quando não o são agem como se fossem. Suas ações são todas
voltadas somente com um único e exclusivo intuito, o lucro. Fazem de tudo por
ele, passam por cima de legislações, praticam uma deslavada corrupção, tráfico
de influência, tudo para continuarem lucrando e muito. O esporte, infelizmente
virou um negócio e o denominado megaevento, também foco desse debate idem.
Sendo um negócio, o que mais se vê é o esporte estar submetido às regras do
evento e não o contrário, o evento estar submetido ao esporte. Exemplo simples:
nossos jogos de futebol são hoje transmitidos pela tevê às 22h, um horário
comprovadamente inviável, tanto para quem vai ao campo, como para o trabalhador
que assiste tudo em casa.
Da Copa do Mundo, algo que acredito discutiremos aqui, não
entendo como a cidade de São Paulo precisou construir outro estádio se ali
existe o Morumbi, que com uma reforma básica poderia receber jogos. Quem muda
isso são os interesses e não os esportivos. Lanço uma pergunta. Um país como a
Alemanha ou a Inglaterra se submeteriam a todos as condições impostas pela FIFA
para receber uma Copa, como o fizeram o Brasil e a África do Sul? Eu mesmo
respondo, não. E não é porque já possui estádios bons, porque sei que a FIFA
encontraria motivos para promoção de grandiosas reformas, mas a mentalidade é
outra. Aqui o buraco foi mais embaixo e isso não é culpa do Governo
Federal petista, dos tucanos, dos peemedebistas, dos democratas, etc, a culpa é
de algo mais do que entronizado na nossa cultura, o levar vantagem, o misturar
o público com o privado. Estava semana passada em Salvador BA e acompanhei o
imbróglio entre as baianas do acarajé e os organizadores da Copa das
Confederações e da Copa do Mundo. Não só o estádio está cedido para os
organizadores, mas uma extensa área no seu entorno e lá eles legislam como
querem, passando por cima de todas nossas leis. Mudaram o trânsito de uma forma
que até os taxistas, os maiores conhecedores de qualquer cidade estavam mais do
que perdidos, desorientados. Com muita pressão popular foi revertido a questão
das baianas, pois eles, os organizadores não querem se passar por ruins em
tudo. Ceder os anéis para não perder os dedos.
A questão tem vários detalhes, que depois podemos discutir
mais detalhadamente, mas o importante é algo que tiro disso tudo. A
insensibilidade de quem organiza é monstruosa e tudo visa um só objetivo,
desmedido lucro. Essa insensibilidade graça por tudo quanto é canto. Nossa
constituição garante que as ruas são espaço do povo, mas por exemplo, vindo
para nossa aldeia, Bauru, onde hoje participei hoje de uma Audiência Pública,
pois uma tal de Associação dos Comerciantes do Calçadão proíbe certos tipos de
manifestações artísticas por lá. Proíbe uma e permite outras, tudo ao bel
prazer, passando por cima da Constituição. Tanto envolvendo os mega como os mini
eventos, o que prevalece sempre é o interesse financeiro.
E qual o papel da mídia diante de tudo isso? Percebem-na
espezinhando o sistema que garante isso. Não, pois a mídia se beneficia disso
tudo. Quando não a mídia mantém empresas para organizar eventos. Tudo junto e
misturado, mas só entre eles. Grupo fechado, os menestréis da opulência e da
prepotência. Por tudo isso, enxergo o papel da mídia nos megaeventos como
tendenciosa, pois só notícia o que lhe interessa e de uma forma mais do que perigosa,
pois envolvida até a medula nos mesmos, faz deles meros joguetes ao seu bel
prazer. Eles criam eventos bestas, tudo para auferir lucro e o povo cai na
deles. Meses atrás recebemos o velocista jamaicano, campeão dos 100m rasos para
uma apresentação, uma corridinha na praia, tomando toda a parte matinal da TV
Globo num domingo. Quem patrocinou aquilo, quem lucrou com aquilo? Enquanto
isso, o objeto de minha paixão, o Esporte Clube Noroeste, cujas partidas não
perco e não perderei nem na terceira divisão do paulista, está a mingua. Ele, o
Noroeste, representa hoje o lado B de Bauru, já o lado A, o basquete do
Pasqualotto, reúne o lado empresarial da cidade, patrocínios mil. O interesse
do capital mudou de lado na cidade, mas nunca abandonou a fome pelo lucro. Com isso estou pronto para ser questionado. Obrigado a todos
e todas”.
OBS.: No site da FAAC algo sobre o evento:http://www.faac.unesp.br/#N,627 O debate foi por demais interessante e ao final,
confesso ter saído do local todo pimpão, pois fui rodeado por alunos,
interessados em continuar falando, não sobre megaeventos, mas sobre futebol em
praças de pequeno porte (Itápolis, Jaú, campo do Juventus, futebol varzeano e
José Trajano). Para minha surpresa fui até convidado a contribuir para um TCC a
envolver as histórias populares de Bauru e região. Gostei da experiência.
Olá Henrique,
ResponderExcluirtudo bem? Espero que sim.
Henrique, envio esta mensagem para agradecer, em nome da Atlética, da Febre e do Cacoff, a sua participação no nosso evento acadêmico.
Ela contribuiu e muito para que todos saíssem de lá com interrogações, reflexões e novas convicções sobre o assunto.
Atenciosamente,
Pedro Borges
Diretor de Comunicação
Associação Atlética Acadêmica Unesp Bauru