quinta-feira, 8 de agosto de 2013

CARTA (106)


MAIS DA ESTÁTUA E TROMBADAS COM GENTE QUERENDO FALAR DELA E DO ASSUNTO... E EU, QUE SEM QUERER, VIREI EXPERT NO TEMA
Na quarta, ainda na estrada o celular toca e um amigo me avisa que havia sido detonado na Tribuna do Leitor. Disse para não se assustar, pois não era a primeira vez. Ao aportar em casa, abrir as malas e abraçar a todos de casa, lendo o jornal vi que o bicho não era tão feio como pintado. A carta era essa, “A estátua da liberdade”, e o link: http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=230097. Depois mais essa: http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=230100, mais essa http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=230098. Parei e escrevi essa que saiu publicada na edição de hoje do jornal:

A ESTÁTUA DA DISCÓRDIA

Tomei a liberdade de brincar com a réplica da estátua da Liberdade fincada defronte a uma loja de departamentos, justamente no trevo principal de entrada de Bauru e entregue como presente no seu aniversário. Para os incautos parece um totem, confundido com um portal de entrada da cidade. Portal esse que não temos e deveríamos pensar no assunto.
Um jornalão me entrevistou por telefone, transcrição mal entendida, errou até na função citada, me colocando como membro do Conselho Municipal de Educação, sendo que o disse ser do de Cultura. Gostei do texto deles, mas não sugeri o “em vez da estátua, Aquino propõe que se erga outro monumento, em homenagem a cafetina Eny Cesarino”. Disse que como “contrapartida” poderia iniciar uma campanha para o levante de outra, no trevo anterior de entrada da cidade. Disse também que aquele trevo, mesmo não recebendo o nome dela, já estava mais do que imortalizado na história e para todos os habitantes como o da Eny. Não assinei, não assinarei e nem fui convidado a assinar manifesto algum. Cada um no seu quadrado. Eu contesto ao meu modo e jeito.
A galhofa é sempre bem vinda e a intenção foi essa. Nas redes sociais o termo mais elegante recebido por esse impertinente escriba, acostumado a não levar tão a sério as últimas foi de “desocupado”. Gostaria de poder sê-lo, mas ainda estou longe disso, infelizmente. Eny, guardadas as devidas proporções não difere de muitos possuidores de estátuas, homenageados em placas e láureas com títulos de cidadão. Um é banqueiro, outro doleiro, outra cortesã, tem o investidor, o negociante da Bolsa e tem a cafetina. Tudo vivendo e apostando suas fichas na aldeia onde escolheu viver ou fazer negócios.
No site do jornal o texto é um pouco mais longo que o do jornal impresso e ajuda a dissipar desentendimentos. Por fim, a loja ganhou publicidade gratuita e pelo visto Eny continuará sem sua estátua. Já penso em bolar campanha de outra, a do Pelezinho, não o craque do futebol, mas o serviçal da Batista, merecendo a justa homenagem onde reinou e deitou fama. Dizem que esse meninão sim é que era livre, leve e solto. Que tal?

MEU COMENTÁRIO FINAL: Esse assunto já foi longe demais, mesmo achando que ainda pode render mais alguns esquentamentos. Quero só comentar algo. Hoje encontrei com um arquiteto de Bauru que me disse que anos atrás tomou conhecimento de um projeto feito por um colega, chegando até a cotar preço com famosa artista de Santa Cruz do Rio Pardo para a fabricação de algumas estátuas, uma da Eny sentada numa cadeira, rodeada por um vestidão, ao lado umas quatro lá de sua casa e em cima delas um luz vermelhona focando bem todas. Tudo seria instalado bem debaixo da COPAIBA lá na Getúlio, mas o negócio não vingou por falta de investidores. Fui lhe perguntar dos motivos da copaíba e sua resposta: “Ali era o caminho que todos faziam para ir até a Eny. Era no prolongamento da Getúlio, muito antes dali ser Getúlio”. Faz sentido. Coincidências existem e uma outra pessoa, essa na fila de um banco me diz que viu um projeto na mesa de um conhecido endinheirado da cidade, com um imenso portal para ser fixado em vários pontos da cidade, algo muito lindo e pomposo. Esse sem nada a ver com Eny, mas a ver com a produção agrícola da cidade. Fiquei interessado em divulgar e vou procurar a pessoa dita por ele como idealizadora. Depois, se conseguir, conto tudo em detalhes por aqui. E para encerrar mesmo, a última. Uma jornalista amiga, ainda querendo que insufle a campanha da estátua, quer que produza bottons e revenda para arrecadar fundos e mundos, talvez não para uma estátua, mas para reduzir preconceitos e tudo o mais. Fiquei de pensar.

6 comentários:


  1. Esse negócio de estátua é igual imagem de santo, é conflito na certa. Então vamos lá. Concordo plenamente com o Henrique Perazzi de Aquino, pois a estátua da liberdade é coisa dos novaiorquinos, símbolo/sede do capitalismo mundial e aqui em nossa cidade o papo é outro, se bem que chega em boa hora, mais uma loja de departamentos com a única de intenção de faturar em cima da Grande Bauru e Região felizmente gerando alguns empregos no meio de tantas vacas magras. A gloriosa Eny merece sim uma estatueta em nossa cidade, pois ela fora, sem dúvida, a maior prestadora de serviços de nossa cidade na época do “coronelismo”, gerando empregos e muita diversão aos frequentadores do seu requintado bordel, sendo reconhecida no Brasil inteiro. Muito bem, Henrique Perazzi de Aquino, vamos valorizar as coisas da nossa terra, doa a quem doer.

    Aldo Wellichan

    copiado e colado da Tribuna do Leitor Jc de hoje

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  2. Da Havan para La Havana

    Há um ditado que diz: a mente vazia é a oficina do diabo. Ao ver o movimento de meia dúzia de pessoas que se revoltou contra a réplica da estátua da liberdade instalada num complexo comercial na entrada de Bauru, concluo que o capeta está trabalhando bastante. Chegou-se a passar um patético abaixo-assinado pela retirada da estátua, mas o argumento não poderia ser mais despropositado: aquilo é um símbolo do imperialismo americano.

    Hodiernamente, só o modorrento Fidel Castro e seus simpatizantes, partindo de La Havana, capital embolorada de Cuba e do comunismo, poderiam proferir tamanha estultice. A começar porque a estátua da liberdade não representa o imperialismo; muito pelo contrário, representa a libertação do jugo colonialista do império britânico. Para quem nunca estudou história e fica repetindo asneiras, o monumento foi um presente dos franceses na celebração dos 100 anos de independência americana, cuja luta pela liberdade ceifou a vida de 600.000 homens, mulheres e crianças numa luta desigual entre um povo obstinado e a poderosa armada inglesa.

    Segundo, porque cada rede comercial tem sua logomarca. Aquela, em razão da sua origem, faz uso da Estátua da Liberdade. E daí? E se fosse uma sequoia? Iriam reclamar porque essa árvore não é nativa de nosso país e exigir a substituição por uma muda de Pau Brasil? Se fosse uma réplica da água americana ou condor andino exigiriam a troca por um tucano ou tatu-bola?

    Recordo-me que ainda em tenra idade, quando íamos visitar meus parentes em Lins, a imagem que eu guardava em mente da chegada da cidade era de chaminés feias de algumas fábricas. Para os viajantes que chegam à Bauru, seja o “M” do MacDonald’s, o gorduchinho do Habib’s ou a Estátua da Liberdade, não será o símbolo da empresa que mudará o portal da cidade ou o viés ideológico de origem da marca comercial. Aos nefelibatas da louca intifada, fica a dica: tratem da neurastenia com algo útil para preencher o tempo livre, um trabalho comunitário ou leiam um livro. A mente vazia é a oficina do diabo.

    Ivan Goffi

    copiado e colado da Tribuna do Leitor JC de hoje

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  3. ENY ESTÁ ALI
    9 de agosto de 2013 às 14:48
    O descontentamento de alguns bauruenses com a instalação de uma réplica da Estátua da Liberdade no pátio de um estabelecimento comercial exatamente numa das entradas principais da cidade de Bauru, centro do Estado de São Paulo, causou a fúria daqueles que se sentiram contemplados pela estrovenga verde-Hulk, diante dos protestos dos que enxergaram no objeto uma incauta colonização simbólica do espaço urbano. Com cara de alegoria de parque de diversões, a estátua suscitou por parte do historiador e blogueiro Henrique Perazzi, a sugestão de que fosse substituída por busto alusivo à figura de Eny Cezarino, célebre cafetina que fez história na cidade de Bauru, história essa cujo apogeu se deu entre as décadas de 60 e 80 do século XX. Responsável por atrair poderosos empresários e políticos para a inóspita região centro-oeste do Estado, a famosa cafetina teve, afinal, um importante papel no “des-envolvimento” da cidade. Entenda-se, aqui, des-envolvimento como a relação que transmuta qualquer coisa em mercadoria, a despeito de qualquer ética, sem qualquer envolvimento com os delitos que jazem por entre as dobras do crescimento econômico. Assim, seguindo tal lógica, Eny Cezarino foi uma das mulheres mais empreendedoras e poderosas que a cidade de Bauru pode se lembrar, quer isso desagrade ou não os moradores da “Terra Branca”. Sobre isso, vejamos o que diz Lucius de Mello, biógrafo da personagem em questão: “Ciente do filão que explorava, oferecia aos ilustres clientes o sigilo absoluto de meninas bonitas, elegantemente vestidas, asseadas e regularmente atendidas por um médico, que cuidava, ainda, para que não engravidassem. As moças podiam estudar e eram obrigadas a optar por um, dentre os três perfumes franceses recomendados por madame Eny. Aquelas que vinham de fora eram “orientadas” a trazer seu título de eleitora para a cidade. Acontece que sexo não era tudo que Eny oferecia. Ela fazia campanhas políticas, angariava votos e ajudava a eleger amigos. Por isso, provavelmente, seu bordel era o único instalado perto da rodovia, longe da área reservada aos demais prostíbulos da cidade. Também por sua influência junto às autoridades, sempre resolveu rapidamente todos os poucos problemas que teve com a polícia, como aquele do uísque contrabandeado do Paraguai. Seus familiares sabiam de sua profissão e recebiam mensalmente uma ajuda financeira enviada por Eny. Deles não recebia aprovação e nem desprezo. A exceção era sua avó, Rosa, para quem a neta era filha do pecado e, por isso, nunca mais lhe dirigiu a palavra. O dinheiro de Eny financiava creches, escolas e obras sociais mantidas por irmãs de caridade, tornando-a uma figura pública e apesar do preconceito enfrentado, uma benemérita na cidade. Sobre sua clientela é dada como certa, pelos moradores mais antigos da cidade, a presença de fazendeiros, padres, políticos, o poeta Vinicius de Moraes, governadores paulistas, artistas, presidentes da república e até de um príncipe austríaco, que esteve na cidade, certa ocasião, para instalar uma cervejaria. Apesar do império que construiu, chegando a possuir vinte e seis imóveis, Eny que não teve filhos e foi casada durante muitos anos, morreu pobre e em uma cama de hospital, aos sessenta e nove anos, em 1987. “

    continua

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  4. Após esse breve introito, para apresentar Eny Cezarino aos que nunca dela ouviram falar, retornemos aos argumentos uniformes daqueles que defendem o objeto de fibra de vidro que simula a célebre escultura instalada na Ilha de Manhatann.
    Apoiados no fato de a empresa que abriga a curiosa trapizomba ter gerado cerca de duas centenas de empregos na cidade cuja economia se baseia, essencialmente, no comércio e na prestação de serviços, os pró-estátua acusam os signatários do abaixo assinado que pede a remoção da mesma de desocupados. O que procuramos demonstrar aqui é que os apreciadores do simulacro não levam em consideração que o que os faz idolatrar o ícone da cultura norte-americana é tão somente a lógica do mercado. Lógica essa que deixa de fora o espaço urbano como patrimônio coletivo, a cultura, a arte e a história local. Os empregos, nesse contexto, são mais importantes. Não importa que empregos sejam esses, o importante é consumir em padrões norte-americanos, mesmo que lá o mundo do trabalho esteja tão ou mais sucateado que aqui. Não importa a história dos patrões – mesmo esses tendo sido condenados a 13 anos de prisão por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e sonegação fiscal.
    É curioso observar também que, em nossa cultura machista e misógina, monumentos a generais, torturadores, escravocratas e corruptos nos foram impostos sem que qualquer discussão popular antecipasse a convivência com tais “oferendas”. Ainda que o espaço que abriga a Estátua da Liberdade bauruense seja particular, é isso mesmo que está acontecendo ali.
    Por fim, se a questão fundamental que avaliza a presença do ícone da cultura norte-americana em nosso espaço urbano se apoia na necessidade de empregos em nossa cidade – sejam eles de qualquer qualidade – não nos esqueçamos de que a libertina Eny Cezarino também os promoveu e, queiram ou não os conservadores e falsos moralistas, desempenhou papel importante como relações públicas local, nos moldes do tão cobiçado “des-envolvimento” neoliberal.
    Portanto, os que se ressentiram diante da sugestão do Henrique, gostem ou não, queiram ou não, terão de conviver com Eny. Eny está ali. Ela é a liberdade possível que o mercado, tão generosamente, nos oferece até o presente momento.


    Marta Caputo
    Bauru, 09/08/2013

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  5. E OS COMENTÁRIOS DO TEXTO DA MARTA:

    A Liberdade saúda Eny
    A Liberdade saúda Eny
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    Tatiana Calmon, Cassio Guarani Kaiowá Cardozo de Mello, Jorge Luiz Maskalenka e outras 3 pessoas curtiram isso.

    Henrique Perazzi de Aquino Comido, assino embaixo.
    há 16 horas · Curtir · 1

    Henrique Perazzi de Aquino comovido, digo, assino embaixo.
    há 16 horas · Curtir · 1

    Marta Caputo Comido e comovido, digamos, Henrique Perazzi de Aquino? Movida pelo sentimento de que toda unanimidade é burra, não poderia deixar passar batido o episódio, né? Abração!
    há 16 horas · Curtir

    Henrique Perazzi de Aquino Discussões desse tipo enobrecem tudo o que quis fazer. Quem sou eu para levantar estátuas? No máximo posso dar meu quinhão de contribuição para derrubar algumas. Fico na minha modesta trincheira instigando e provocando. E depois fico me desviando das balas que me atiram. E te digo, tem umas que passam bem perto... Por fim, acho melhor falar de Eny do que de Havan, que acha?
    há 16 horas · Curtir · 2

    Marta Caputo Hang + Vanderlei = HAVAN
    Curioso, né?
    há 15 horas · Editado · Curtir

    Marta Caputo Não me diz absolutamente NADA, ao passo que a história da Eny nos conta muito sobre Bauru.
    há 14 horas · Editado · Curtir (desfazer) · 1

    Euryale Galvao E daí que ela fazia isso ou aquilo com o dinheiro da prostituição, que era generosa e tratava bem as prostitutas... O dinheiro dela era sujo e de origem de uma das coisas mais sórdidas de nossa sociedade... dinheiro de corrupção também é distribuíd...Ver mais
    há 13 horas · Curtir · 1

    Marta Caputo Exatamente, Euryale!
    há 13 horas · Curtir · 1

    Henrique Perazzi de Aquino É que muitos outros, a maioria diria, dos capitalistas que fazem o mesmo não recebem esse tratamento duro: "dinheiro da exploraçãosexual". Poderiam fazer o mesmo: "dinheiro da exploração do homem pelo homem", mas não, com esses ocorre um abrandamento e no frigir dos ovos é tudo farinha do mesmíssimo saco.
    há 12 horas · Curtir · 1

    Adriana Caversan Venda de mulheres x sociedade de consumo
    há 12 horas via celular · Curtir · 2

    Euryale Galvao É mesmo Adriana, ou seja: a bosta X a merda
    há 12 horas · Curtir · 3

    Semlimites Ong Eny a bauruense mais da historia de bauru.
    há 10 horas via celular · Curtir

    Gilberto Maringoni Excelente artigo. Eny é muito mais digna do que o trambolho gringo
    há 7 horas · Curtir

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  6. Sensacional o embate efetuado até o momento nesta
    tribuna tão democrática devido à " ituana estátua" e à
    visita por mim nenhum pouco carismática, e sim como
    à negócios do papa. Como não
    faço uso de qualquer tipo de "coleira", gostaria
    de replicar ao Benedito José de Almeida Falcão e ao
    Daniel Rodrigues Cordeiro, dizendo ao primeiro que não sou
    ignorante como ele diz em seu texto, e ao segundo
    que se sentiu dodói, que respeito sim às opiniões dos
    nobres cidadãos, e emendo de primeira à ambos : Será o "benedito"
    que o "cordeiro" de Deus tira mesmo os pecados do mundo?
    (Aldo Wellichan)

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