O PRIVILÉGIO DE PODER MOSTRAR O OUTRO
LADO DE AGUDOS
Motivos para
visitar Agudos existem muitos. Fui nesta semana até a vizinha cidade por alguns
deles e os conto aqui. No primeiro, talvez o mais sério, motivado por uma
Intimação Judicial feita por três membros da família Octaviani, solicitada pelo
atual prefeito Everton (sobrinho dos demais), o presidente da Câmara dos
vereadores Auro (tio do prefeito e irmão do ex-prefeito) e o ex-prefeito e hoje
quase candidato a deputado estadual Carlos (tio do prefeito e irmão do
presidente da Câmara). A audiência de conciliação ocorreu ontem, quinta, 20/02
no Fórum de Agudos, motivado pelo fato de ter citado em um dos meus textos pelo
blog Mafuá do HPA e pelas redes sociais algo assim: “Falemos também do que ocorre nos bastidores da Prefeitura de Agudos,
reduto do império octavianista. (...) Crueldade a olhos vistos”. Acusado de
Danos Morais estou tendo que justificar a questão “imperial” e das “crueldades”.
Lá
compareço, eu, meus dois bons amigos advogados, José Hermann e Gilberto Truijo,
acompanhado de dois também bons amigos, que quiseram me acompanhar nesse
primeiro imbróglio, Duílio Duka e Marcos Resende. Em poucas palavras informo
que, lá compareceram os três acusadores, acompanhados de três advogados do escritório MB Misquiati & Bahia. Para
solucionar e encerrar o assunto, a proposta de minha parte foi a de oferecer
espaço dos mesmos meios aonde escrevi, um natural Direito de Resposta. Ali
poderiam se defender e é claro, dentro do espírito democrático que a todos nos
une, teriam réplicas e tréplicas, comprovando o que sempre prescrevo, ninguém é
absoluto dono da verdade, mesmo que assim o queira impor. Mas, os acusadores queriam
mais, e a singela sugestão deles era a de que eu fizesse uma Retratação.
Entendi isso como pegar uma folha de papel e lá escrever que sou mesmo um
retardado, que nenhuma crueldade existe em Agudos, por parte de quem
administrou ou administra a cidade, concluindo também, por entender como algo
mais do que natural, membros da mesma família estarem no poder há 16 anos e que, provavelmente dentre dois deles (um
deles estará inelegível no próximo pleito) sairá o nome do sucessor do atual
mandatário.
Disse que o faria, mas ao meu modo e jeito, o que não foi
aceito. Para eles, o que eu fizesse teria que passar pelo crivo aprobatório dos
três e dos seus advogados. Entendo que isso tornaria a contenda um ato interminável
de queda de braço, com esse HPA escrevendo algo e não sendo aceito como
retratação. O conciliador (não foi o juiz a nos atender e sim, um conciliador),
diante do impasse, descreveu não haver acordo e deu continuidade ao que na
esfera judicial recebe o nome de início
da instrução processual. Diante disso, um dos meus advogados disse-me algo,
considerado por mim como o que de melhor poderia ouvir naquele momento tenso: “Estaremos
daqui para frente diante de um momento histórico. Tudo poderia ter sido encerrado aqui, sem traumas
para todos os lados. Preferiram ver expostas as tais das ‘crueldades’ citadas por ti. Você será pioneiro em mostrar
publicamente e expor isso, um outro lado da cidade de Agudos, um comentado por
muitos, citado em muitas matérias na imprensa regional (nunca na local), porém
ainda não difundido. Esse apanhado geral mostrará em detalhes a existência de
algo desconhecido ou que a maioria finge desconhecer. Agudos ganhará com essa
exposição”. Entendi nessa manifestação uma espécie de missão jornalística, a de
fazer valer os preceitos da liberdade de expressão, não denunciando de forma
grosseira, mas comprovando de forma prática e inconfundível o que expus em duas
linhas. Não me furtarei de fazer isso, pois esse foi o caminho escolhido por
eles, quiseram que assim procedesse e assim o será.
Agudos não é, e nunca será eternamente governada somente
por membros da família Octaviani, disso tenho a certeza. Isso ainda pode perdurar
por algumas décadas (toc toc toc), talvez anos, mas chegará o dia em que alguém
sem qualquer tipo de ligação com eles assumirá novamente o poder. A tal
democracia vivida por nós clama por algo assim, é do seu preceito básico a
alternância do poder, não só de nomes de uma só família no poder, mas também de
outras cabeças e grupos políticos, outra orientação, posturas diferentes, etc.
A oxigenação política pregada pelo tal do “estado democrático de direito”
prescreve isso como condição sine qua non
de sua existência. Para iniciar o que denominei no título deste, como “privilégio”
em poder mostrar esse outro lado agudense, saímos dali e os cinco escudeiros
fomos todos até um dos redutos oposicionistas e de resistência na cidade, o
Alternativa Salão, do militante do PSB, o cabeleleiro Enoque Antonio de Morais,
reunindo em seu pequeno espaço uma verdadeira trincheira de representações judiciais
contra a ação justamente da cidade de Agudos desde que comandada por um dos três membros da família
Octaviani.
Foi-nos
entregue um calhamaço de documentos, representações variadas de verdadeiras “crueldades”
cometidas contra o município, matérias publicadas em vários órgãos de imprensa
demonstrando que a normalidade apregoada não é assim tão normal, propagandas
feitas de forma excessiva, etc e
tal. “A defesa começa a ser construída baseada nesses fatos concretos. De elementos
como esses sairão o irrefutável embasamento comprovando que o que disse não tem
nada de ofensivo, muito menos provocativo e sim, somente de uma crítica
concreta e justa a algo que precisa e merece ser verificada e investigada”, foi
algo que ouvi dentre os presentes. Enoque não se cansa de mostrar documentos
protocolados junto aos órgãos competentes da Justiça local, cobrando desses,
ação imediata de possíveis irregularidades constatadas por ele. “Acabo de
voltar da promotoria. Agendei para a próxima quinta o protocolo de mais cinco
documentos nesse sentido. Eu faço a minha parte e não deixo passar sem
uma cobrança em cima do que acho irregular e injusto. Tenho tudo o que fiz e o
que farei bem organizado, tudo protocolado. Minha ação é assim, concreta. Não
fico falando sobre o que vou fazer, vou lá e faço. O resultado é pouco divulgado
e conto contigo para melhorarmos isso”, me conta. Leiam isso dele: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search?q=enoque.
Enoque não é
único no que faz, existem outros bravos resistentes, nadando contra a maré.
Cito o nome de dois, João Lucio Balduzzi Pereira e Ronaldo Cesar Barbosa de
Matos, insistentes e corajosos no que fazem, de forma crítica, apontando os
erros e as mazelas de algo ocorrendo na cidade pouco entendido ou pouco
explorado. Junto a ele a ação de um bravo bauruense, Elias Brandão, que anos
atrás conseguiu por sua iniciativa fazer valer que o cargo criado por Carlos
Octavianni, o de gerente da Cidade, estava acima do de prefeito e a Justiça acertadamente
o extinguiu. Dias atrás estavam eles todos reunidos e informando a população
dos reais motivos dos atrasos na entrega das casas, quando da desapropriação do
conjunto habitacional Minha Casa Minha Vida. Ali algo de muito cruel estava em
curso e foi desconstruído pela ação desses bravos questionadores da real
situação do que de fato acontece na cidade. O salão do Enoque é uma espécie de
para raios de tudo isso. Muita coisa é ali levada, instigando-o na continuação ode
sua desmedida luta, a de mostrar que tudo não é assim tão belo no momento atual
vivido. Num espaço circundado por pôsteres demonstrando onde busca luz e inspiração,
fotos de Che Guevara, John Lennon, Raul Seixas e Jimy Hendrix, são suas fontes
de energia, inesgotável diria. “Não o conhecia e saio daqui encantado. Toda
cidade precisa de pelo menos uns três ou quatro Enoques. Ele é o perfeito
cidadão, faz mais do que toda a Câmara de Vereadores juntos no papel de
fiscalizar o Executivo”, me diz Duílio Duka.
Como
apregoado no início desse texto, nem tudo são lamúrias em Agudos. “A cidade
está bonita, fruto de uma arrecadação invejável e conhecida por todos. Do lado
visual, elogios, mas precisamos confrontar isso com o outro lado, o citado pelo
Henrique”, me diz Truijo. Antes da partida de volta para Bauru sugiro a todos e,
prontamente aceito, visitarmos a Dra. Jaqueline Josephs Naranjo, a médica
cubana designada pelo Mais Médicos para atuar na cidade. Enoque nos diz que seu
expediente é até às 13h no Posto Saúde local, e que está hospedada no hotel na
praça central. Lá nos informam que ela mudou para um novo conjunto
habitacional, num prédio nas imediações do Hospital. A localizamos por volta
das 17h, ela estava em seu apartamento, prontamente desceu ao saber da visita
de bauruenses e ficamos todos envolvidos por sua agradável conversa. Uma pessoa
muito simpática e um desmedido amor por sua
pátria, afinidade de pensamentos e ideias, com o que o governo de seu país está
fazendo. Em nenhum momento conseguimos nenhum de nós, chamá-la de “doutora” e
nem por isso a desrespeitamos. Pelo contrário, ela nos deu belas lições de
cidadania humanitária.
“Amo minha
pátria, sei de suas dificuldades. Essa minha segunda atividade fora do país. Já
atuei na Venezuela por alguns anos. Essa questão do salário é algo de mínima
importância. Cuba é um país pobre e para poder continuar executando com brilhantismo essa ação
humanitária mundo afora, necessita da ajuda do seu povo. Parte do meu salário é
usada nisso, na manutenção desse sistema educacional, o de saúde, o transporte
gratuito com a compra dos maquinários e recursos necessários para a
continuidade do atendimento à população cubana. Lá os meus, meu filho que tanto
adoro e que voltarei a vê-lo só nas minhas férias, possuem todo o básico sem
qualquer custo. Para manter isso, esse meu trabalho no exterior é necessário e
fazemos isso com orgulho e sem maiores problemas”, me conta. Marcos Paulo,
militante comunista, reflete conosco sobre as desistências ao programa: “Justificável
que muitos cubanos que não vivenciaram o que foi o período anterior à Revolução
Cubana, nasceram depois e já dentro do governo de Fidel compreendam pouco o que
foi um passado de privação. Mesmo com toda educação, a contrainformação é muito
grande e cada ser humano reage de um jeito. Na medida em que alguns cubanos
tomam conhecimento do que de fato ocorre fora da ilha e levam essa informação
para os que estão vivendo no país, na confrontação, estarão cientes de que o
que vivem, mesmo com as tais privações é muito melhor em relação à grande
maioria dos do lado de fora”.
Ouvimos atentamente o relato de Jaqueline, e de sua tristeza
inicial, por saber ter que trabalhar isolada, somente ela representando o Mais
Médicos na cidade. Isso tudo foi sendo amortizado com o passar dos dias, o
apoio dos funcionários, seus colegas de trabalho, superiores na Secretaria
Municipal de Saúde e, principalmente, no que fez questão de reafirmar várias
vezes, na resposta dos pacientes e da população. “Hoje não tenho mais dificuldade
em entender o que me dizem. Entendo tudo, talvez um pouco de dificuldade ainda persista na minha forma
de expressão. Em pouco tempo,
tudo estará resolvido. Até minha solidão inicial está se dissipando. Hoje sou
convidada por pessoas variadas para ir a suas casas, festas e almoços. Os pacientes
tem sido ótimos, procuro ouvi-los muito, entender o que de fato precisam e essa
troca tem sido agradável, acredito, para ambos os lados. Moro sozinha desde que
sai do hotel, tenho computador, mas não tenho internet. Leio muito e sei que
estou sendo útil. E quero muito conhecer essa professora de música cubana que
mora em Bauru”, nos diz.
Na despedida a troca de telefones e alguns prováveis
convites, alguns para o Carnaval, que infelizmente não ocorrerá de nenhuma
forma em Agudos; outros, talvez, para um contato com Rosa Tolon, a professora cubana
de piano, residente em Bauru e um algo mais, a sua vinda no próximo domingo
para a última festa antes do Carnaval do bloco “Bauru sem Tomate é MiXto”,
quando poderá ter contato com algo em torno da maior festa popular brasileira.
Saímos todos de lá, cientes que algo estará se iniciando a partir do que foi
decidido no Fórum local, e alegres por ter a certeza de que na imensa maioria
dos médicos envolvidos no Mais Médicos, pode ser exatamente como o vislumbrado
na doutora Jaqueline: pessoas cordiais, corretas, dignas, cientes do que fazem
e do posicionamento que precisam ter nesse momento, diante de tudo o que estão
encontrando pela frente. Nos três momentos: o do Fórum, com a ratificação da
riqueza em poder demonstrar a existência de outra Agudos; a do reencontro com o
resistente Enoque e pela oportunidade de poder conhecer a médica Jaqueline. Tudo
isso junto e misturado, nos dão a entender que nem tudo está perdido nesse
rincão varonil. Vivenciamos esse outro lado do Brasil, um que caminha pelas
suas vicinais e atalhos e disso faz sua trajetória.
Henrique
ResponderExcluirDeixa eu te contar uma coisa.
Em primeiro lugar torço demais por você.
Conheço um pouco de Agudos, tenho parentes bem próximos morando lá.
Você está no caminho certo e se está sendo processado por ter chamado eles de maldosos, nada melhor do que reunir tudo o que já saiu na imprensa, os processos todos, esses documentos que o sr Enoque protocola lá com a promotoria da cidade e será isso, o grande baú de maldades finalmente exposto para conhecimento geral de toda a cidade.
Aproveite bem essa oportunidade e faça um calhamaço grosso, com o máximo de coisas que juntar. Não terão como não dizer que o ali reunido não seja maldades.
Tenho certeza que uma coisa vai te acontecer daqui para frente. Preste bem atenção nisso. Muita gente vai se aproximar de você, de uma forma ou de outra e te passará informações preciosas, material e documentos importantes. Tem muita gente lá e mesmo em Bauru esperando essa oportunidade para divulgar e expor coisas guardadas.
Se for levar todas as maldades esse será um dos mais grossos processos da história de Agudos.
Rara oportunidade mesmo.
Parabéns pela coragem em não desistir e se deixar vergar.
Paulo Lima
prezado amigo.
ResponderExcluirParabéns pela atitude. GOSTARIA DE SABER QUAL A decisão judicial que foi prolatada.
OS prolegômenos são inerentes. Houve decisão? qual foi?
Esperando que tenha sido favorável ao restabelecimento da liberdade de opinião e da punição dos maus administradores.
A luta contuna, companheiro
Abraçitos cariocas
Paulo Humberto Loureiro - Rio RJ
Parabéns Henrique pela tua coragem, por fazer valer essas lindas palavras “DEMOCRACIA E LIBERDADE DE EXPRESSÃO ” que te confesso, não acabo de entender como são compreendidas aqui: falas o que pensas e podes ser processado, dizes o que pensas e muitas vezes terminas excluído. Será que elas existem mesmo aqui?......
ResponderExcluirSobre a médica cubana, será um prazer conhecê-la.
ROSA.
Henrique
ResponderExcluirConcentre-se no que tem que fazer e não haverá como julgar não sendo maldades o que temos visto por aí sendo feito.
André Ramos