BEIRA DE ESTRADA (35)

BIOGRAFIA NÃO AUTORIZADA DO LADO B DE BAURU (06)
RUTH DO AMARAL SAMPAIO, A ELEGÂNCIA EM PESSOA*
Texto sai publicado edição de maio do jornal mensal Metrópole News, dos amigos Vinicius e Borika Burda.

Quando Vinicius Burda me convidou para escrever em seu jornal mensal, escolhi fazer homenageando pessoas ilustres de Bauru, mas pouco lembradas pela mídia. Fiz mais, brinquei lá no título com o fato de produzir um perfil não autorizado a cada mês, uma espécie de surpresa para alguém em destaque. Por fim, optei por num mês fazer um perfil de um homem e noutro de uma mulher. Na sequência, esse mês criei um problema para mim mesmo, pois estava com três ideias, todas magníficas mulheres, cada uma atuando num campo diferente, distintas ações, mas que no frigir dos ovos algo similar. Todas divinais, maravilhosas e daí resolvi de uma forma bem simples, preferi agraciar com a escrita do mês a com mais idade.

Ruth do Amaral, ou simplesmente dona Ruth é uma negra retinta, pessoa das mais simpáticas da cidade e a irradiar algo tão em falta, uma elegância natural, inerente à sua pessoa, fluindo no modo simples de tocar sua vida. Num contato rápido, algo chama a atenção, o jeito peculiar nos gestos e ações. Ao vê-la me veem imediatamente na lembrança a imagem de duas grandes damas negras, Clementina de Jesus e Ivone Lara. São da mesma estirpe, do mesmo calibre e postura. Rute construiu essa imagem e a registrou ao longo dos anos.

Veio de uma família simples da vila Seabra, trabalhando por 26 anos como doméstica, lida dura e diária, sem trégua. Foi quando organizou a Associação das Empregadas Domésticas de Bauru, obtendo apoio de vereadores da época, como o falecido Isaías Daiben, Penna Jr e Rui Bertotti. Nunca deixou de militar politicamente, inicialmente no PT e depois no PMDB, sua marca registrada. Quando deixou de trabalhar para a família Salmen, prestou concurso de merendeira e foi atuar na Prefeitura de Bauru, sendo a seguir cedida para trabalhar no Conselho Estadual da Comunidade Negra.

Nunca abandonou suas origens e constantemente esteve ligada a ações no Clube Icaraí, além de participar de grupos de teatro amador. Em 1993, ajudou a fundar o Conselho da Condição Feminina e depois no CIAM - Centro Integrado de Atendimento a Mulher, onde atuou de forma decisiva. Sua vida toda esteve ligada a movimentos populares e sociais. Candidatou-se por três vezes à vereança (uma pelo PT e duas pelo PMDB).

Aposentada, continua sendo vista nos mais diferentes lugares, sempre com a mesma disposição e elegância. Rute dignifica a luta de qualquer movimento. Reparem como circula por todo lugar com o maior esmero no visual, impecável vestimenta e uma fala condizente com a postura, uma original “lady”. Perde só a compostura quando diante de arbitrariedades, daí a transformação em verdadeira leoa, uma verdadeira rainha diante de todos nós.

Vários prêmios dão destaque para os do meio empresarial bauruense, um outro famoso premia os destaques do esporte. Vez ou outra a ACIB, o CDL, o CPC do CIC, SERASA, entidades patronais e dos donos da grana estão elencando aqueles que mais gastaram, os que mais investiram (sic), os que mais lesaram e até os que mais demitiram. Daí uma lista de nomes de Destacáveis. Em algumas dessas listas um embutido jabá pago pelos laureados. Isso mesmo, o homenageado em alguns momentos paga para ser homenageado e participar das festas e receber seus troféus. Tudo vale, tudo é permitido. O que não vale é ficar de fora e não aparecer na foto e na divulgação que sairá espalhada por aí, essa também pagando. Sempre o laureado arcando com as benesses que fará jus. Os nomes se repetem, ano sim, ano não, o que foi uma vez, será novamente e se não foi nesse, não pode arcar com as despesas, ano que vem pagando retornará ao topo e tudo continuará maravilhosamente entre esses.

Uma escolha bem diferente faz o Conselho Municipal da Comunidade Negra de Bauru agraciando alguns com o PRÊMIO LUIZA MAHIN, instituído pela Lei Municipal nº 5051, de 07/11/2003. As indicações são feitas pelos próprios conselheiros e aprovadas nas reuniões da entidade. Tudo ocorre entre os seus membros, que se reúnem e definem os nomes de algumas pessoas da cidade que se destacaram pela dedicação no combate ao racismo, pela construção da cidadania, promoção da igualdade e valorização da cultura afro-brasileira nas mais diversas áreas, seja profissional, artística, cultural, social, religiosa, etc. Ano passado foram doze os laureados e ninguém precisou pagar nada, só ir lá e numa solenidade simples, coletiva, receber um CERTIFICADO. Dentre eles, RUTH DO AMARAL SAMPAIO é uma das agraciadas e talvez uma das mais justas homenagens. Ela merece isso e muito mais.

Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História.