quinta-feira, 31 de julho de 2014
MEMÓRIA ORAL (165)
UMA MINEIRA FERVEU BAURU POUCO ANTES DO SEU ANIVERSÁRIO - OU DE COMO UMA NOVIDADE ALTERA A ROTINA DE PARCELA DE SEUS HABITANTES
Toda vez que eu vejo essa minha Bauru enfurnada com as modernidades, ou nem isso, com tudo o que ocorre nos grandes centros, chego à conclusão de que somos mesmo uma cidade como outra qualquer, completamente inserida no contexto do aqui e agora. Por esses dias constato por histórias ouvidas, relatos feitos no pé do ouvido por gente que não quer se identificar e nem esse escrevinhador o deseja revelar, daí o motivo do texto ser todo escrito sempre no subjetivo, mantendo ocultos seus personagens. A história é verídica e isso basta, merece o relato e sua revelação, pois essa reveladora de um algo mais desses tempos atuais. Vamos aos fatos.
A prostituição que nessa cidade teve um ápice nacional com dona Eny Cesarino, sempre esteve em evidência, mesmo que alguns insistam em tentar colocar um pano em cima de sua indecência (sic). Tudo o que rola lá, rola aqui e isso foi constatado quando tomo conhecimento da história de um rico personagem desse mundo quase oculto, bem diante de nossos olhos, mas pouco conhecido. Os travestis não são mais novidade para ninguém em Bauru. Nas ruas só dão eles. Se alguém ainda me dizer onde estão as prostitutas nas ruas da cidade, me informem, pois não as vejo mais e faz tempo. Esses tomaram as ruas e são vistos hoje nos mais diferentes lugares. A famosa avenida, portão de entrada da cidade, Nações Unidas está tomada de cima em baixo, tendo oferta para todos os gostos e preferências, com os de custo mais alto até os quase de graça. Quem é do ramo e gosta da coisa sabe o que procura e onde encontrar o produto dentro de sua faixa de possibilidades.
Escrevo de uma top do meio travesti, uma dessas bem produzida, corpo todo remodelado e de fazer inveja a qualquer mulher (pelo menos no impacto visual). De uns tempos para cá, para desespero das locais essas tops invadiram também as médias cidades brasileiras em passagens curtas, tipo rodízio. Fazem assim, uma delas vem para Bauru, se hospeda num hotel, faz anúncio nos sites de programas, nos endereços virtuais conhecidos e diante do oferecido, arrebatam muita grana. Fervem o metiê, ou seja, incomodam as prestadoras de serviço local, pois a clientela desses desaparece e a da novidade dá picos de audiência, ou seja, de frequência e utilização. Quando tudo começa decair vão para outras poaragens. Algo assim já ocorre em Bauru faz um certo tempo e nos últimos dias o ápice disso me foi relatado e devidamente anotado, sendo agora transcrito.
Uma dessas, mineira, corpo escultural e segundo a informação corrente com um contundente instrumento de trabalho, maior do que a média existente no mercado esteve instalada num hotel na cidade. Tudo foi ocorrendo na medida em que a notícia correu entre os que elas chamam nada carinhosamente de “mariconas”, aqueles que gostam da coisa e gastam com elas além da conta. A procura, dizem, foi tão intensa que a dita menina esteve obrigada a ter seguidos orgasmos diários, de seis a oito dia. “Os caras me pagam e bem, não posso decepcionar. Se nego fogo, podem escrever algo depreciativo de mim nos fóruns do ramo e isso denigre minha imagem, daí quero sempre ser bem vista e faço o que me pedem”, são palavras dela e reunidas por mim, através de quem me relatou sua saga na cidade.
Ela disse a esse intermediário o que de fato ocorreu e aqui tento transcrever o ouvido sem promover alterações que distorçam o ocorrido. Aqui um breve resumo. “Eu não me faço de rogada, algumas iguais a mim não atendem os telefones privados. Eu não, atendo a todos e aqui percebo que todos cumprem o prometido. Eles vem ao meu encontro. Em todas as cidades você tem que pagar para trabalhar nas ruas. Ninguém trabalha de graça ali, cada ponto é de propriedade de uma pessoa e para ali trabalhar é necessário pagar uma diária. Isso no mundo todo. Em todo o lugar que circulo pago a diária para não criar problemas, mas atendo mais no próprio hotel ou em motéis. Pode notar algo, todas essas que viajam de um lugar para outro, como eu, que comecei bem novinha, temos fotos bem produzidas, todas em estúdio. No nosso meio não vale a improvisação e o meia boca. Estamos num meio onde a primeira impressão é a que fica”, diz.
Pelo burburinho causado no tal hotel, diz a lenda que as camareiras do local ficaram impressionadíssimas com o nível das pessoas circulando pelo local e causou espanto a boniteza de alguns dos que ali estiveram para se beneficiar dos préstimos da mineira. Quando chegou ao hotel ali estavam hospedadas algumas mulheres, todas de fora e com a mesma prática, ou seja, o rodízio de oferta de novidade na cidade, mas tiveram que ir-se rapidamente, pois após a chegada da tal mineira, nada mais lhes sobraram. Isso dito pela própria. Disse mais, que em certos dias, com bom movimento de clientes já chegou a arrebanhar algo em torno de uns R$ 4 mil reais, mas sente-se feliz quando consegue depositar diariamente por volta de uns R$ 1 mil e tanto, já descontados todas suas despesas diárias.
Sim, as despesas parecem ser altas. O visual é tudo nesse negócio e para manter a aparência sempre impecável, o algo mais é mais do que necessário, diria, obrigatório. Salão de beleza, indispensável e quase diário. “Já penso em retornar para uma clínica e reerguer meus seios, retocar o bumbum, readequar o quadril, deixar as pernas mais roliças e tudo isso custa muito. Quero fazer até o final do ano uma nova cirurgia de raspagem da testa, tornando-a mais feminina e isso vem desde o couro cabeludo até a altura dos olhos. Já fiz várias e ao primeiro sinal de que algo não me agrada, paro tudo e refaço para me manter onde estou”, são suas palavras.
A ilustre visitante disse muito mais e arrebanhou até mais do que imaginava na cidade. São experts em viagens, técnicas na exposição do produto oferecido e tudo fazem para agradar a clientela, cada vez exigente. Muito mais me foi dito, porém pouco anotado, numa capa detrás de uma revista (único papel encontrado no momento). A história me despertou o interesse em torná-la pública desde o primeiro momento em que a ouvi e na pressa onde me encontro, vejo que algo mais preparado poderia ter sido feito. Não o consigo no momento, porém serve como belo exemplo da inserção de nossa aparente pacata Bauru em tudo o que rola por aí mundo afora. Sabe aquilo de que, tudo o que existe de bom e de ruim por todo o planeta sempre tem um cadinho por aqui na nossa aldeia? Esse só um dos exemplos, não podendo eu mensurar se isso do relato é bom ou ruim, pois para isso, se faz necessário analisar o interesse do interlocutor, o quanto isso o incomoda, o quanto isso o movimenta e outros quetais.
Algo dos mais interessantes dentro do relato ouvido foi como a modernidade chega nesses lugares mais rápido do que se imagina. Ela, segundo me foi relatado, recebe sempre em espécie pelos serviços prestados (e sem decepção, como já aqui relatado), mas abre só uma exceção na forma de pagamento efetuado. Anda dentro da bolsa de trabalho, circulando para cima e para baixo com uma potente e sempre atuante maquininha de cartão de crédito e débito. Sim, ela recebe também por cartão e dependendo do valor combinado aceita também o pagamento parcelado. Fiquei curioso em saber qual o nome que sai identificando a compra, mas isso não me foi informado, porém como sei que a discrição nesse meio é a chave do negócio, deve sair o nome de alguma firma fácil de ter justificado o gasto quando houver questionamento sobre isso junto a algum órgão fiscalizador dos gastos do dono do cartão.
Não sei informar se a mineira foi-se de Bauru ou se ainda continuar a alvoroçar a clientela de Bauru. Tive que me ausentar da cidade e portanto, não fui a fundo (sic) sobre esses pormenores do texto agora apresentado. Mas, pelo que fui informado e repasso aqui, não deve ser motivo para desgostos e descontentamentos, pois o rodízio de oferta e procura no ramo está mais do que estabelecido. Vai-se uma, vem-se outra e assim por diante. Por afim, algo mais também relatado e quase passando batido por esse escrevinhador. Ela revelou que certa vez um cliente havia juntado dinheiro por meses, tudo em pequenas moedas, notas baixas e lhe pagou dessa forma, igualzinho ao ocorrido no filme da Bruna Surfistinha. Ficou tão contente com a cena, lhe proporcionando um atendimento vip, assim como sua pessoa. E disso gostei muito, pela sensibilidade de reconhecer o esforço pessoal daquele fã para estar junto dela por alguns instantes. Gente assim rende sempre boníssimos relatos. Tentei produzir um, mas na correria acabou saindo um pouco diferente do que pensava. Compreendam, o que vale é a intenção.
OBS.: Texto escrito em homenagem a mais um aniversário da cidade de Bauru (as fotos e a ilustração são meramente ilustrativas).
Aqui é assim. Não se pode ser crítico e querer escrever de tudo que já te confundes. Aceitaria tudo se viesse postado corajosamente com a identificação da gajo, mas não, quando algo é feito anonimamente, de forma ofensiva e sem nenhum tipo de identificação, ao estilo provocativo, EXCLUO sem pestanejar.
ResponderExcluirFoi o que fiz com um comentário nesse estilo.
Henrique - direto do mafuá
Acho interessante as vezes, quando converso com alguém fico a imaginar... O que será que tem aí escondidinho. O principal. Texto perfeito. Adorei!
ResponderExcluirLÊ Baptista
Essa da maquina de cartões foi ótimo kkkk assim não tem desculpa e até divide bem esperta, bom texto bjus HP
ResponderExcluirLarissa Aguiar