quinta-feira, 3 de julho de 2014

RELATOS PORTENHOS (11)


DUAS SITUAÇÕES RURAIS - PROPOSTAS PARA UM OLHAR DIFERENCIADO, ÓTICA INVERTIDA
Quero debater aqui hoje dois temas ao mesmo tempo, talvez tudo junto e misturado. Duas matérias jornalísticas no diário Página 12 e com algo sobre nosso tempo, uma bem diferente da outra, mas com pitadas do non sense dos tempos atuais. Vamos a elas

:
HISTÓRIA 1 – Um grande produtor rural, desses que seu nome está todos os dias nas colunas sociais, TVs, político consumado, discurso conservador, neoliberal e quando numa investigação de algo sobre como conduz seu negócio, as entranhas da sua rotina de trabalho, descobre-se isso por debaixo do tapete: http://www.pagina12.com.ar/diario/economia/2-249182-2014-06-23.html. “Trinta e oito anos em condições de exploração – Os peões rurais que trabalhavam para a família Etchevehvere, diretor da Associação Rural, contam como era sua situação funcional – Sempre trabalhamos por algumas moedinhas”, deu no jornal em 23/06. Sabe aquilo de por fora bela viola e por dentro pão bolorento? Esse é o caso aqui exposto e em andamento uma investigação ocorrendo no país vizinho, a Argentina, mas muito bem pode estar se repetindo por todo o território brasileiro. O capitalismo provoca isso assim sem mais nem menos, sem dó e piedade, ou seja, o dito empreendedor que ganha os tubos, investidor de bolsas variadas, político e força viva de algum rincão vive dentro do status social de sua classe, todo pimpão e andaluz, viajando mundo afora, gastando os tubos, exposto aos holofotes do bem-bom sem se importar o mínimo com os que estão sob o seu jugo, ou seja, os assalariados sob o seu manto. Enxergam os males nos outros, nunca os seus próprios. Sempre que a voz de um desses se levanta e os ouço bradando algo em tom impertinente, penso em como seria o tratamento que os mesmos praticam com os seus funcionários. Fico com uma vontade incomensurável (quase incontida) de verificar caso por caso, mas não tenho pernas para tanto. Fico sempre só na vontade. Não seria descoberto o mesmo que lá na Argentina na maioria dos casos por aqui? Pergunta sem resposta.


HISTÓRIA 2 – Um pequeno povoado, que por algum motivo teve sua população saindo dali em busca de outras paragens, permanecendo umas 80 pessoas no lugar e daí um grupo tentando reavivar o interesse pelo retorno, tudo através de atividades culturais: http://www.pagina12.com.ar/diario/sociedad/3-249113-2014-06-22.html. “O povo que renasce ao som da música – Uma cidade esquecida nos pampas, 250 km de Buenos Aires, onde 76 pessoas resistem – Um grupo tentando repovoar com música o vilarejo (orquestra com 30 músicos) e a motivação para a criação de empregos”, deu no jornal em 22/06. Isso ocorre em Dennehy e está causando comoção em muitos, mais do que uma simples motivação em busca de uma vida mais saudável, aprazível e salutar. Um lugar quase abandonado, sem motivação para nada e a partir de um click, o algo novo, o motivador transformador. Penso em lugares nos arredores de Bauru como Tibiriçá, Jacuba, Nogueira, Guainás, Guaricanga, Vanglória, Santelmo e tantos outros. Quando me deparei com essa matéria foi inevitável a lembrança desses lugares nos arredores de Bauru e o que podemos fazer por eles, não para que adentrem esse pega pra capar do lado de cá, mas integrando-os de uma forma mais salutar, preenchendo a vida de seus habitantes com novas possibilidades. Eu adoro, por exemplo, bebericar num vilarejo ou mesmo um botequim rural e seria um encanto mostrar para mais e mais pessoas os atrativos de cada lugar, despertando interesses de alumbramento ainda não existentes.

São os meus temas de hoje. Convido todos e todas para uma esbelta e magnânima reflexão...

3 comentários:

  1. Henrique

    Boa sacada esse sua.
    Difícil o grande produtor que não cometa barbaridades no seu reduto, escondidinho de todas as leis trabalhistas, mas quando diantedos olhares da mídia, se passem como verdadeiros anjinhos. Que bom seria se pudessemos saber dos segredos guardados a sete chaves deessestodos.

    Aqui onde trabalho vejo isso ocorrendo a todo instante. Visito propriedades agrícolas por causa do meu trabalho e vejo muito, mas não posso e nem devo falar nada. Questão de sobrevivência.

    Paulo Lima

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  2. Henrique
    Quando li você escrevendo dessas cidades pequenos aqui em volta de Bauru e também dos pequenos distritos, lembrei de minha infância, quando ia muito para Jacuba, onde sempre tive tios. Via aquela pequena vila definhar cada vez mais e hoje sei que muitas casas estão abandonadas, muitas fechadas e sem nenhuma utilização. Fui ver o texto desse jornal argentino e vi o mesmo acontecendo aqui junto a nós. Quantas pequenas estações de trens aqui pertinho não morreram com o fim dos trens de passageiros. Lembro de Nogueira, uma aqui pertinho de Pirajuí. Lá tinha até pequenas fábricas, barracões que viviam cheios de gente e hoje o que nã oestá abandonado já foi derrubado. Não existe coisa mais triste que isso. Mas o que fazer para revolver tudo e dar vida para esses lugares? Não sei. A iniciativa dos argentinos é boa, mas precisamos de gente, muita gente interessada nisso e não vejo o mesmo acontecendo por aqui. UMa pena.

    André Ramos

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  3. Respondo aos três:

    Paulo Lima me apresenta algo que já imaginávamos. No mundo onde o ganhar cada vez mais é incentivado, alguém precisa ganhar cada vez menos, daí... Não é novidade nenhuma a sacanagem com o menos desprovido. Quando uma voz conservadora dessa se alevanta, seria o caso de buscar ver se ele é o santo que quer nos fazer crer.

    André Ramos cita Jacuba e quando olho para lá, também Nogueira, o mesmo olhar do vilarejo argentino. Cidades fantasmas ou quase isso. Daí quando vejo a tentativa de um restaurante em Guainás como boa iniciativa (já fechado), a do restaurante do Polaco em Pouso Alegre de Baixo, lá em Jaú, atraindo gente aos borbotões nos horários de almoço e nos finais de semana naquele minúsculo distrito, ambas como boas iniciativas de redescobertas desses lugares, mas não únicas. Um algo mais em prol dos que moram nesses lugarejos precisa ser pensado e executado. pensemos todos juntos em alternativas.

    Roque Ferreira é preciso na informação sobre a estação de Nogueira e de tantas outras, todas praticamente inviabilizadas após a privatização. Meu irmão mais novo nasceu numa, em CApim Fino, região de Mineiros do Tietê, quando meu pai lá atuava na estação existente naquele lugar. Hoje nada mais existe, nem um só tijolo e em seu lugar cana em fazendas de propriedade da família Sbeghen. Essa rotina vejo em tantas outras. Mas e naquelas que ainda resistem com seus prédios mantidos e algum movimento de gente no local. O que fazer? Difícil solução.

    Baita abracito do HPA em todos
    Henrique - direto do mafuá

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