quinta-feira, 11 de setembro de 2014

OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (63)


UM REBELDE DO FUTEBOL, A SITUAÇÃO DOS PEQUENOS DO INTERIOR E OUTROS TANTOS REBELDES – O FILME “OS REBELDES DO FUTEBOL”


Não me canso de fazer citações dos atuais textos do Afonsinho, craque da bola (não consigo escrever ex, pois a idade chega, mas craque sempre) e agora também nos escritos semanais na Carta Capital, na coluna semanal de futebol da revista, a Pênalti. Como é sabido aqui na região, Afonsinho tem laços eternos com Jaú, onde não só jogou pelo XV, como mantém muitos parentes por lá (em Bauru ele tem os primos morando na rua Julio Prestes e outro dono da livraria Sapiência). Daí o vejo citando quase que toda semana nos seus textos Jaú e o seu XV em lembranças inenarráveis. No dessa semana mais uma e dessa vez quando lembra o XV, impossível não fazer uma comparação com tudo o que ocorre em quase todos os tradicionais times do interior paulista. A petição de miséria é quase absoluta. Leiam abaixo parte do relato do querido e sempre libertário, verdadeiro rebelde da bola que de passagem por Ribeirão Preto, dentre tudo o que viu por lá, destaca “o que de melhor o esporte pode trazer: a amizade”. Foi além e tocou no ponto nevralgico:

“Na oportunidade de escapar até Jaú, um novo mergulho nos altos e baixos deste momento do nosso futebol. O XV na Quarta Divisão do Campeonato Paulista ajuda a entender os descaminhos que estamos trilhando. Vasco, Botafogo, Palmeiras, Bahia, Santa Cruz e outras potências do nosso futebol naufragam, mergulham e emergem nesse mar de procela, para lembrar o poeta. O velho ’Galo da Comarca’ tem uma bela história e muitas vezes foi um bom lugar para os profissionais de futebol trabalhar. Jogado no fundo da Quarta Divisão, faz sofrera a torcida apaixonada, desencontrada”.

Eu queria tanto discorrer sobre os sofrimentos todos, não só do XV, mas também do meu Noroeste, do São Bento, do América de Rio Preto, São José, Juventus, Comercial, Francana, União de Araras, Ferroviária, São Carlense, Marília, Novo Horizontino, XV de Piracicaba e tantos outros, que fizeram história e estão hoje nesse negócio doloroso do “cai, sobe”, instabilidade total e absoluta, entregue a administrações espúrias, juntando-se a isso a Lei Pelé e hoje esse universo de especuladores da bola, os tais empresários, gananciosos e pensando só em seus bolsos e nem um pouco no dos clubes. E a maioria desses times (não só de SP, mas do país todo) tendo como dirigentes esses empresários à frente de sua administração. Daí, sem solução, pois se trata da raposa cuidando do galinheiro. Os clubes todos se fumbicaram de verde e amarelo. Vou perturbar o velho Afonso (barba e cabelos brancos, como eu) daqui pra frente com nossas histórias e com pedidos para que ele reproduza lá na revista, revirando essa atual situação do futebol brasileiro, onde ninguém se entende, podendo daí desembocar (toc toc toc), no denominado por ele de “podridão que pode desabrochar em primavera”. Quero ouvir dele como enxerga uma solução para a sobrevivência dos times do interior.

Afonsinho é de uma geração onde frutificaram alguns libertários da bola. Cito-o e depois dele aqui no Brasil (Afonsinho jogou nos anos 70, Sócrates nos 80), SÓCRATES (esse sou obrigado a escrever em letra maiúscula). E enquanto escrevo desses dois brasileiros, impossível deixar de lembrar de um filme, o REBELDES DO FUTEBOL, com a história de cinco jogadores da bola, Sócrates (Brasil), Didier Drogba (Costa do Marfim), Carlos Caszely (Chile), Rachid Mekloufi (Argélia) e Predrag Pasic (Bósnia). Além de serem habilidosos no esporte, eles também foram capazes de resistir e lutar contra a ideologia política que dominava em cada um dos seus países. E além da história de Sócrates, o documentário é muito bom também por contar a história do atacante chileno Carlos Caszely. Em plena ditadura ele teve a coragem de não apertar a mão de Pinochet. Ele sofreu várias retaliações por isso e foi um dos principais nomes a encampar na TV a campanha pela redemocratização do Chile. Veja a sinopse: “Dir. Gilles Perez e Gilles Rof, 92 min, cor, HD, França, 2012: Quando o futebol se torna socialmente responsável! Longe do brilho e do glamour, Eric Cantona conta a história de jogadores de futebol que resistiram. Num tempo em que o negócio do futebol parece corromper nossa relação com o esporte, o indomável Eric Cantona está despertando consciências através do caminho traçado por jogadores que se opuseram ao poder e que se tornaram ícones da resistência, além de se destacarem pela suas habilidades no esporte”. Vejam o trailer clicando a seguir: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-209727/trailer-19538110/. E aqui o filme inteiro já legendado: https://www.youtube.com/watch?v=4X0gx2jDlpo

Mas porque quis eu juntar isso dos rebeldes da bola e os problemas do futebol? Respostinha fácil. Esses rebeldes são totalmente contrários à comercialização do produto futebol como ele ocorre hoje em todas suas instâncias e a proposta para solucionar os problemas no dito esporte bretão é bem outra. Passa, é claro, pela rebeldia (em falta hoje) a tudo o que está vigente hoje. AFONSINHO SEMPRE SERÁ UMA BOA LIDERANÇA PARA OS NOVOS E NECESSÁRIOS TEMPOS, TUDO PARA MUDAR O ESTADO ATUAL DAS COISAS.

Um comentário:

  1. Hoje, após escrever esse texto fui me lembrar de uma famosa frase do Juca Kfoury pro Sócrates, percebendo que ele já estava mais do que desencantado com tudo à sua volta: "Você já ligou o foda-se, não é Magrão?". Magrão já tinha mesmo feito isso, assim como tantos outros e daí tudo desce ladeira abaixo mais rapidamente. Depois me lembrei de uma frase do ex-diretor de futebol do Corinthians, dessa época retratada pelo filme, Democracia Corintina ele dizendo algo meio que impesável pelos dirigente de futebol atuais e sobre como estava vendo o comando no futebol de sua época: "Não sei como é correto, mas sei que não é desse jeito". E por fim, o que disse o Cantona, personagem forte, com aquele corpanzil e vozeirão de impressionar, sobre esses males todos dentro do mundo do futebol: "Porém é preciso matar as urtigas. As vezes as urtigas estragam todo o resto". O futebol brasileiro está a cada dia que passa indo mais ladeira abaixo.

    Henrique - direto do mafuá

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