segunda-feira, 13 de outubro de 2014

RETRATOS DE BAURU (164)


RONALDO DORME CADA DIA DEBAIXO DE UMA MARQUISE DIFERENTE - ELE E TANTOS OUTROS INVISÍVEIS DO CENTRO DA CIDADE

A história dos conhecidos invisíveis do centro da cidade de Bauru pode também ser contada pelos comerciantes e comerciários, ou mesmo pelas pessoas circulando regularmente por aquele quadrilátero. Hoje ao parar para um papo com um comerciante e diante de dois dos ditos invisíveis, buscando juntar a féria do dia junto aos motoristas que ali paravam seus carros na rua Antonio Alves, semáforo com a avenida Rodrigues Alves, tomo conhecimento de como se dá a rotina desses e de tantos outros. Quem convive diariamente com eles ali diante dos seus olhos, conhecem suas rotinas, sabem diferenciar bem como age cada um deles, etc etc. Papo revelador, mas nada muito diferente do que os próprios olhos conseguem alcançar vendo-os diariamente em simples passadas de carro. Eu converso com todos, puxo papo, me contam isso e aquilo, desconfiam, se abrem, choram, riem e até quando abro minha guarda um bocadinho mais, pedem além do que posso dar. Nada posso fazer além da conversa quase diária com tentativas de encaminhamentos, mas na maioria das vezes, a tristeza de ir acompanhando com o passar do tempo a deterioração a cada reencontro.

RONALDO TADEU DO CARMO acaba de voltar de São Paulo, onde tentou passar uns dias junto de familiares, que o rejeitam. Com 51 anos, negro, paulistano do Itaim Paulista, vive em Bauru há aproximadamente uns dez anos, desde que saiu do sistema prisional, após cumprir integralmente sua pena. Vivia maritalmente com a Ana (Patrícia da Silva Menezes, me diz), também mendiga, até o momento em que juntos foram atropelados ali na avenida por um ônibus. Ela não sobreviveu, ele sim, com um agravante, mais um problema em sua perna esquerda, agora com uma platina e um inchaço que não some de jeito nenhum. Manca muito, o que não o impede de ir de carro em carro parados no sinal e pedir ajuda. “Muitos nem abrem o vidro, mas outros me dão roupa, comida e os trocados”, me diz chegando com uma garrafa de Coca-Cola ganha naquele momento. Moraram juntos na rua Araújo leite, quando o dono de um imóvel os deixou ali tomando conta, até o momento em que precisou dele e ambos voltaram a viver nas ruas. Ela piorou, vivia no ar e ele, após a ida da companheira, hoje mora na rua. Um restaurante ali no quarteirão, o Gostinho Caseiro guarda suas sacolas durante o dia e a noite ele as pega e vai procurar um lugar para dormir. Essa a rotina de Ronaldo, enfiado nessa vida e sem saber como fazer para sair desse moto contínuo. “Eu não tenho mais como arrumar emprego e muitos desconfiam por causa de minha antiga situação”, resume tudo. É dessa forma que vive.

Mais dos invisíveis da Antonio Alves x Rodrigues Alves:
Semanas atrás Ricardo Carrijo me informa que a pessoa de quem havia escrito um texto aqui em 21/07/2014, “Maria não perambula mais, agora ela vagueia pelas ruas” havia falecido. Primeiro, a controvérsia dela ser ou não aposentada. Ronaldo, seu companheiro de rua me diz que não, mas que estava em vias de conseguir (“não deu tempo”). Depois, algo que me embaralhou mais a cabeça. Uma confusão de nomes e de pessoas. Ronaldome diz que quem morreu foi sua companheira, a Ana (também chamada de Patrícia) e que a outra, Maria (?!?), está internada e vivia com outro mendigo também ali da região. Tento entender, mas as faces deles todos ainda embaralham minha mente. Já não sei quem é uma e quem é outra pessoa. O fato é que hoje, quando parei para prosear ao vê-lo de volta após um período sem notá-lo na região. Estava em São Paulo e nem sei como fez para voltar, mas o fato é que está de novo nas ruas e cada dia debaixo de uma marquise.
Quem também não sai dali e divide ponto com ele é o Pirulito, que também já foi Personagem Sem Carimbo, esse mais conversador, diz que sua situação também não está nada boa e que esteve em vias de quase morar na rua. Possuem tanta afinidade que um diz que se melhorar de vida leva o outro para morar junto dele. Fico um tempo conversando com eles, os vejo circulando de carro em carro, papeio com comerciantes do lugar, a maioria amparando-os, mas sem dar total liberdade (“se der eles abusam, aí não saem mais de dentro de nossas lojas”, me diz um deles). As fotos refletem uma das esquinas de Bauru, só uma delas. Na seguinte tem outras histórias muito parecidas, depois outras e mais outras. A maioria conhecem e fazem um belo de um roteiro nas noites bauruenses, sabendo em quais dias são distribuídas sopas, lanches, pratos de comida, lanches e afins. Dessa forma vão vivendo ao seu modo e jeito. Vou retratando e conversando, conversando e retratando sem saber direito como dar o tratamento adequado para tudo o que vejo e tomo conhecimento.

2 comentários:

  1. Boa tarde Henrique, sei que gosta de boas matérias e , talvez essa seja uma. No final da Moussa Tobias já chegando no braço da Rondon,tem uma barraca armada, coisa de uns dois meses, bem no canteiro entre as pistas, com um sofá na frente, Sempre que passo vejo alguém lá, não sei se sosinho ou família, confere , acho no mínimo intrigante.

    abraços

    João Neto

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  2. comentário do facebook:

    José Eduardo Avila Ronaldo eu conheço desde os ano de 1990 quando chegou oriundo da casa de detenção de são paulo para aqui cumprir o restante de suas reprimendas no entanto sempre foi educado e disciplinado quando em liberdade começou a trabalhar no entanto optou em morar nas ruas, sua companheira ana se jogou em baixo de um onibus ali mesmo na quadra ao lado da praça rui barbosa e assim caminha a humanidade...
    13 de outubro às 20:00 · Descurtir · 3

    Antonio Guerra Conhecido por nós comerciantes, como baixinho, não dá trabalho nenhum, fica na dele.
    13 de outubro às 20:01 · Descurtir · 2

    Giselle Pertinhes meu brother....mts conversas....
    13 de outubro às 20:14 · Descurtir · 1

    Henrique Perazzi de Aquino Ávila, isso mesmo, um cara sem problemas, hoje chorou relembrando sua história e o desamparo da família.
    13 de outubro às 20:42 · Curtir · 1

    Marcelo Madureira Henrique Perazzi de Aquino, ele foi vizinho de minha casa por um bom tempo, quando ele e mais alguns invadiram uma casa abandonada, sujeito tranquilo e de bom coração, na época por diversas vezes a família veio busca-lo mas esse se recusava a ir com eles.
    13 de outubro às 22:22 · Descurtir · 1

    Fatima Brasilia Faria Ele é meu freguês ou eu a dele....
    13 de outubro às 19:52 · Descurtir · 2

    Sergio Henrique Henrique · 8 amigos em comum
    De fato o baixinhu é gente boa , ja a falecida mulher dele foi atropelada pous estava drogada naquele dia me recordo bemmm desse episodio, entre seus devaneios obtidos pela droga , ela se jogou frente ao onibus. Agora qto a mara, que perdeu as faculdades mentais relatado aqui anteriormente, soube que se jogou de uma ponte , cometendo o suicidio , lamentavel , pois tal tb era de coração bommm.
    13 de outubro às 22:05 · Descurtir · 2

    Henrique Perazzi de Aquino Que fins horrorosos para duas mulheres. Ronaldo chora ao rever isso tudo. Quem sabendo disso tudo não para lá um bocadinho e o ouve, dá-lhe atenção.
    13 de outubro às 22:22 · Curtir · 2

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